Introdução
No passado, a garantia de boas safras dependia exclusivamente da exploração de terras novas, recém-desmatadas e ricas em matéria orgânica, ou da adubação orgânica para manutenção/recuperação da fertilidade das terras de cultura, com incorporação de estercos, restos de culturas, adubação verde e outros materiais orgânicos.Os antigos lavradores diziam que o adubo orgânico tornava a terra fresca, fofa e fértil. Na agricultura dita moderna, o solo tornou-se apenas uma base de sustentação das plantas, levando-se em conta apenas a adubação química para a produtividade.
Se por um lado os adubos químicos e agrotóxicos permitiram um aumento rápido dos índices de produtividade, por outro causaram impacto ambiental violento, afetando os recursos do solo e do meio ambiente e uma péssima qualidade de alimentos, com índices de toxidade muito acima do permitido por lei.
Novo caminho para agricultura
É necessário ter uma visão holística na agricultura, entender que existem uma infinidade de fatores que influenciam na produção de alimentos saudáveis. É necessário desenvolver técnicas agrícolas menos agressivas ao homem e ao meio ambiente. É necessário rever a técnica atual e revitalizar o solo, tornando-o principal fator de produção agrícola.
A matéria orgânica contida no solo influencia de forma significativa na atividade biologia e nas propriedades físicas e químicas do solo.
Ela é a base de sustentação de uma intensa atividade biológica que envolve muitas espécies de microrganismos, como: fungos, bactérias, actinomicetos, algas e protozoários, além de pequenos animais como minhocas, insetos, ácaros e aranhas.
Assim, o solo fértil pode ser comparado a um organismo vivo, onde as raízes das plantas cultivadas encontram condições físicas, químicas e biológicas favoráveis para se desenvolverem sadias e vigorosas. Com o uso exclusivo de adubos químicos, o preparo constante do solo e a prática de deixá-lo limpo (sem qualquer tipo de cobertura vegetal que o proteja da insolação direta) o índice de matéria orgânica do solo reduz consideravelmente.
Portanto é de grande importância a adoção de técnicas de plantio que preservem ou aumente os teores de matéria orgânica do solo.
O adubo orgânico é uma excelente opção, não somente por seus benefícios à natureza como também a redução de custos, uma vez que nossos gastos com importação de insumos e fertilizantes se tornam cada vez mais altos. O Solo
Do ponto de vista agrícola, o solo é o substrato onde ocorre desenvolvimento do sistema radicular das plantas cultivadas permitindo a sustentação e nutrição das mesmas.
A composição física de um solo com boas condições de cultivo é:
– Minerais: 45%
– Ar: 20/30%
– Água: 20-30%
– Matéria orgânica: 5%
A parte mineral é constituída de cascalho, areia, argila, óxidos de ferro e alumínio, carbonatos, fosfatos, macro e micronutrientes.
O ar e a água ocupam os poros do solo. Durante a chuva a água preenche os espaços dos poros. Posteriormente, após a drenagem, o ar volta a ocupar parte do volume do solo.
É importante observar que os solos cultivados no Brasil possuem, de modo geral, percentuais baixos de matéria orgânica (entre 1 a 2%). Além disso, a temperatura e umidade elevadas que predominam nos períodos de cultivo aceleram o processo de decomposição da matéria orgânica. Importância da Matéria orgânica
A matéria orgânica tem um papel importante na fertilidade do solo. Este papel é complexo e exercido por diversos mecanismos que atuam nas propriedades físicas, químicas e biologias do solo e na fisiologia do vegetal.
Durante a decomposição da matéria orgânica, por ação microbiana, há formação de Húmus e os nutrientes (sais minerais contendo macro e micronutrientes) nela contidos são gradativamente postos em liberdade (de forma orgânica imobilizada para forma mineralizada) transformando-se em formas aproveitáveis pelas plantas.
A associação da adubação orgânica com a mineral proporciona ao solo fertilidade superior à adubação exclusivamente orgânica ou mineral.
Adubo Orgânico
Adubo Orgânico é todo produto proveniente de corpos organizados, ou qualquer tipo de resíduo de origem vegetal, animal, urbano ou industrial que apresente elevados teores de componentes orgânicos, compostos de carbono degradável.
Quando degradado e aplicado no solo, estes resíduos e componentes resultam em altas porcentagens de carbono orgânico e outros elementos essenciais como Nitrogênio, Fósforo, Potássio, Cálcio, Magnésio etc. Além dos nutrientes básicos, este tem efeito de amplo espectro, agindo também nos mecanismos físicos e biológicos da terra, indo muito mais além da ação puramente química dos fertilizantes industrializados. O húmus do solo é resultado da atividade biológica sobre a matéria orgânica na presença de nutrientes e água. Na natureza é um composto estável, que pode permanecer por vários anos, se não for degradado pelo manejo inadequado.
A capacidade de revitalizar o solo, proporcionada por um bom adubo orgânico, vem do húmus vivo que é gerado através de um processo complexo envolvendo diversos microrganismos benéficos que vão restabelecer e potencializar o equilíbrio biológico do solo.
O processo de decomposição é contínuo (nunca para de acontecer), por isso deve-se repor periodicamente a matéria orgânica consumida pelos microrganismos dos solo. Descrevemos a seguir alguns processos importantes diretamente relacionados à matéria orgânica: Estrutura e aeração do solo
A atividade microbiológica melhora a estrutura e aumenta a porosidade do solo. Isso ocorre devido a liberação de compostos orgânicos que agregam partículas de minerais (grumos). Outros organismos como insetos, aranha e minhocas, também são importantes para aumentar a porosidade do solo. Além de água e nutrientes, o sistema radicular das plantas precisa respirar para crescer e desenvolver novas radicelas.
Quando respiram, as células das raízes absorvem o oxigênio e liberam gás carbônico. É através dos poros do solo que o oxigênio chega até as raízes e o gás carbônico volta para a atmosfera. Em solos com pouca porosidade, as raízes não se desenvolvem adequadamente por falta de oxigênio e acúmulo de gás carbônico.
Capacidade de retenção de água
A matéria orgânica humificada influi diretamente na capacidade do solo armazenar água. Em média o húmus em capacidade de retenção de água acima de 600%. Alguns solos cultivados podem armazenar o dobro e água quando o teor de matéria orgânica passa de 1,5% para 3,0%. Por isso plantas cultivadas em solos pobres de matéria orgânica estão mais sujeitas a sofrer stress hídrico. Capacidade de troca catiônica (CTC)
É uma propriedade dos solos que consiste na capacidade de retenção, na sua camada superficial, de cátions (íons de cargas positivas) de nutrientes, principalmente potássio, cálcio e magnésio, para disponibilizá-los gradualmente, em forma de troca com outros cátions, para as plantas, evitando que esses nutrientes sejam carregados pela água para camadas mais profundas do solo (lixiviação), fora do alcance das raízes das plantas, otimizando assim as adubações minerais e a calagem.
Esta retenção depende diretamente da quantidade de matéria-orgânica e argila, onde predominam as cargas negativas presentes no perfil do solo. Na estrutura molecular do húmus existe disponibilidade de várias cargas negativas que permitem a ele funcionar como um “imã”, criando em torno de si uma película de cátions, que serão posteriormente trocados com as raízes de as plantas. De modo geral, a CTC dos solos cultivados no Brasil está abaixo de 15 me/100 g e a CTC do húmus em torno de 300 me/100 g.
Relação Carbono/Nitrogênio (C/N)
A velocidade de decomposição é influenciada principalmente pela relação dos teores de carbono e nitrogênio contidos no material orgânico (relação C/N).
Fontes de matéria orgânica com muito nitrogênio e pouco carbono sofrem decomposição rápida, formando pouco húmus no solo e podem prejudicar as radicelas, quando incorporadas sem “curtir”, isto ocorre devido ao consumo do carbono retirado do solo e ate das próprias raízes. Exemplo: esterco de galinha. Fontes de matéria orgânica com muito carbono e pouco nitrogênio apresentam decomposição muito lenta e podem amarelar as plantas se forem incorporadas, porque os microrganismos vão retirar nitrogênio do solo para decompô-las. Exemplo: palhas e serragens.
Portanto o adubo orgânico deve conter matérias primas com fontes ricas em carbono e outras ricas em nitrogênio e que estejam balanceadas de forma a se obter uma relação C/N favorável.
Fornecimento de Nitrogênio
A disponibilidade do Nitrogênio ocorre de forma lenta e gradual, dependendo diretamente do estado de decomposição do material orgânico no solo.
Nos materiais crus ou em formação, o nitrogênio encontra-se em forma de compostos orgânicos, não disponível para as plantas. No processo de decomposição desses materiais, parte do Nitrogênio é temporariamente fixado (imobilizado), já que os microrganismos que atuam neste processo necessitam do Nitrogênio para formar proteínas em suas células. Após a bio-estabilização desses materiais boa parte do Nitrogênio retorna disponível para as plantas (mineralização), nas formas de amônio, nitrato,e aminoácidos solúveis. A mineralização e a imobilização de Nitrogênio são processos que ocorres simultaneamente no solo. Para haver disponibilidade de Nitrogênio para as plantas é recomendável a aplicação de materiais orgânicos com relação C/N baixa (menos de 20:1), favorecendo uma mineralização mais rápida. Disponibilidade de fósforo
O fósforo orgânico é mineralizado a partir de compostos como fitina, fosfolipídios, nucleoproteínas, ácido nucléico, proteínas, que, pela ação de microorganismos, liberam íons fosfato (H2PO4-) prontamente assimiláveis pelas raízes das plantas.
O solo de regiões tropical contém altos teores de óxidos de ferro e alumínio, que reagem livremente com o fósforo aplicado tornando-o insolúvel (fixação). Devido a esta reação (fixação) menos de 25% do fósforo aplicado é disponibilizado pelas plantas. aplica-se A matéria orgânica, rica em húmus, reduz a fixação e aumenta a ssimilação do fósforo pelas raízes, significando maior eficiência das adubações fosfatadas.
Aproveitamento do Potássio
O aproveitamento do potássio pelas raízes, está intimamente ligado com a capacidade de troca de cátions do solo (CTC) do solo.Como a CTC dos solos brasileiros é muito baixa (15 me/100g de solo), tem-se um pouco aproveitamento desse elemento para as plantas. A aplicação de adubos orgânicos (CTC em torno de 300 me/100 g) permite aumento substancial da capacidade de absorção desse importante elemento
Comparativo entre o Adubo orgânico e Adubo químico:
Matéria Organica:
Orgânico: 100% aplicado; 100% disponível.
Convencional: zero de matéria orgânica
N
Orgânico: 100% aplicado; 120% disponível.
Convencional: 100% aplicado; 40% disponível.
P
Orgânico: 100% aplicado; 110% disponível.
Convencional: 100% aplicado; 20% disponível.
K
Orgânico: 100% aplicado; 100% disponível.
Convencional: 100% aplicado; 60% disponível.
Ação no solo:
Orgânico: Aumenta atividade biológica; pH; as propriedades físicas e químicas do solo.
Convencional: Diminui atividade biológica;. pH e suas propriedades físicas. Aumenta as propriedades químicas.