Exposição de artistas brasileiros na Pinacoteca recorda um tempo em que a bebida foi o principal motor da economia brasileira
Por Globo Rural
Em São Paulo, as estações de trem ‘transportam’ história econômica e logística da capital, o mesmo tempo em que guardam o aroma secular do café paulista que era carregado e descarregado na metrópole. Se, em 1900, no centro da cidade, a parada da Luz movimentou milhares de toneladas do grão, agora dá lugar a cerca de cinco milhões de passageiros que, muitas vezes, não sabem da relação de sucesso do local com o café.
Porém, a Pinacoteca de São Paulo – um dos principais museus modernistas do país -, em parceria com a Nescafé, fez uma curadoria de quadros e esculturas que recontam a evolução do café no Estado. Este ano, São Paulo deve alcançar uma produção de cinco milhões de sacas do arábica, segundo o terceiro Levantamento deste ano, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“É uma forma de celebrar algo que no século passado era a nova riqueza de São Paulo e hoje está misturado com as obras de arte”, afirmou o historiador da arte e diretor da Pinacoteca, Jochen Volz. Ele destaca que a seleção de obras conscientiza o público sobre o avanço da produção do grão.
Do lado da indústria, a representação da importância do café reflete uma urgência: torná-lo tangível ao público diante de um colapso climático que, se continuar, pode acabar com a produção do grão do tipo arábica no país em 50 anos, inviabilizando, por exemplo, a comercialização e o consumo do grão.
“Se a temperatura da terra aumentar até 2080, a redução da área de arábica pode diminuir até 15%, afetando muito o cultivo no Brasil”, argumentou a líder de sustentabilidade da Nescafé, Cecilia Seravalli.
A marca que pertence a companhia suíça Nestlé tem explorado experiências imersivas e culturais para apresentar lançamentos de cafés especiais, mas que são vendidos no varejo. Na linha “Origens do Brasil” são três tipos de lotes da bebida produzidos por 35 famílias das regiões de São Sebastião do Paraíso e Serras do Alto Parnaíba, em Minas Gerais, além da Chapada Diamantina, na Bahia.
A seleção de obras sobre o café já havia sido organizada em 2020, mas acaba de passar por uma nova curadoria por Yuri Quevedo para formatar esta mostra, cujos selos são espalhados por salas do acervo fixo da Pinacoteca, composto por mais de 1200 obras.
A mostra parece uma caça ao tesouro: por estar dividida em assuntos, o visitante visita os ambientes e com ajuda de um QR-Code acessa um áudio guia que dá detalhes sobre as mais de doze obras de arte que “mostram a complexidade do produto e os hábitos do consumo ao longo da história”, definiu Quevedo.
Entre os exemplos das obras estão aquarelas que representam a produção de café no Brasil e até uma xilogravura de Lasar Segall em um cafezal. Outro quadro de destaque é da pintora Georgina de Albuquerque. Chamado “No cafezal”, a obra de 1926 mostra mulheres trabalhando em uma plantação de café.