geada do meio deste ano não foi uma das mais fortes da história mas, aliada à terra enfraquecida por quase 90 anos de exploração, o que se traduz em menor produtividade, e aos baixos preços de comercialização, levou alguns dos últimos produtores remanescentes de café em Paranavaí e região ao desânimo.
De alguns milhares de pequenos e médios produtores, além dos grandes, entre as décadas de 40, 50 e 60, restaram pouco mais de 50 e, desses, alguns se confessam desanimados e só insistem por uma questão de tradição ou hobby, sem considerar a cafeicultura a sua principal atividade econômica.
No início do século passado o café era o principal produto de exportação do Brasil. Veio da Etiópia, via França e Caribe, aportou na Guiana Francesa, Guiana Inglesa (atual República da Guiana) e Guiana Holandesa (atual Suriname), de onde cafeicultores migraram para o Brasil, através de Belém, do Estado do Pará.
No Paraná o café entrou nas primeiras décadas dos anos 1900. Com a crise de preços, que levou à proibição dos “cafezeiros” (como eram chamados na época) no Rio, Minas Gerais e São Paulo, os “barões do café” (como eram chamados os grandes produtores) adquiriram grandes propriedades em Cambará, Jacarezinho, Santo Antonio da Platina, Ribeirão Claro e outras cidades do Norte Pioneiro, para cultivar o produto.
Foram eles que atraíram as concessionárias de ferrovias e provocaram a construção das estradas de ferro no Norte do Paraná, para transportar a produção para o porto de Santos-SP. Enquanto isso pequenos produtores chegavam à região Noroeste do Paraná, centralizada por Paranavaí, através do Rio Paraná e Paranapanema, vindos de Presidente Prudente.
“Em 1902 já havia informação sobre a existência de plantação de café na Cidadinha”, disse em entrevista ao Diario do Noroeste em 1977 o pioneiro Natal Francisco, que visitou a região em 1929 e retornou para morar aqui em 1946, quando fundou o Atlético Clube Paranavaí. Natal Francisco referia-se ao núcleo habitacional constituído no atual Jardim São Jorge, que deu origem à Vila Montoya. Esta cresceu e chegou a ter até 600 famílias em 1929, depois que a Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) passou a cultivar as terras obtidas por concessão junto ao Governo do Estado, entre 1922 e 1931.
Para trabalhar no plantio e colheita de café a Braviaco importou trabalhadores do Nordeste. Inicialmente foram 300 famílias da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. Depois, uma leva de mais 300, cuja saga foi narrada por um dos que vieram na primeira leva, Frutuoso Joaquim de Salles, em entrevista ao Diario do Noroeste em 1977.
Apesar das sucessivas geadas – como as 1925, 1955, 1968, 1975 – o café continuou sendo o principal produto de exportação da região, embora surgissem outras opções agrícolas e pecuárias a partir de 1946, como a mandioca, algodão, arroz, milho, gado, etc.
Ao longo dos anos, Paranavaí chegou a ter duas dezenas de máquinas de café (que teve nomes marcantes como as dos Irmãos Dal Prá, Afonso Sguissardi, Martinez & Sciarra, Cafeeira Amazonas e outras); de algodão e milho (como a Matarazzo, McFaden, Esteves & Irmãos, etc), uma centena e meia de fábricas de farinha de mandioca e fecularias, dois frigoríficos (Irmãos Baggio e Fripan).
Mesmo com as geadas de 1955 e as dos anos 1960, o café persistiu como principal produto agrícola da região. Um grupo de cafeicultores se reuniu e fundou a Cooperativa Agrícola dos Cafeicultores de Paranavaí (Coaca).
Presidente da entidade eleito por três vezes consecutivas, o engenheiro-agrônomo, cafeicultor e pecuarista Ludovico Axel Surjus disse quinta-feira (12/12) ao Diario do Noroeste que a Coaca chegou a ter 500 cooperados e exportou café até para a Itália.
O setor recebia nos anos 1970 o incentivo do Governo Federal e do Estado – governador Jayme Canet Júnior – que através do secretário de Agricultura, Paulo Carneiro Ribeiro, viabilizou recursos de 20 milhões de cruzeiros (moeda da época) para a Coaca construir seu barracão para depósito de café (na Av. Paraná, ao lado do Fórum Sinval Reis, e local hoje transformado em várias lojas comerciais).
Com a geada que dizimou a maior parte dos cafezais em 1975 a Coaca perdeu muitos cooperados. Ainda tentou seguir por outros caminhos, como o da mandioca, em franca expansão, e chegou a implantar uma fecularia ao lado do Bosque Municipal na Vila Operária, mas acabou extinta.
Diario do Noroeste