22/05/10
JOÃO G. SABINO OMETTO – O Estado de S.Paulo
O que significa contribuir majoritariamente para as exportações de um país? Que sensação nos desperta o fato de sermos cada vez mais reconhecidos, em especial neste período pós-crise, como uma das mais eficientes, competitivas e competentes economias? E mais: que essa competitividade pode ser ampliada e potencializada com preservação, contribuindo para a redução das emissões globais de gases de efeito estufa, por meio de práticas conservacionistas e tecnologia de ponta.
Certamente os sentimentos relativos aos estímulos advindos dessas manifestações externas e dos organismos multilaterais vão do orgulho à admiração e passam pela valorização da identidade nacional. Mas é no mínimo curioso observar que o agronegócio brasileiro, protagonista da admirada performance de nossa economia, não tenha semelhante reconhecimento da própria sociedade do País, em especial a população das grandes cidades. Tal fenômeno, quase uma ironia, talvez se deva ao fato de o setor ter-se acostumado a falar em números, mas cometendo o pecado de não os traduzir publicamente de maneira clara: 27% do PIB nacional; 37% dos empregos existentes em todo o Brasil; 42% das exportações; 215 mercados conquistados; terceiro exportador mundial; 84% de ganho de produtividade na soja desde o início da década de 90 e 122% no milho; 950% de crescimento das exportações de carne de frango no mesmo período; mais de 80 milhões de toneladas de dióxido de carbono retirados da atmosfera desde o início da produção dos carros flex, em 2003…
Tudo isso impressiona, mas não parece ser suficiente para estabelecer uma conexão com o cotidiano das pessoas. Tal descompasso reflete grave falta de comunicação, amplificada pela conotação quase pejorativa dada ao termo \”agronegócio\”, importado ao Brasil desde a Universidade Harvard, por lideranças como Roberto Rodrigues e Ney Bittencourt de Araújo, com um intuito nobre e importante: demonstrar a interdependência dos elos que compõem o setor, para potencializar a atividade e melhorar os processos da gestão e da qualidade, com benefícios a todos.
Atualmente, como seria possível, sem uma visão sistêmica, cumprir as exigências de um consumidor cada dia mais informado, que quer saber com precisão como o alimento levado à sua mesa foi produzido e quais as práticas utilizadas? O termo trouxe organização, articulação e ganhos de diversas naturezas, mas é equivocado no modo de interagir com a sociedade, como se fosse um negócio à parte, e não a própria economia brasileira, hoje tão festejada. Até porque, por trás da agricultura brasileira há muito investimento em pesquisa, tecnologia, capacitação profissional, respeito ao meio ambiente e, acima de tudo, consciência de que o alimento é importante para a vida. Prova disso está nas cadeias produtivas que vão do algodão à camiseta, e da carne e do leite que integram a segurança alimentar.
Além disso, é possível que o próprio termo \”negócio\” não seja o mais adequado ao Brasil, por razões culturais. Voltando à questão dos números, estes devem ser traduzidos em termos de benefícios à sociedade. Para ficar apenas nos exemplos apontados, a conquista de 215 mercados só foi possível em razão da qualidade e atributos socioambientais dos nossos produtos do agronegócio, que nos habilitam a entrar nos mercados mais exigentes. Estar entre os três maiores exportadores mundiais do setor significa preços competitivos que beneficiam, em primeiro lugar, a população brasileira. Ser o mais eficiente em etanol e gerar combustível renovável pela queima do bagaço da cana-de-açúcar são grandes contribuições para um país ecologicamente melhor e cada vez mais independente em termos energéticos.
Os ganhos de produtividade garantem abastecimento, preços equilibrados e estabilidade econômica e política ao País, além de apontarem soluções exequíveis para o mundo, em termos de segurança alimentar e energética. É hora, pois, de fazer justiça ao agronegócio nacional no plano da comunicação, tornando evidente para a sociedade a verdadeira identidade do setor, essência de um país cuja economia brotou na terra.
ENGENHEIRO, É VICE-PRESIDENTE DA FIESP