Sempre Coca-Cola? Não se os produtores de coca da Bolívia conseguirem impor a sua vontade. Os agricultores querem que a palavra “Coca” seja suprimida pela fabricante de refrigerantes dos EUA, argumentando que o arbusto pertence ao legado cultural boliviano, onde a folha de coca impregna o cotidiano e é sagrada para muitos.
Uma comissão formada por representantes da indústria da coca que assessora a Assembléia que está reescrevendo a Constituição da Bolívia aprovou uma resolução, na semana passada, na qual exige que a companhia com sede em Atlanta, na Geórgia, retire a palavra “Coca” do seu nome e pede à Organização das Nações Unidas (ONU) a descriminalização da folha.
A resolução exige que “empresas internacionais que incluem em seu nome comercial o nome da coca (exemplo: Coca-Cola), se abstenham de usar o nome da folha sagrada nos seus produtos”.
A comissão, que se reuniu por três
dias em Sucre, cerca de 400 km a sudeste de La Paz, vai na esteira de um esforço encabeçado pelo presidente Evo Morales para reabilitar a imagem da planta, venerada nos Andes por milênios, mas mais conhecida internacionalmente como o ingrediente base da cocaína.
A Coca-Cola divulgou um comunicado na quinta-feira, afirmando que a sua marca registrada é a “marca mais valorizada e reconhecida no mundo” e que está protegida pela legislação boliviana.
O comunicado repetiu desmentidos passados da companhia, de que a Coca-Cola jamais usou cocaína como ingrediente – mas silenciou sobre se a folha de coca natural é usada para aromatizar o refrigerante. Produtores de coca bolivianos dizem que até poucos anos atrás a empresa adquiria toneladas de folhas por ano. Eles se sentem frustrados porque a Coca-Cola pode usar a sua querida folha de coca e, no entanto, não a defende perante um mundo desconfiado.
“Em vez de demonizar a folha, eles precisam entender nossa situação”,
diz David Herrera, supervisor do governo no Chapare, região rica em coca. “Eles exportaram a coca como uma matéria-prima para Coca-Cola e nós nem sequer podemos vendê-la livremente na Bolívia.”
O governo boliviano regula a venda de coca para evitar seu uso pela indústria da droga. Em seu estado natural, a folha verde é apenas um estimulante moderado. O chá de coca é servido no lugar do café nos escritórios da Bolívia e agricultores, mineiros e caminhoneiros costumam mastigar a planta. O governo quer a descriminalização de produtos à base de coca para promover suas exportações.
Morales, um ex-produtor de coca, crê que um mercado internacional para derivados de coca, como chá, farinha, bebidas alcoólicas e até pasta de dente pode atrair parte dos estimados 26,5 mil hectares de coca, retirando-os da rota do comércio da droga.
Os Estados Unidos são contrários à política e dizem que ela só estimula a produção de mais
coca.