Acordo sobre Doha pode sair até julho
Jander Ramon
SÃO PAULO – O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, estimou nesta quinta-feira, em entrevista coletiva, que os países europeus, os Estados Unidos e o G-20 poderão chegar a um acordo para a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio até julho. Segundo ele, para atingir tal objetivo, será necessário que os atores globais aprofundem as negociações e façam um “esforço suplementar”. “Espero que todos façam um esforço final e com espírito de compromisso encontrem uma solução”, disse Barroso, após participar do seminário “Brasil e União Européia: Desafios para o Futuro”, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Apesar da disposição indicada pelo comissário europeu em encontrar uma solução para as negociações da OMC, ficou claro haver ainda um profundo impasse entre os empresários brasileiros e os negociadores europeus. Enquanto a Europa cobra liberalização de acesso aos mercados industrial e de serviços no Brasil, o empresariado brasileiro exige o fim da sobretaxação dos produtos agrícolas pelos europeus e dos subsídios concedidos aos agricultores pelo governo norte-americano. “Entendemos que a última oferta brasileira promove avanços significativos em indústrias e serviços. Nos parece que os europeus e norte-americanos avançaram de forma insuficiente até o momento em suas ofertas, e os próximos passos estão mais para serem dados no campo dos Estados Unidos e União Européia do que no Brasil”, opinou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
Barroso, de seu lado, queixou-se da concentração dos posicionamentos brasileiros em “fatores irritantes na relação agrícola”, e cobrou uma ampliação do espectro de negociação. Segundo ele, a Europa é o maior investidor direto no Brasil, e adquire 38% nas exportações agrícolas brasileiras, enquanto os Estados Unidos assumem uma fatia de 8%.
Por isso, o comissário europeu posicionou-se favorável a uma negociação “mais ampla”, o que não foi muito bem aceito pelos industriais paulistas.
“A União Européia afirma ter elevado a tarifa zero de importação para 70% dos produtos, sendo 30% para os agrícolas. Não é o que acontece com açúcar, óleo de soja, café solúvel, carne e frango, produtos brasileiros altamente sobretaxados na Europa”, rebateu Skaf.
Em mais um gesto diplomático para tentar salvar a Rodada Doha, Barroso insistiu que uma solução entre os países seria positiva em três aspectos: econômico, por estimular o comércio entre as nações; político, porque Brasil e União Européia são favoráveis ao multilateralismo; e social, pois a expansão do comércio entre os povos tende a favorecer principalmente as nações mais pobres.