Daniel Steidle
Não é novidade empresas e fundações se dedicarem a projetos sociais, ambientais e culturais. Isso faz parte do marketing, da propaganda, da imagem, do poder das empresas. Ultimamente circulou pelas escolas de Rolândia um vistoso convite chamado de ”Cine Monsanto”. O convite se repetia para a população em um jornal da cidade. Apoiavam a iniciativa do ”Cine Monsanto”, segundo o jornal, uma cooperativa, a prefeitura da cidade e o Ministério da Cultura através da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. Os filmes programados foram Xuxa e os Duendes, Casamento Grego, Tainá e a Fuga das Galinhas.
Um programão para Rolândia que em seus tempos áureos do café contava com dois cinemas e hoje só tem um centro cultural. O convite do ”Cine Monsanto”, em época da polêmica sobre transgênicos, não deixa de ser curioso. Coisa de cinema! De filmes onde poderosos não medem esforços e meios para conseguir suas metas com o argumento de salvar o planeta. O final feliz dos filmes conhecemos. E na vida real?
O ”filme” sobre os transgênicos no Brasil se arrasta por anos e divide os atores: agricultores, ambientalistas, cientistas, políticos e indiferentes. Parte dos espectadores até que simpatiza com os ambientalistas, mas são fortes os argumentos do dinheiro, do emprego e do alimento, além do medo de se indispor com o sistema do qual dependemos.
Pirulito, bonés e cinema, entre outros agrados, evitam amplo esclarecimento franco e educação. Debates ou propagandas para vender seu peixe ou fortalecer um grupo, seja o grupo ”a favor” ou ”do contra”, cansam. Também cansam e inibem uma participação ativa da população, encontros técnicos e científicos fora do alcance do público.
Apostar em informação imparcial e acessível pode parecer romantismo. Será? A história ambiental do mundo está cheia de exemplos de empresas ”vilãs” que passaram a ser modelos positivos; o bom negócio da sustentabilidade. O que leva a transformação de ”vilã” para modelo é um longo e doloroso caminho no qual a população, em vez de assistir a ”Fuga das Galinhas” que muitos já viram na televisão, escolhe reconhecer seu poder.
Em vez de polêmicas, partidos ou desinteresse, encontros onde juntos podemos amadurecer. Não devemos desanimar com a frequente constatação que tudo já foi decidido e que somos ”consultados” meramente para comprovar que houve processo democrático. A vida não é uma fuga. Podemos sair do papel de espectador e participar na direção do filme da vida.
DANIEL STEIDLE é agricultor e educador ambiental em Rolândia