No campo, as vacas estão gordas

Publicação: 21/03/07

21 de março de 2007 | Sem comentários Comércio Mercado Interno
Por: GAZETA MERCANTIL

A Secretaria das Relações Internacionais do Ministério da Agricultura anunciou que, no mês de fevereiro, as exportações do setor cresceram 20,7% em relação ao mesmo mês do ano passado. No primeiro bimestre os números são ainda melhores: 25,5% a mais do que em 2006. A aceleração se explica, primeiro, pela expansão das exportações de álcool combustível (alta de 105,2% em fevereiro e 145% no bimestre), ao lado da aceleração das vendas de carne. Este produto, no bimestre, aumentou as exportações em 24,5%, ante janeiro e fevereiro de 2006.


É fato que a forte demanda mundial por etanol dobrou o valor exportado, de US$ 45 milhões em fevereiro de 2006 para US$ 93 milhões neste ano, no mesmo período. No bimestre, o salto foi ainda maior: de US$ 102,6 milhões para US$ 251,2 milhões, entre o ano passado e este. Estes dados têm impacto suficiente para alterar as projeções do agronegócio em 2007. O ministério da Agricultura já trabalha com a “banda mais alta” das previsões para o aumento do PIB do setor.


O governo estimou em até 10% maior a receita cambial do setor agrícola neste ano do que em 2006, que atingiu US$ 49 bilhões. É estimativa modesta, como mostram as projeções das consultorias. Não há dúvida de que o complexo sucroalcooleiro terá cenário externo muito favorável neste ano. O complexo vendeu US$ 1,1 bilhão neste bimestre, porque até mesmo os preços da commodity açúcar estão positivos. É uma bonança em dólares como há muito tempo não se via.


Embutido nestes tempos bons, no entanto, está o risco de que o governo e o próprio setor esqueçam o peso da questão cambial. Há uma propensão para maior acúmulo de reservas, justificado principalmente pelo desejo coletivo de que o dólar não embique demais na direção dos R$ 2, ou até menos disso. Vale notar que o sucesso das commodities agrícolas também faz a sua parte nesta superoferta interna de moeda forte. Basta observar que, no acumulado dos últimos 12 meses, as exportações do setor alcançaram US$ 50,9 bilhões, aumento de 15,6% em relação aos R$ 44 bilhões registrados entre fevereiro de 2005 e março de 2006. Argumentar que as importações no setor cresceram 32,9% nos últimos 12 meses não serve como fator de tranqüilidade cambial, porque em números absolutos as importações totalizaram no último ano US$ 7 bilhões. O bom momento do setor agrícola guarda plena relação com a forte recuperação de preço das principais commodities no mercado internacional, movimento detectado desde o último trimestre de 2006, quando quebras de safra na Argentina e Austrália forçaram o aumento do trigo de 32%. As cotações de soja e milho literalmente pegaram carona nessa sensível recuperação de preço. Os sinais de que a economia chinesa não irá desacelerar no horizonte próximo e de que a aterrissagem, com qualquer intensidade, da economia americana (se vier) só ocorrerá no último trimestre do ano ajudaram muito nesta recuperação dos preços das commodities agrícolas. Isto, independentemente da questão etanol, que tem fator de escalada próprio.


É verdade que no cenário interno há sinais de contenção de preços agrícolas até por excesso de oferta. Para avaliar esta oferta basta observar os dados da Associação Nacional de Difusão de Adubos de que o setor, desde outubro, não consegue dar conta das entregas. Os preços do atacado já revelam este movimento, até mesmo pelo início da colheita da safra de grãos. Na semana passada, consultoria especializada mostrou a queda de 2,7% nas cotações de soja, de 4,4% nas de café e de 6,1% nas de milho. Como as antecipações de crédito do Banco do Brasil sugerem, a safra 2007/08 será mesmo recorde.


O cenário externo indica que os tempos serão realmente bons neste ano para o produtor rural, em especial para o de cana. Entusiasmado, até o presidente Lula já disse que o etanol fará dos usineiros “heróis nacionais” pelo atendimento à demanda mundial de álcool. Apesar deste otimismo, seja pelo câmbio, seja pelo freio na economia americana, cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Em especial, no agronegócio.


kicker: O cenário internacional indica que os tempos serão realmente bons neste ano para o setor agrícola, em especial para o produtor de cana 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.