A nova embalagem é…

23 de agosto de 2008 | Sem comentários Consumo Torrefação
Por: Folha de São Paulo

A NOVA EMBALAGEM É…


…DURÁVEL

DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL


O futuro deu um passo atrás. Comprar leite na garrafa de vidro ou refrigerantes em cascos retornáveis são hábitos que não pertencem mais ao passado. Como antes, a embalagem de agora tem sobrevida depois de passar da gôndola à geladeira, para não seguir direto ao lixo. A aposta é na durabilidade.
No Brasil, as margarinas da linha Becel ganharam tampas transparentes, que facilitam o uso da embalagem como “tupperware” depois do fim do produto. A Femsa, que produz a Coca-Cola aqui, começa a distribuir garrafas PET retornáveis nos supermercados. Quem leva o vasilhame até o local de compra economiza R$ 0,90.
Esse é um movimento internacional e irreversível. O último relatório sobre consumo de alimentos do birô de tendências inglês The Future Laboratory mostra exemplos como a loja Be Unpackaged, na Inglaterra, que vende cereais, saladas, leite, vinho e cerveja sem embalagens descartáveis. Quem leva seus próprios potes ou garrafas paga menos, e quem não leva compra embalagens reusáveis da própria loja.


…ÚTIL


As funções das embalagens se multiplicaram. Além de chamar a atenção do consumidor e manter intacto o seu conteúdo, elas podem servir até para cultivar um alimento. O Gropack, criado pela designer polonesa Agata Jaworska, serve como estufa para fungos e vegetais crescerem, enquanto ficam expostos na gôndola. Em vez de data de validade, eles trazem o dia a partir do qual estarão prontos para o consumo. O exemplo, experimental, é citado pelo relatório da Future Lab como tendência de “embalagem ativa”.
A Nescafé chegou a lançar, na Inglaterra, uma bebida pronta de café com leite numa embalagem que se aquece sozinha, por meio da reação química exotérmica em uma das camadas do invólucro. A empresa desistiu do produto porque não era quente o suficiente para o inverno da Europa, mas as pesquisas continuam.
No Brasil, as embalagens ativas ajudam na conservação de alimentos. Películas bactericidas retardam a degradação de produtos perecíveis. Já são comuns saladas prontas em sacos plásticos com atmosfera modificada, sem oxigênio, para aumentar a vida útil das folhas.


…RETRÔ


A volta às soluções do passado não está só no uso das embalagens retornáveis. Também no design, a aparência antiga tem sido escolhida para novos produtos e edições limitadas. “Existe hoje uma tendência de recuperar a história da marca. A tradição é um valor, até para os jovens”, diz Gisela Schulzinger, que coodena o comitê de design da Abre. Segundo a designer, como a diversidade da oferta de mercadorias tem aumentado muito, os consumidores querem referências das marcas que vão escolher.
O suco Laranja Caseira, da Minute Maid, foi lançado com uma embalagem quadriculada, semelhante à de uma toalha de piquenique. “É um apelo à memória afetiva”, diz Dario Caldas, sociólogo e diretor do birô de tendências Observatório de Sinais, que prestou consultoria à marca para direcionar o lançamento do suco ao mercado de consumidores interessados em “comfort food”, algo como comida de mãe. Ele cita outros produtos que cativam pela memória, como os sabonetes Phebo e Granado e os perfumes da Prada que usam vaporizadores à moda antiga.


…SIMPLES


A embalagem do futuro, para usar uma imagem bem simples, vem embrulhada em papel craft, tem aquela cor que antigamente era chamada de “cor de papel de embrulho”. Nada de apelos feéricos ou formatos viajantes: o design é austero.
O segredo do seu sucesso não é o estilo vintage em si, mas a simplicidade e a transparência. “A vida está cheia de estímulos demais. É melhor amenizar, tornar as coisas mais agradáveis ao olhar”, diz Paulo Al-Assal, diretor da Voltage, consultoria de tendências. Ele critica os excessos visuais presentes na maioria dos produtos no supermercado. “As marcas não conseguem se diferenciar. Como o consumidor se decide mesmo em frente à gôndola, a empresa quer comunicar tudo ali, ao mesmo tempo”, diz.
Na tendência oposta, que o birô Future Lab chama de “Raw”, ou cru, o produto se distingue pela embalagem minimalista, com pouca cor e mensagens muito simples, para transmitir a essência do conteúdo ao consumidor.
Esse tipo de apresentação tem sido adotada por conta das preocupações ambientais dos consumidores. A empresa, com isso, tenta mostrar que também se preocupa, gasta menos material, e diz, sem rodeios, o que vende. “O segredo é ser autêntico”, afirma Al-Assal.


 
 

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