Rabobank e suas projeções, segundo o banco o mercado de café voltará a ter um superávit em +3,35 milhões de sacas. A safra brasileira 21/22 continua sendo projetada nos +56,70 milhões de sacas (TRUCO-1) e a próxima safra 22/23 está estimada em +66,50 milh
Apesar do mercado abrir em alta na segunda-feira (negociando no high da semana @ 246,90 centavos de dólar por libra-peso) o contrato Março-22 chegou a cair -1.725 pontos (entre o high e o low do dia respectivamente @ 246,90 e 229,65 centavos de dólar por libra-peso), fechando o dia @ 233,00 centavos de dólar por libra-peso.
Logo no início da semana, segundo publicação na Bloomberg, o Rabobank divulgou novo relatório estimando aumento na produção global para a safra 22/23 em +8,2% e aumento no consumo mundial em +2,90% (produção mundial em +177,10 milhões de sacas e o consumo mundial em +173,90 milhões de sacas). Nesse cenário o mercado de café voltará a ter um superávit em +3,35 milhões de sacas. A safra brasileira 21/22 continua sendo projetada nos +56,70 milhões de sacas (TRUCO-1) e a próxima safra 22/23 está estimada em +66,50 milhões de sacas (TRUCO-2)!!
O banco também projetou preços para o 1 trimestre de 2022 em 200 centavos de dólar por libra-peso e para o último trimestre de 2022 em 166 centavos de dólar por libra-peso (TRUCO-3) !!!
166 centavos de dólar por libra-peso (com base na projeção do R$ futuro com vencimento em Nov-22 @ 6,33 R$/US$) representa um preço de liquidação para o produtor brasileiro ao redor dos 1.000 R$/saca!
Com todos os aumentos dos fertilizantes, defensivos, combustível, inflação (não só no Brasil mas no mundo) quem em sã consciência vai seguir investindo na cafeicultura?
O clima segue sendo monitorado dia após dia em todo o planeta. As chuvas voltaram para as principais zonas produtoras no Brasil dando certo conforto para o desenvolvimento das lavouras. Muitas regiões/lavouras receberam chuvas de granizo e novos estragos nas lavouras ainda estão sendo levantados. Para as próximas 3 semanas estão previstas novas chuvas. A umidade armazenada no solo será útil para auxiliar no enchimento dos grãos a partir de fevereiro/março-22. Quem sabe o Brasil poderá ter uma safra 21/22 entre 44-53 milhões de sacas…
Porém ninguém vem falando ainda dos riscos para novas geadas durante o próximo inverno brasileiro (entre junho-15 – agosto-22). De repente os problemas sumiram e estamos agora todos “navegando um céu azul de brigadeiro”!
Nossa visão com relação ao índice “estoque x consumo” para os próximos 2 anos continua abaixo dos 15% para o final da safra 21/22 e abaixo dos 10% para a safra 22/23 (salvo se ocorrer uma redução drástica no consumo mundial em aproximadamente -5 milhões de sacas por ano nos 2 próximos anos e/ou uma explosão na produção global, principalmente no Brasil – o que consideramos pouco provável). Para o consumo reduzir a única forma possível será através do aumento dos preços – que aliás já começou a ser repassado para o consumidor final.
No Brasil os preços já estão sendo repassados para o consumidor final, e uma das principais marcas tradicionais vendida nos principais pontos de venda já subiu de +11,00 R$ para +18,49 R$/pacote de 500 gr! Um aumento “básico” de +68%! A ABIC já informou que houve uma redução no consumo ao redor de -14% no último mês! Ou seja, pelo menos no Brasil, o segundo maior consumidor de café do planeta, o consumo deverá seguir caindo nos próximos meses!
Qual o motivo para um banco com grandes tentáculos no mundo agro divulgar uma projeção tão otimista referente ao aumento da produção mundial e uma projeção tão pessimista para os preços para os próximos 13 meses? Um dos motivos, segundo minha visão, é para proteger seus clientes que estão carregando posição “vendida” no mercado durante os últimos 5 meses!
Como já falamos aqui, entre os dias 15 de julho de 2021 até a última sexta-feira (dia 3 de dezembro de 2021), o mercado já subiu +9.500 pontos (saindo de +150,00 para +245,00 centavos de dólar por libra-peso)! Considerando uma média diária da posição em aberto na casa dos +330.000 lotes esse aumento nas cotações representa aproximadamente 125,67 US$/saca de café. Ou “apenas” +11.943.670.000 US$! +11,94 bilhões de dólares! E aproximadamente +1,50 bilhão de dólares referente aa necessidade da chamada de margem inicial para os “vendidos”!
Ou seja, os bancos, dentre eles o próprio Rabobank, estão “margeando/financiando” apenas na bolsa de café em Nova Iorque aproximadamente +13,4 bilhões de dólares nos últimos 5 meses! Levando em consideração as chamadas de margem na bolsa de Londres, esse número deve estar próximo dos +20 bilhões de dólares! É muito dinheiro!
O risco de ocorrer um default, uma quebradeira financeira entre as empresas/especuladores com posição vendida é muito grande! Claro que nesse momento alguns participantes já jogaram a toalha, já ficaram pelo caminho. Novos fundos/especuladores já entraram no mercado, também na posição “vendida”, apostando na queda das cotações (pelo jeito a própria tesouraria do Rabobank). Apenas os participantes com posição “comprada” na bolsa de Nova Iorque estão demandando esses +13,40 bilhões de dólares em garantias de terceiros para manter o mercado funcionando! E pelo jeito continuam apostando na alta (e nós também)!
Nessa semana, segundo a última publicação do CFTC*, a posição dos “fundos+especuladores” teve uma redução em -1.257 lotes, mas continuam comprados em +50.810 lotes!
Seguimos positivos para o médio prazo com os preços ultrapassando os 280 centavos de dólar por libra-peso!
O Brasil exportou durante o mês de novembro/21 aproximadamente 2.750.000 de sacas (número final ainda aguardando a chegada dos últimos documentos de exportação) x 4.770.000 milhões de sacas referente ao mês de novembro/20. Uma redução aproximada em -2 milhões de sacas, ou -42%! Nos primeiros 5 meses desse ano safra 21/22 o Brasil exportou até agora 15,08 milhões de sacas x 20,3 milhões de sacas referente ao mesmo período do ano anterior. Uma redução de -5,2 milhões de sacas, ou -25,71%!
Nessa semana, segundo matéria divulgada pela Reuters, a cooperativa COOXUPÉ informou que espera uma queda nas suas exportações em -19% (exportando nessa safra 21/22 apenas 5,8 milhões de sacas x 7,2 milhões de sacas da safra anterior). O motivo, segundo a cooperativa, continua sendo os problemas logísticos e não a falta de produto!
Como já falamos aqui, o mercado segue estudando alternativas para embarcar/honrar seus compromissos e não ficar dependendo da disponibilidade dos containers e dos fretes abusivos. A própria cooperativa informou que está/estará realizando embarques de café em navios apropriados para receber o produto em sacos e/ou em “big-bags” (para evitar problemas na qualidade do produto).
Um porão de navio carregando 5.000 toneladas de café representa aproximadamente 250 containers! Os navios apropriados para carregar produto em sacos de 50/60 kg normalmente carregam entre 15-25 mil toneladas. O Brasil vem exportando nessa safra aproximadamente 9.000 containers/mês (aproximadamente 3.000.000 sacas/mês – equivalente a 180.000 toneladas de café por mês). Ou seja, se toda a necessidade do Brasil fosse exportada em navios de 25.000 toneladas seriam necessários o afretamento de apenas 7 navios! Ou seja, totalmente possível! Claro que o Brasil vai continuar exportando grande parte do seu café em containers. Mas já está provado que a logística por navios tradicionais funciona e esse paradigma finalmente vem sendo quebrado! Os grandes exportadores de café podem “pegar carona” nos navios de açúcar ensacado e/ou outros produtos similares sem problemas. Basta querer!
As cooperativas e algumas tradings seguem no mercado procurando realizar as famosas “travas” com os produtores para receber produto em Set-22, Set-23 e até mesmo Set-24 oferecendo preços fixos em R$/saca @ 1.500,00 / 1.550,00 / 1.570,00 respectivamente!
Esses valores representam uma compra com um “diferencial” estimado em -50 / -55 / -60 pontos! É um spread muito elevado segundo nossa visão. Como esses compradores estão fazendo o hedge dessas suas compras contra as telas de Set-23 e/ou Set-24 onde a liquidez praticamente não existe? Produtores: muito cuidado e muita cautela nesse momento.
Para o contrato Março-22:
próximas resistências @ 244,00 / 248,20 / 255,00 centavos de dólar por libra-peso;
próximos suportes @ 237,00 / 231,00 / 226,00 / 214,00 centavos de dólar por libra-peso.
Nossa recomendação continua sendo a mesma:
– para as safras 22/23, 23/24 e 24/25: Vendas novas contra a tela do Set-22, Set-23 e Set-24 negociando um desconto máximo contra a tela de NY em -35/-40 pontos no máximo e procurando travar os preços em US$/saca.
Se forem travar em R$/saca cotem antes o valor futuro do câmbio com seus bancos para não serem lesados nas cotações e deixarem “gordura” na mesa.
– Travando em R$/saca comprem proteção, as opções de compra “CALL*” para terem o seguro contra novas altas, quebras de safra, geadas contra os respectivos vencimentos durante os próximos 3 anos!
Ótima semana a todos!
Marcelo Fraga Moreira*
*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.