Por Luiz Silveira Depois de avançar sobre o espaço da pecuária, da soja e do milho, os canaviais já substituem o café em algumas regiões do interior paulista. Em Altinópolis e Patrocínio Paulista, tradicionais municípios produtores de café entre Ribeirão Preto e Minas Gerais, as perspectivas de rentabilidade e estabilidade estão transformando cafezais centenários em […]
Por Luiz Silveira
Depois de avançar sobre o espaço da pecuária, da soja e do milho, os canaviais já substituem o café em algumas regiões do interior paulista. Em Altinópolis e Patrocínio Paulista, tradicionais municípios produtores de café entre Ribeirão Preto e Minas Gerais, as perspectivas de rentabilidade e estabilidade estão transformando cafezais centenários em fazendas de cana.
Munido de planilhas de custo e rentabilidade, o agrônomo Guilherme Salomão Vicentini convenceu a família, que produz café em Altinópolis desde 1918, a migrar para a cana. Três anos depois de Carlos Leonel Vicentini ter concordado com o filho Guilherme, a área de cana da família já supera os 200 hectares, a mesma área que atualmente eles ocupam com café.
“A cada ano, substituo os cafezais que precisariam ser renovados pela cana. Nesses três anos erradicamos 100 hectares de café, ou 300 mil pés”, conta Guilherme Vicentini. Os outros 100 hectares de cana vieram de áreas de pastagem distribuídas nas quatro fazendas da família. Hoje, a rentabilidade da área de cana mais antiga, que já está no terceiro corte, chega a R$ 3,5 mil por hectare, segundo Vicentini. “Basicamente o dobro da área de café”, compara ele, já considerando a rentabilidade média dos cafezais nos anos de safra cheia e safra baixa.
A área de café no município de Altinópolis já recuou de 12 mil hectares a cerca de seis anos para 8,9 mil atualmente, calcula o presidente do Sindicato Rural local, João Abrão Filho. Ele próprio deixou de renovar 20 hectares de café para plantar cana-de-açúcar no ano passado.
“O mercado de café oscila muito e muitos produtores buscam na cana uma estabilidade; a usina pode pagar pela cana até mensalmente”, explica Abrão Filho. Para Vicentini, a cana traz “tranqüilidade”, porque o preço tem menor oscilação.
Próximo da Usina da Pedra e da Usina Nova União, Vicentini decidiu, por enquanto, atuar como fornecedor de cana no mercado spot, sem firmar contrato de fornecimento com uma usina. Ele conta que esse modelo de negócio traz mais rentabilidade do que o simples arrendamento de terra, mas exige conhecimento e gestão do canavial. “A tendência dos mercados de café e de cana mostra que devemos erradicar a cada ano os cafezais em renovação até substituí-los totalmente pela cana”, prevê o produtor.
Cargill motiva
No município de Patrocínio Paulista, ao norte de Altinópolis e já próximo do tradicional pólo cafeeiro de Franca, a cana também está atraindo os cafeicultores. Com a aquisição da Usina Cevasa pela multinacional norte-americana Cargill, no ano passado, o plano é dobrar a capacidade de produção — o que exige novas áreas de cana no município.
O presidente do Sindicato Rural de Patrocínio Paulista, Irineu de Andrade Monteiro, conta que em seis anos a área de cana do município saiu do zero para 15 mil hectares, e para ele essa área não pode continuar crescendo sem tomar espaço do café.
“A substituição de cafezais pela cana começou a dois anos e já chega a 5 milhões de pés de café em Patrocínio Paulista”, calcula Monteiro.
De uma só vez, 3,8 milhões de cafeeiros da Fazenda Colorado foram destruídos para dar espaço à cana no ano passado, conta ele. A propriedade foi vendida à Canagril, grupo de fornecedores de cana da Cevasa que possui cerca de 40% do capital da usina em sociedade com a Cargill.
Considerando a rapidez desse crescimento, os presidentes dos dois sindicatos concordam que apenas os cafezais de topografia acidentada, ruim para a cana, resistirão à migração.