A década do agronegócio

Embarques da agropecuária sustentam, pelo décimo ano consecutivo, superávit nas exportações brasileiras. Recorde de 2008 deve ser quebrado neste mês

28 de dezembro de 2010 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

CAMINHOS DO CAMPO
28/12/2010 
  

 
José Rocher


O agronegócio vai sustentar em 2010 superávit da balança comercial brasileira pelo décimo ano consecutivo, de acordo com relatório do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Desde 2001, quando o saldo das exportações sobre as importações voltou a ficar positivo, os embarques do setor vêm crescendo a ponto de compensar os déficits dos demais setores com folga.


Depois da queda no superávit registrada ano passado – de 9,82% no agronegócio e de 23,08% no total nacional –, os embarques de produtos do campo voltaram a crescer em 2010. A tendência é que o recorde de 2008, com saldo de US$ 59,99 bilhões, seja superado com tranquilidade. As contas que consideram o período de janeiro a novembro deste ano chegam a um saldo positivo de US$ 58,33 bilhões. O valor é 6,18% maior que o saldo de US$ 54,93 registrado nos 12 meses de 2009 e deve chegar a US$ 62 bilhões no fechamento das contas de 2010.


Escoamento da produção em Mato Grosso. A expansão dos embarques brasileiros de soja deve ser maior que a registrada nos Estados Unidos. As exportações devem crescer 9,87%, atingindo 31,4 milhões de toneladas, estima o próprio Departamento de Agricultura dos EUA


O agronegócio funciona como âncora da balança comercial de duas formas: revertendo índices negativos ou componto a maior parcela do saldo positivo. Conforme os números dos últimos dez anos, apenas em 2005 e 2006 o superávit do agronegócio foi menor do que o superávit total do Brasil. Mesmo nesses dois anos, o setor foi responsável por 85,7% e 92,1% do saldo da balança comercial, respectivamente.


Nos outros oito anos desta década, o resultado do setor foi maior, o que significa que, se as im­­portações e as exportações se igualassem, o país voltaria a enfrentar déficit, como ocorreu por seis anos consecutivos de 1995 a 2000. Em 2001, o saldo do agronegócio foi sete vezes maior que o nacional, numa diferença de US$ 2,69 para US$ 19,06 bilhões.


As importações do agronegócio também são recordes neste ano. Houve ampliação no saldo de cereais, farinhas e preparações (10,7%) e no de produtos florestais (64,1%) em relação a 2009. Entre os produtos do setor mais importados estão trigo, papel e pescado. Com gasto de US$ 12,05 bilhões até novembro, o agronegócio está importando 35,6% mais neste ano. Os demais setores ampliaram a compras no exterior em 45,6%, atingindo US$ 154,02 bilhões. O resultado é que as importações totais passam de US$ 166 bilhões, valor 43,9% acima do registrado na mesma época do ano passado pelo país.


Para o ministro da Agricultura, Wagner Ros­­si, os números mostram que, mesmo com o real valorizado, “o agro­­negócio vai bater novo recorde”. A previsão do Mapa é de resultado ainda melhor em 2011, com a ampliação do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBP) de R$ 173 bilhões para R$ 185 bilhões.


Para a presidente da Confe­de­ração da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora a Kátia Abreu (DEM-TO), o agronegócio está retomando a linha de crescimento interrompida logo após os recordes de 2008. Ela considera que 2010 vai representar crescimento de 7% no Produto Interno Bruto (PIB) do setor, que deve atingir R$ 972 bilhões, conforme estudo encomendado pela CNA à Fundação Getúlio Vargas.


A cana-de-açúcar vem sendo decisiva para os resultados deste ano, com aumento de 44,6% na receita das exportações de janeiro a novembro. O faturamento do setor sucroalcooleiro com as vendas para o exterior chegou a US$ 12,61 bilhões, ante US$ 8,72 bilhões registrados em igual período de 2009. O setor registrou redução nos em­­barques de etanol (-31,6%) e ampliação nos de açúcar (+57,6%). Houve ampliação ainda nas exportações de produtos florestais (29,7%), carnes (16,7%), café (31,1%). Esses produtos compensaram redução de 2% nos em­­barques do complexo soja, que arrecadou US$ 16,52 bilhões até o mês passado e ainda pode fechar o ano com índice crescente.

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