No campo, a produção também perdeu fôlego. Efrain Botrel, produtor de café em Varginha, no Sul de Minas Gerais, diz que teve dificuldades para investir.
“A Mão-de-obra encareceu muito e o café não conseguiu acompanhar”, conta o produtor.
Problemas
A economia brasileira encolhe |
A economia brasileira encolheu, no terceiro trimestre. Pela primeira vez em dois anos, o Produto Interno Bruto teve um índice negativo na comparação com o trimestre anterior. |
Uma fábrica de colchões no Rio começou 2005 em ritmo acelerado, produzindo o máximo de sua capacidade. Mas o gerente, Fabrício Tepedino, diz que no meio do ano ficou com um estoque acima do esperado e teve que pisar no freio. “O nível de produção como um todo sofreu uma queda comparado ao último trimestre do ano anterior, da ordem de 40%”, diz o gerente da fábrica. Segundo o IBGE, situações como essa se repetiram em todo o país. E ajudaram a derrubar em 1,2% a atividade industrial nos meses de julho, agosto e setembro, em relação ao trimestre anterior. No campo, a produção também perdeu fôlego. Efrain Botrel, produtor de café em Varginha, no Sul de Minas Gerais, diz que teve dificuldades para investir. “A Mão-de-obra encareceu muito e o café não conseguiu acompanhar”, conta o produtor. Problemas não só nas plantações de café. A queda na produção atingiu ainda o trigo e a laranja. Quem poderia ajudar, não apareceu no cálculo: a soja, que tem peso importante na economia, não estava em época de colheita. No terceiro trimestre do ano os investimentos na Construção Civil e na Indústria foram 0,9% menores que no trimestre anterior. Se a comparação for feita com o mesmo período do ano passado a distância aumenta: menos 2,1%. Todos esses fatores levaram a uma redução no PIB de 1,2% em relação ao segundo trimestre do ano. Desempenho que surpreendeu até os analistas mais pessimistas. Em relação ao mesmo período do ano passado o índice fica positivo em 1%, crescimento bem abaixo do esperado. No acumulado dos nove primeiros meses do ano a alta é de 2,6%. Mas o que o consumidor, a dona de casa, têm a ver com o Produto Interno Bruto? Tudo. Segundo o IBGE, eles contribuíram para que desempenho do PIB não fosse ainda pior porque consumiram mais produtos e serviços. Resultado do aumento no número de empregos e principalmente das facilidades do crédito pessoal. Crédito que cresceu quase 40% no trimestre em relação ao mesmo período no ano passado e incentivou o consumo das famílias. Otávio vai se casar mês que vem. O enxoval já está pronto, falta só a geladeira. “Eu pretendo comprar em 12 vezes porque aí facilita mais pra mim”, planeja ele. As importações e as exportações cresceram em ritmo menos acelerado. Em parte por causa do câmbio mais baixo, segundo o IBGE. Para o especialista da Fundação Getúlio Vargas, Rubens Penha, o Brasil ainda pode fechar o ano com crescimento, mas precisa recuperar os investimentos. “As perspectivas políticas que não estão muito confortáveis, está havendo muita instabilidade e isso o empresário privado se retrai e a estatal também. O outro foi a taxa de juros que foi bastante elevada, fazendo com que as pessoas reflitam sobre a melhor hora de se investir, possivelmente deixando pra quando esse juro baixar mais”, avalia ele. A queda do Produto Interno Bruto no terceiro trimestre repercutiu entre empresários, políticos e economistas. O governo já sabia que o resultado do PIB seria negativo, desde a semana passada. Teve tempo para preparar uma explicação, defendendo a política econômica. “A crise política, ela tem uma influência. Porque como explicar que a produção diminua num momento que o consumo está em alta, que há uma demanda das famílias. Nós estamos gerando emprego, a massa salarial está crescendo, o consumo das famílias cresce, quer dizer, então as empresas retraem certamente por alguma incerteza, alguma insegurança gerada fora do âmbito da economia”, avaliou Paulo Bernardo, ministro do Planejamento. “Espero que seja apenas sazonal e que nós tenhamos, mesmo com essas dificuldades, uma melhora”, disse José Alencar, vice-presidente. Analistas foram surpreendidos com o impacto da crise política nos investimentos. “O grande vilão foi o resultado dos investimentos. O IPEA estava prevendo um crescimento, em relação ao trimestre do ano passado, da ordem de 7% e tivemos uma queda. O que houve, portanto, foi que diante da intensidade da crise política o empresariado decidiu esperar para ver o que acontecia antes de iniciar novos projetos de investimentos”, comentou Fábio Giambiagi, economista do IPEA. Crise que também abalou a confiança do consumidor. “As pessoas tão endividadas, porque a inadimplência cresceu e porque o consumidor está um pouco preocupado com essa circunstância política”, acredita Antonio Carlos Borges, diretor da Fecomércio-SP. Mas para os empresários o grande problema continua sendo a taxa de juros. Eles até acreditam numa recuperação do PIB no próximo trimestre. Mas acham que não será suficiente para compensar a queda de 1,2%. “Eu espero que o governo possa fazer agora, sobretudo o Banco Central, um movimento mais firme no sentido de afrouxar a política monetária, de reduzir a taxa de juros”, avalia Armando Monteiro, presidente da CNI. “Para nós é clara a necessidade de queda do juro mais acelerada. Pra nós é necessário que haja um choque de gestão e redução dos gastos públicos urgentemente pra propiciar condições pro aumento de investimento público pra que a gente possa eliminar gargalos de infra-estrutura, eliminação de burocracias”, disse Paulo Skaff, presidente da Fiesp. No Congresso, senadores e deputados criticaram o governo pelo resultado do PIB. “O ministro Palocci não poderia ter informação pior para a gestão da política econômica que não fosse esse 1.2 negativo. Infelizmente é preciso que haja ainda com atraso correções de rumo que o governo não está sabendo fazer na hora certa”, falou o senador José Agripino (PFL-RN), líder do PFL. “Uma política fiscal extremamente restritiva e uma política monetária baseada em taxa de juros de 19% só podia levar a esses resultado”, afirmou o deputado Francisco Dornelles (PP-RJ), vice-líder do PP. Mas também no Congresso, a estratégia para defender a política econômica do governo estava montada. “É inconcebível se dizer que nós não precisamos de superávit primário. Nós temos que ter ao longo de muitos anos pela frente um superávit primário que permita a nossa, a gradual redução da nossa dívida, e como conseqüência a redução dos juros e como conseqüência um crescimento econômico mais vigoroso”, falou o senador Fernando Bezerra, vice-líder. “Os juros podem cair mais e mais rapidamente, há margem no orçamento pra investir um pouco mais, associado ao décimo terceiro salário, esse cenário internacional e as contas externas bastante confortável, permite ao Brasil recuperar o crescimento, que é isso o nosso desafio”, disse o senador Aloízio Mercadante, líder do governo. |