08/10/2007 10:10:35 – Café Point
Neste mês, o artigo será direcionado ao questionamento de Daniel Saule, usuário do caféPoint. O questionamento foi relevante. Por isso, tentei abordar o tema de forma mais abrangente.
Daniel Saule pergunta se o molibdênio (Mo) pode aumentar o aproveitamento de nitrogênio em lavoura de café. Além disso, pergunta se pode aplicar o Mo no solo, qual o teor adequado no solo, qual a dosagem e se pode parcelar o Mo junto com a uréia em lavoura irrigada.
Primeiramente, devemos lembrar que o Mo é um micronutriente, ou seja, apesar de ser absorvido em pequenas quantidades, é essencial para as plantas.
Em minerais, o molibdênio ocorre como sulfeto (molibdenita) ou na forma de óxidos (ilsemanita, povelita e ferrimolibdita). O intemperismo de minerais primários e secundários libera íons molibdato (MoO42-), cuja solubilidade aumenta em condições alcalinas (pH mais elevado), contrariamente ao que se observa com os outros micronutrientes metálicos (Cu, Fe, Mn e Zn) (Raij, 1991).
O teor de Mo total nos solos encontra-se na faixa de 0,5 a 5,0 mg/dm3, ocorrendo nas seguintes fases: solúvel na solução do solo, adsorvido na fração coloidal, retido na rede cristalina dos minerais primários e formando quelatos com a matéria orgânica. Segundo Raij (1991), os teores totais e disponíveis de Mo nos solos são normalmente inferiores aos dos demais micronutrientes.
A função do Mo na nutrição das plantas está relacionada com alterações de valência como componente metálico nas enzimas, sendo diretamente envolvido em reações redox. O Mo é componente de duas enzimas principais: nitrogenase e redutase do nitrato. Isso revela a importância do Mo para o ciclo do nitrogênio.
A nitrogenase é a enzima chave para a fixação biológica do nitrogênio do ar (N2), que é realizada através da simbiose entre determinado microrganismo e plantas leguminosas. A falta de Mo no solo irá ocasionar menor síntese da enzima nitrogenase, com conseqüente redução da fixação biológica do nitrogênio (N2). A fixação biológica do nitrogênio do ar é uma forma muito eficiente de reduzir a aplicação de fertilizantes nitrogenados em leguminosas. Isso seria ótimo para o cafeeiro, se este fosse uma leguminosa. Para o cafeeiro, não há qualquer benefício em se aumentar a síntese de nitrogenase por meio da aplicação de Mo.
A redutase do nitrato, por outro lado, tem papel fundamental na assimilação do nitrogênio pela planta de café. Esta enzima catalisa a redução biológica do NO3- a NO2-, que é o primeiro passo para a incorporação do nitrogênio, como NH2, em proteínas. Dessa forma, plantas deficientes em Mo acumulam nitrato e podem apresentar deficiência de N. Nessa situação, tanto o teor de clorofila como o crescimento da planta são reduzidos.
Mesmo sendo muito importante para as plantas, o Mo é requerido em quantidades reduzidas pelo cafeeiro. Malavolta (1980) relata que, para a produção de 1 t/ha de café em coco, seriam necessários 0,25 g/ha de Mo. É de impressionar. Malavolta et al. (1997) mostram valores também reduzidos: com 60 kg de grãos beneficiados são exportados 0,003 g de Mo; com 60 kg de palha são exportados 0,002 g de Mo. Os mesmo autores sugerem que, para café, teores foliares entre 0,10 e 0,15 mg/kg de Mo sejam adequados. Considerando que para os outros micronutrientes os teores se expressam em dezenas ou centenas de mg/kg, pode-se dizer que a absorção de Mo pelo cafeeiro é ínfima, insignificante.
As formas de Mo mais utilizadas em adubações são os molibdatos de sódio e de amônio e o trióxido de molibdênio, sendo ainda utilizado o ácido molibídico e fertilizantes compostos contendo o Mo em sua composição, como as fritas (fritted trace elements – FTE). Estas formas podem ser supridas às plantas como adubo de solo ou por pulverização foliar, de acordo com sua solubilidade. Molibdatos de sódio e de amônio e o ácido molibídico são solúveis em água (solo e foliar); o óxido de molibdênio e as fritas são insolúveis (apenas via solo).
Para Lopes (1999), o efeito residual da adubação com Mo depende das reações do molibdato (MoO42-) com os constituintes do solo, da quantidade de Mo lixiviada e das taxas de exportação das culturas. Em alguns casos, mesmo com doses pequenas (100 g/ha de Mo), o efeito residual pode chegar a mais de 10 anos.
O Mo, na forma de molibdato (MoO42-), é adsorvido aos colóides do solo, semelhantemente ao fosfato, sendo a capacidade de retenção maior em solos mais ácidos e argilosos. Para Fontes et al. (2001), a calagem, ao elevar o pH, aumenta a disponibilidade de Mo a ponto de satisfazer completamente o requerimento pelas culturas. Raij (1991) revela que, a deficiência de Mo, quando ocorre, pode ser corrigida ou reduzida fazendo-se unicamente a calagem, sendo esse efeito mais expressivo em solos de textura média e argilosa.
Pessoalmente, nunca vi plantas de café com deficiência de Mo em condições de campo, nem ouvi relato de quem tenha visto. De qualquer forma, se ainda julgar necessário aplicar molibdênio em sua lavoura, não aplique doses maiores que 100 g/ha de Mo. Difícil é aplicar de forma uniforme uma dose tão pequena. Nesse sentido Daniel, sua proposta de parcelamento junto com a uréia (fertirrigação) pode ser uma alternativa. Mas lembre-se: se Lopes (1999) estiver certo quanto ao efeito residual do Mo, o que é muito provável, você só deverá pensar em aplicá-lo novamente daqui a uns 10 anos.
Literatura Citada
FONTES, R.L.F.; ABREU, C.A.; ABREU, M.F. Disponibilidade e avaliação de elementos aniônicos. In: FERREIRA, M.E.; CRUZ, M.C.P.; RAIJ, B. van; ABREU, C.A. (Eds.) Micronutrientes e elementos tóxicos na agricultura. Jaboticabal, CNPq/FAPESP/POTAFOS, 2001. p.187-212.
LOPES, A.S. Micronutrientes: filosofias de aplicação e eficiência agronômica. São Paulo – ANDA, 1999. 58p. (Boletim Técnico, 8).
MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição mineral de plantas. São Paulo, ed. CERES, 1980. 251p.
MALAVOLTA, E.; VITTI, G. C.; OLIVEIRA, S. A. de. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. Piracicaba, POTAFOS, 1997. 319p.
RAIJ, B.van Fertilidade do solo e adubação. Piracicaba, ed. CERES, POTAFOS, 1991. 343p.