Cultivo de café ainda é pequeno em Goiás, mas satisfação dos produtores aponta para crescimento

Por: 04/05/2007 06:05:58 - O Popular - GO

Café, paixão que dá lucro

Por Maria José Braga


O cafezinho – um símbolo da hospitalidade brasileira – está presente à mesa dos ricos, dos pobres e dos remediados. Nos últimos anos, ganhou também lugar especial de consumo: as cafeterias, às vezes sofisticadas, outras nem tanto, mas sempre com muitas novidades na preparação da bebida que é unanimidade nacional. A mistura da tradição com as inovações resultou no aumento constante do consumo de café no Brasil. Mais consumo, bons preços e muito entusiasmo dos cafeicultores e da indústria.


Em Goiás, o cultivo do café não é uma tradição e tem poucos adeptos. Quem se dedica à cafeicultura, entretanto, está satisfeito com a atividade. Muitos cafeicultores goianos aumentaram recentemente suas áreas de café e planejam novas expansões, confiantes na boa produtividade obtida com a irrigação, na manutenção dos preços em patamares que garantam a remuneração do investimento e, principalmente, na continuidade da expansão do consumo.


“Sempre acreditei no café porque é uma bebida consumida por todo mundo”, afirma Edson Emídio Carneiro, cafeicultor no município de Goianira. Ele planta café há cerca de vinte anos, já tentou ficar longe dos cafezais, mas voltou à atividade e é um dos que se dizem bastante satisfeitos com ela. “Tendo um manejo correto e boa irrigação, o cafezal produz bem. O café é um produto fácil de vender. A gente coloca à venda e espera a melhor oferta. Às vezes nem vê o comprador e o dinheiro entra na conta”, diz.


Com 200 mil pés de café arábica em produção, ele colheu, ano passado, 3.252 sacas, que foram comercializadas a R$ 254,00 em dezembro. A produtividade alcançada foi de cerca de 65 sacas/ha. A média nacional no ano passado foi de 19,75 sacas/ha. Em Goiás, cultiva-se apenas o café arábica – que se adapta bem à região e tem sabor e aroma tipo exportação – e em lavouras irrigadas, o que garante melhor produtividade.


A safra de Edson deste ano – ainda em colheita – deve ser um pouco menor do que a passada, em função da bianualidade do café, que afeta a produtividade (num ano o cafezal produz muito e no seguinte produz menos). Mas os cafeicultores aprendem a conviver com a bianualidade e não desanimam com ela. Edson, por exemplo, vai expandir a plantação. Este ano, ele plantou mais 140 mil pés de café que começarão a produzir em cerca de dois anos e meio. Além de aumentar o cafezal, Edson está inovando com uma experiência inédita na cultura.


Exportação

Outro que pensa em aumentar a produção é Marco Alexandre Bronson e Souza, cafeicultor em Catalão. Ele já produz de 20 mil a 30 mil sacas de café arábica por ano, dependendo da produtividade alcançada. Seu cafezal é formado por 2 milhões de pés, plantados em 420 ha, mas em seus planos estão a ampliação da área plantada em cerca de 100 ha. “O que eu gosto no café é que quanto mais você mexe, mais tem de aprender. Acaba virando uma paixão”, justifica.


Marco Alexandre começou a plantar café no final da década de 1990. Resolveu experimentar a cultura para substituir o feijão e o milho, que não estavam dando o retorno esperado. Como a soja estava no auge e a família Bronson e Souza tem amplo domínio do cultivo da oleaginosa – são proprietários das Sementes Talismã – muitos não entenderam por que o investimento no café. “Os amigos diziam que eu estava ficando doido. Hoje, muitos queriam ter um pé de café”, lembra Marco.


Com muito investimento em tecnologia, ele conseguiu garantir produção de primeira, que é toda exportada. No ano passado, a Fazenda Talismã foi certificada pela Utz-Kapeh, certificadora suíça que é uma das mais exigentes do mundo. Na avaliação, além da qualidade do café, entra quesitos como respeito aos direitos dos trabalhadores e medidas para evitar prejuízos ao meio ambiente.


A certificação, entretanto, garante acesso ao mercado internacional e melhores preços na hora da venda. A indústria estrangeira tem preferência pelo café cereja descascado. Quando a fazenda é certificada, chega a obter até 25% a mais por saca. Segundo Marco Alexandre, buscar a certificação exige muito esforço, mas vale a pena. Do mesmo modo, ele afirma que o cultivo do café é uma atividade trabalhosa, por ser detalhista, porém compensadora. Também lembra que não é fácil entrar na atividade porque ela exige investimentos – todo o café plantado em Goiás é irrigado por pivô central ou por gotejamento – e o retorno não é imediato.

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