A multiplicação das cápsulas de café espresso

23 de outubro de 2015 | Sem comentários Cafeteria Consumo

Estadão – Paladar – 21 de outubro de 2015 – 17h51


Por Ana Paula Boni e Isabelle Moreira Lima


Que a cápsula mudou o mundo do café todo mundo sabe. Mas no último ano o que
ela tem mudado de forma surpreendente é o mercado brasileiro. Quando caiu a
patente da fabricação de cápsulas para máquinas da Nespresso, há dois anos, e
começaram a surgir outras marcas de café em cápsula, o Paladar teve dificuldades
para reunir opções para fazer uma prova – conseguimos apenas quatro marcas.


Um ano atrás, somente oito empresas ofereciam café em cápsulas no Brasil.
Hoje são mais de 70 marcas de cápsula no mercado nacional, segundo a Associação
Brasileira da Indústria de Café (Abic). E novas marcas continuam surgindo.


“É uma expansão significativa, principalmente se você considera que o mercado
de café total ficou estável nos últimos três anos”, afirma Nathan Herszkowicz,
diretor-executivo da Abic.


Baristas e especialistas ouvidos pelo Paladar são unânimes ao reconhecer a
importância das cápsulas para popularizar o espresso: é prática, não exige
treinamento e evita erros na hora de tirar o café. “Se você está no mundo do
café, é impossível ignorar as cápsulas”, diz Isabela Raposeiras, do Coffee
Lab.


“Se vou a um restaurante que não tem um barista e me oferecem cápsula ou
espresso de máquina convencional, eu prefiro a cápsula, porque sei o que virá na
xícara”, diz Diego Gonzales, do Sofá Café, sobre a constância do espresso de
cápsula.


O Paladar resolveu falar apenas de cápsulas compatíveis com a máquina da
Nespresso porque, mesmo com o mercado brasileiro inundado por outros modelos de
monodose, a maioria de cápsulas é compatível com ela. Não por acaso: a marca
suíça chegou por aqui em 2006 e nadou sozinha no mercado durante muito tempo.
Inicialmente cara e rara (hoje o preço baixou e a oferta de modelos aumentou) e
com design arrojado, virou presente e item de decoração, instalada na sala.


As outras vieram depois. A máquina da Dolce Gusto foi lançada em 2009 e a
Tres, do grupo Três Corações, cujas cápsulas não são compatíveis com a
Nespresso, chegaram só em 2013.


A demanda pelas cápsulas e a concorrência cresceram tanto que a Nestlé está
montando fábrica própria em Montes Claros (MG), para produzir máquinas Dolce
Gusto. A Nespresso produz equipamentos apenas na Suíça. Hoje, no Brasil, duas
empresas dominam o mercado de produção das cápsulas genéricas – a curitibana
Lucca e a portuguesa Kaffa, que em menos de um ano já precisou aumentar suas
instalações em Ribeirão Preto, de 300 m2 para 1.200 m2 e tem capacidade para
produzir 300 cápsulas por minuto.


Luiz Otávio Franco de Souza, da Lucca Cafés Especiais, em Curitiba, entrou no
negócio de monodoses em 2013, depois de descobrir numa feira em Viena um
fornecedor de cápsulas vazias. Ele enxergou ali uma grande oportunidade de
recuperar os clientes que haviam deixado de comprar seus cafés em grãos inteiros
e aderido às superpráticas máquinas com monodoses. Desenvolveu uma máquina e
passou a encapsular os próprios cafés de cápsula. Hoje, são 15 tipos à venda sob
a marca Dop, empresa irmã da Lucca: 10 fixos e cinco microlotes.


A portuguesa Kaffa está de olho no Brasil há quatro anos, mas só instalou sua
fábrica, em Ribeirão Preto, em julho do ano passado. Já tem 70 clientes. A
empresa só encapsula e não tem marca própria no País. Já produz 189 mil
monodoses por dia. “No próximo ano, vamos aumentar a produção em cinco vezes”,
afirma o diretor da empresa Nuno Bernardo.


A Nespresso disse, em nota, que a concorrência é “saudável” e melhora a
qualidade e as opções dos produtos no mercado. “Este é um segmento que
representa apenas 3% do mercado de cafés e com baixa penetração no Brasil, ou
seja, o potencial de crescimento é bastante alto”, informa a nota. A empresa
ainda disse acreditar em seus “diferenciais como qualidade e sustentabilidade”
como vantagens nesse universo competitivo.


Tão competitivo que vêm mais cápsulas por aí. O e-commerce de vinhos Wine e o
grupo de café Tristão se uniram para entrar forte no ramo no País. Eles
compraram a tecnologia da suíça Mocoffee (não compatível com a Nespresso) e vão
lançar cápsulas produzidas com a consultoria de Isabela Raposeiras. As primeiras
devem chegar ao mercado no início de 2016 e a ideia é vender apenas café
brasileiro em todas as suas filiais mundo afora. “Vamos mudar a origem do grão
sem mudar o padrão de intensidade e sabores”, promete a barista.


Tanta oferta dificulta a escolha, por isso, reunimos especialistas, compramos
cápsulas de 20 variedades que encontramos e colocamos à prova.


Furo na cápsula diminui vida útil


A maioria das cápsulas produzidas no Brasil é de plástico, com a tampa de
alumínio. O País ainda não tem a tecnologia para fazê-las inteiras de alumínio.
Essa é essa a maior diferença entre as nacionais e as da Nespresso. A maior
parte das cápsulas de plástico têm um microfuro no topo (recurso para que
aguente a pressão da extração sem explodir), o problema é que ele deixa entrar
ar, que oxida o café.


E aí vai a primeira dica de compra: prefira embalagens individuais. É que,
quando várias cápsulas são embaladas no mesmo saco, se você abrir a embalagem
para retirar a primeira, o ar começa a entrar pelos microfuros das outras –
nesse caso, guarde em pote tampado e consuma entre 5 e 7 dias.


Prefira as que são embaladas individualmente – entre as 20 provadas, só três
(Octavio, Orfeu e Pilão) têm sacos individuais.


E dá para reaproveitar cápsulas?


Em setembro de 2013, o barista Leo Moço mostrou como prepara as monodoses com
cafés especiais em cápsulas alternativas que importa da França, e o repórter
Daniel Telles Marques tentou recarregar cápsulas originais da Nespressos já
utilizadas.

Cápsulas sem Nespresso

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