O Estado do Espírito Santo é um pequeno território da federação do Brasil, com uma cafeicultura singular, genuína.
Aqui produzimos café Arábica nas Montanhas, no Caparaó e no Noroeste (pouco conhecido) e somos o maior produtor de café Conilon do Brasil, de Norte ao Sul do Estado.
Nosso Estado possui um perfil fundiário composto de pequenos produtores, de base de agricultura familiar, ou seja, são muitas famílias que residem no campo e vivem da agricultura. Até a década de 1960 o café era o senhor da economia do Estado do ES, e o grande expoente da exportação brasileira.
Nos dias presentes, não possui a mesma envergadura econômica do passado, mas ainda continua contribuindo em muito com a balança comercial e gera renda da milhares de trabalhadores em uma cadeia global, que integra vários Estados da Federação.
A história desses cafés vencedores, Luiz Ricardo Bozzi Pimenta de Sousa (1° Presidential Award), Eduardo V. Tozi (4° colocado – winner) e Jeremias L. Braga (8° colocado – winner), é simples, todos estes cafés são oriundos da agricultura de base familiar.
Porém, existem muitas histórias por trás destes cafés… a que mais me alegra é a transferência de conhecimento desenvolvido por uma instituição pública, que quase sempre é sinônimo de escarnio de algumas pessoas, que insistem em dizer que “servidor público é tudo preguiçoso ou recebe muito e entrega pouco”. Paciência…
Pois bem, deixe-me conta-lhes algo, Luiz Ricardo é irmão de Luiz Henrique e de José Luiz, sendo o segundo irmão, egresso do Ifes, Q-Grader e jovem empreendedor, foi aluno bolsista por 5 anos no Laboratório de Análise e Pesquisa em Café, em 2018, foi vencedor do prêmio de projeto de maior cunho social e tecnológico dentre todas as instituições federais de ensino no Brasil, do qual eu era o coordenador junto com professor Aldemar Polonini Moreli.
A Família Bozzi Pimenta de Sousa, liderada pelo Sr. José Luiz Pimenta e pela Sra. Irinete Bozzi é referência em nosso município, pela produção de cafés especiais, há mais de 20 anos que o Sr. José Luiz coopera com a qualidade, seja no cooperativismo, seja no campo político, seja no encorajamento dos mais jovens.
Como fez ao nos entregar seu filho Luiz Henrique, ainda nos tempos de Ensino Técnico.
Luiz Ricardo, Luiz Henrique e José Luiz são jovens que trabalham no campo, mas que buscaram conhecimento, na cidade, no Instituto Federal do Espírito Santo, que foi criado para estar próximo aos atores do setor produtivo, dando base ao APL de cada região do Brasil.
A vitória do dia 10/11/2020 não foi fruto do acaso, vem de um longo investimento em qualidade, em processo, em estudos, em experimentos, em diálogos e acima de tudo, da coragem de concorrer no concurso mais exigente em qualidade do Brasil, a grande vitrine internacional dos nossos cafés.
Eduardo V. Tozi é um jovem produtor de Castelo, do Caxixe Quente, por vezes participou de cursos, capacitações, treinamentos oferecidos pelo Ifes, é um empreendedor que sempre buscou a qualidade e por anos vem pontuando bem no concurso de tardios da BSCA, entidade organizadora do Cup of Excellence no Brasil.
Assim como Luiz, ele é referência para os mais jovens, por trabalhar o conceito de sustentabilidade, por aplicar ciência no dia a dia da propriedade e por ser também, provador de café.
Por fim, não menos importante, o Sr. Jeremias L. Braga, de Afonso Cláudio, capital secreta dos cafés especiais, é um caso especial, neste ano, como de costume, a Sra. Vanúsia Nogueira da BSCA me ligou e me indagou se não iriamos ter cafés do ES no COE desta edição, pelo baixo número de amostras recebidas até então. Eu disse que os melhores iriam chegar no prazo limite… Assim, pedi a alguns bolsistas, em especial a mais insistente delas – Raabe de Oliveira que ligasse para todos os produtores da lista do LAPC, poucos responderam a convocação, mas ali estava o Sr. Jeremias e sua esposa Sra. Sueli Braga, trouxeram as amostras e no momento que provamos, soubemos… esse vai para as cabeças… deu certo!
Essas palavras escritas não possuem a função de ascender ao trabalho dos produtores, muito pelo contrário, são apenas partes de uma engrenagem que muitas vezes é ignorada em nossa sociedade.
Essas ações são fruto de anos de investimento em ciência, tecnologia, extensão e muita educação e capacitação. Findada a seletiva, coube aos jovens e experientes Q-Graders, João Paulo Pereira Marcate e Dério Brioschi Júnior, o serviço de consultoria, através da Farmers (empresa dos meninos), na triagem final, maquinação e expedição das amostras. Ou seja, cada parte do elo desta cadeia desempenha um papel. Ao passar o bastão para quem está treinado e habilitado para isso, sabíamos que o resultado não poderia ser diferente.
Poderiam ser quaisquer outros produtores vencedores, mas quis o destino que neste ano tivéssemos um egresso do Ifes, em associação com uma jovem empresa de egressos também do Ifes, um parceiro de cursos e treinamentos e um produtor atendido diretamente pelos nossos bolsistas, organizarem todo esse levante.
No fim, a história é simples, nada mais que a conexão de quem acredita na ciência, na tecnologia e acima de tudo, na paciência pela colheita do fruto perfeito. Agradecimentos aos parceiros, instituições e pessoas não faltam, não cometerei o equívoco de citar nominalmente para não esquecer de alguém, mas eu encerro esse texto agradecendo ao Luiz, ao Duda e ao Jeremias, por simplesmente acreditarem nas instituições públicas de pesquisa e desenvolvimento de nosso Estado.
Viva o café capixaba!
*Lucas Louzada Pereira, é professor do IFES, possui doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com tema em fermentação de café. Atua com pesquisas nos processos de fermentação espontânea e induzida no processamento via-úmida, desenvolve pesquisas na área de análise sensorial e torração do café. É Q-Grader licenciado pelo Coffee Quality Institute e Coordenador do Laboratório de Análise e Pesquisa em Café LAPC do Instituto Federal do Espírito Santo.