A inclusão do trabalhador rural

13 de fevereiro de 2006 | Sem comentários Produção Sustentabilidade
Por: Correio Braziliense









José Alcindo
Rittes
Engenheiro agrônomo, dirigiu o Programa Nacional de Diversificação
Econômica das Regiões Cafeeiras. E-mail: jarittes@yahoo.com.br



As famílias
trabalhadoras de baixa qualificação, e em precária situação financeira, com ou
sem terra, requerem esforço especial para chegar à eficiência e estabilidade.
Com 30 anos dedicados à sua inclusão, não entendo tanta frustração pública nessa
busca. As soluções que tenho formulado para seu resgate com parco investimento
justificam repensar as desgastadas intervenções oficiais, inócuas e
incompletas.

Desqualificada e sem poupança, a família trabalhadora não
superará sua situação sem amplo apoio — social, técnico e financeiro. E também
um consistente — e permanente — monitoramento de suas atividades por parte de
órgãos do governo.

Algumas iniciativas privadas e de poucos governos
estaduais e prefeituras, e o resultado das que tenho conduzido desde as Cidades
Hortigranjeiras dos anos 70 — duas gerando municípios em Goiás e no Amazonas —,
convergem para auspiciosa realidade. É viável, sim, e com baixo esforço
financeiro, resgatar grande número de famílias.

Sempre compelidas ao
trabalho servil sem futuro, não mudam a atitude por pequenos favores monetários.
Mas, sim, se convencidas da irrelevância da desqualificação frente ao seu
potencial, expresso na harmonia familiar, capacidade, hábito e persistência de
trabalho, comportamento social e destreza de raciocínio. Esforço lastreado na
valorização da auto-estima fazem-nas superar o marasmo da vida sem
futuro.

A eficiente abordagem da família, praticada no ambiente da sua
casa, passa pela discussão franca e generosa das suas deficiências culturais e
materiais e aspirações. Sempre ressaltado o potencial de cada família. Discutida
a adesão — apoios, obrigações, direitos e vantagens —, sedimenta-se a coesão
familiar.

Sistema de assistência apropriado a seu perfil capacita a
família. Técnicos e assistentes sociais, residindo na comunidade, inserem-se na
sua vivência — jogam futebol e vão ao bar com os trabalhadores, as mulheres
freqüentam a mesma igreja, seus filhos vão juntos à escola —, abrindo importante
canal de percepção da evolução da satisfação e das aspirações das famílias,
muito útil para monitorar seu progresso.

Estratégias especiais fortalecem
os liames institucionais e imprimem dinamismo e eficiência ao resgate da
servidão dessas famílias, ancoradas no veto a benefícios financeiros gratuitos e
a atividades com ganho insuficiente ao sustento e expansão do negócio da
família.

Não se limitam os esforços, riscos e resultados compartilhados
às relações de interesse companhia/trabalhadores, estendida a todos os setores e
profissionais — administradores, técnicos, processadores da produção, agentes de
comercialização. Esforços e resultados compartilhados são a base da eficiência.
Não há medições horárias, diárias ou da intensidade dos esforços, nem pagamentos
fixos, todos com interesses convergindo para o mesmo objetivo, somando melhor
tecnologia, maior empenho e mais eficiente manejo.

A família integra-se
ao projeto sob suficientes apoios, incluídos os das contas de aval e seguro
interno para avalizar seu crédito e garantir-lhe receita mínima, blindando o
endividamento, de poupança previdenciária para lastrear as aposentadorias, e de
capitalização para abrigar o saldo das receitas das famílias até o
reinvestimento na ampliação de suas atividades. Com renda estável garantida,
consolidam a auto-confiança e dinamizam suas forças.

A juventude
alfabetizada não aceita o emprego servil mal remunerado, vai para a cidade maior
agravando a situação de muitos municípios, que envelhecem e sobrevivem à
estagnação por força dos ingressos previdenciários. Só grandes contingentes de
famílias trabalhadoras convertidas, continuada e aceleradamente, em produtoras
familiares com adequada capacitação e estabilidade econômica, gerarão
oportunidades suficientes à tranqüilidade do
campo.

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