Adversidades de clima prejudicam lavouras de café

Café Point |Clipping Cooxupé

Com a chegada do frio, ocorreu queda das folhas nas lavouras de café. Segundo o engenheiro agrônomo Silvio Luís de Almeida, as baixas temperaturas causaram em maior ou menor intensidade a queima e/ou amarelecimento das folhas mais novas dos ramos e queda das folhas sadias, sem o menor sinal de pragas e doenças. “A queda é maior no lado da linha de plantio em que incide o vento”.

Ainda de acordo com o engenheiro agrônomo, como o frio coincide também com a estação seca, nas lavouras de formação nova, ou situadas em solos com menor capacidade de retenção de água, ou mesmo aquelas com alta produção, ocorrem deficiências nutricionais, como de nitrogênio e fósforo, induzidas pelo stress hídrico, aumentando a perda das folhas. Caso a queda esteja associada ao ataque de fungos, é aconselhável o uso de fungicida para tentar minimizar os danos.

Mas enquanto algumas regiões sofrem com a diminuição das folhas nos pés de café, a colheita nem acabou e o agricultor Wagner Palmeira, de Machado, já nota a florada antecipada da próxima safra. As flores previstas apenas para setembro já chegaram em 10% da lavoura. Isso devido à chuva fora de época, ocorrida durante três dias em julho, quando normalmente é estiagem.

O comum seria falta de água durante um período mais acentuado, gerando stress para que a planta chegue ao ponto de murcha. “Quando chega meados de agosto ou início de setembro, ter chuva de intensidade média a grande, provoca a produção de hormônios que dá a florada”, explica o agrônomo José Pinheiro Lourenço.
Ainda na colheita deste ano, os apanhadores de café devem ter cuidado para não arrancar os brotos e comprometer a safra futura. Caso isso não ocorra, certamente a colheita do ano que vem vai começar mais cedo. “Terá um percentual muito pequeno de frutos maduros em março. Vamos colher 10% e deixar 90% do café verde na árvore”, disse Palmeira.

O excesso de chuva pode acarretar ainda a mudança no sabor do café. As lavouras estão carregadas de frutos, resultado da chuva que ficou acima da média, ano passado.
A colheita que estava prevista para iniciar em maio foi atrasada cerca de dois meses porque o café não estava no ponto de ser colhido. E, mesmo assim, ainda há grãos verdes no pé junto à nova florada.

Como as máquinas não separam os grãos verdes dos maduros, o recurso é usar o trabalho manual. Assim, a apanha que deveria terminar em três meses, leva o dobro do tempo. Além disso, se puxar todos os grãos de uma vez, ocorre a quebra de muitos galhos.
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O que acontece, então, é que o café verde misturado ao maduro interfere diretamente no sabor da bebida. Consequentemente, intervém no lucro do produtor: quanto menos qualidade, menor o valor agregado à saca do produto. O ideal é fazer uma nova seleção dos grãos. Entretanto o cafeicultor esbarra novamente na questão “dinheiro”: o custo impede este procedimento.

Mas, por outro lado, a falta de produtos de qualidade pode beneficiar os produtores do Brasil que investiram na garantia da propriedade do grão. Maurício Lima Verde, vice-presidente da Comissão Nacional do Café da CNA, disse que o exterior está precisando de café. “Os estoques estão baixos, assim como no Brasil. Mas com certeza haverá influência na parte econômica da receita do café”.

Na bolsa de Nova Iorque, o café natural está cotado a R$ 315, para o tipo seis, enquanto o cereja descascado vale R$ 400. A previsão é de preços firmes por quatro safras. O reflexo no Brasil pode ser um efeito cascata no crescimento econômico das regiões produtoras.

Marlon Braga Petrus, trader na Cooparaíso, aconselha o produtor a negociar enquanto o valor é remunerador para o custo de produção. “É importante estar atento às previsões do mercado que se divide em dois cenários: o primeiro é manter as vendas na expectativa de que as cotações permaneçam em elevação. Mas, por outro lado, ele pode segurar seu produto e correr o risco de o mercado cair. Aí não terá suporte financeiro para programar próxima safra”.

Como o mercado está em constante processo de alta, as estimativas sugerem que os estoques mundiais de cafés de qualidade estejam reduzidos pelos próximos cinco anos. A intenção é manter os preços acima dos custos de produção por pelo menos quatro safras. 

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