Prefeituras da região oferecem terrenos e incentivos para abrigar cinturão de fornecedores da chinesa XCMG em 2014
Pedro Rocha Franco e Marta Vieira
Terra do café, do morango e da eletroeletrônica, o Sul de Minas Gerais promete conquistar mais um título em 2014, o de porto seguro de investimentos da China. Além de atrair os aportes milionários de empresas do gigante asiático, o polo industrial e do agronegócio, que é um dos maiores do estado, se prepara para diminuir a dependência das importações com origem na China, uma espécie de drible no invasor de olhos puxados que abala mercados pelo mundo afora. O município de Pouso Alegre espera neste ano a primeira leva de fornecedores da unidade da fabricante chinesa de máquinas para construção XCMG (Xuzhou Construction Machinery Group). O prefeito Agnaldo Perugini informou que a produção de peças e insumos, como vidros, rolamentos, tintas e toda a parte elétrica e de borracharia, deve ser feita em terras mineiras.
“Prontas para oferecer terrenos e hospitalidade ao cinturão que atenderá a XCMG, com inauguração prevista neste mês, cidades vizinhas, a exemplo de Extrema, esperam receber investimentos de duas dezenas de empresas chinesas. “Queremos fazer com que a região inteira se beneficie do investimento (orçado no equivalente a R$ 500 milhões)”, diz o prefeito de Pouso Alegre, que em setembro do ano passado cumpriu agendas de visitas na China à convite da fabricante de máquinas, junto de representantes de 18 prefeituras mineiras e duas paulistas.
Perugini assinou acordo diplomático com o governo da industrializada Xuzhou, localizada na província de Jiangsu, na costa leste do país, que abriga a XCMG. A chinesa e Pouso Alegre são, agora, cidades irmãs e pretendem estreitar laços culturais, conhecimentos em tecnologia e experiências no campo da atração de investimentos. O sonho do Sul de Minas é reproduzir na região o fenômeno batizado de mineirização de fornecedores capitaneado nos anos 70 e 80 pela italiana Fiat Automóveis em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A curta distância de cerca de 30 quilômetros da planta de XCMG ao município de Estiva é apontada pelo prefeito João Marques Ferreira como o principal diferencial para a cidade ser uma das escolhidas de pelo menos um dos fornecedores. A disponibilidade de terrenos também favorece a cidade, mas ele sabe que para atrair os investidores pode ser necessário conceder incentivos fiscais. Em Pouso Alegre, a estimativa é de que R$ 1 bilhão será aplicado até 2015 para viabilizar a fábrica da XCMG.
“Trouxe esperança para o município. Caso não dê certo, nossa cidade pode acabar virando dormitório. Hoje os ônibus vêm buscar o pessoal para levar para trabalhar em outros lugares”, diz Ferreira. Se escolhida, Estiva receberia sua primeira empresa, colaborando para diversificar a economia, hoje baseada na agricultura.
Boa parte das empresas chinesas visitadas pelos prefeitos tem interesses no Brasil e poderão optar por Minas Gerais, de acordo com o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Júnior, que coordenou missão mineira à China em outubro, organizada com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG). “Tivemos a oportunidade de conhecer desde empresas bem estruturadas e com tecnologia moderna, como também muitas que não têm compromisso com a qualidade”, afirma.
Fôrma mineira
Polo da indústria mineira de eletroeletrônica, Santa Rita do Sapucaí começa em 2014 a substituir boa parte do fluxo de importações que fazem do Sul de Minas Gerais o segundo maior importador do estado de produtos chineses. As compras das empresas são puxadas por gastos de até R$ 4 mil por protótipo fabricado na China que elas encomendam antes de iniciar a produção. Para eliminar a dependência, a indústria mineira passará a contar com um laboratório de prototipagem de mecânica e eletrônica de última geração que está sendo construído no prédio ocupado no município pela escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Minas Gerais (Senai-MG). O projeto permite reduzir o tempo de espera da indústria pelas peças em fibras de vidro, por exemplo, que chegam a demandar entre 60 e 80 dias no percurso da China até Santa Rita do Sapucaí.