Publicação: 19/03/07
Os deputados Waldemir Moka (MS) e Reinhold Stephanes (PR) despontam como favoritos para assumir o Ministério da Agricultura, uma indicação que será feita pelo PMDB da Câmara. O nome deverá ser escolhido hoje, em provável reunião do presidente Lula com o recém-reeleito presidente do partido, Michel Temer, que levará ao Planalto uma lista com pelo menos cinco sugestões.
Abaixo de Moka e Stephanes, aparecem os deputados Eunício Oliveira (CE), Fernando Diniz (MG) e Tadeu Filippelli (DF). Indicado na semana passada ao cargo, Odílio Balbinotti (PR) não resistiu às denúncias de supostas irregularidades e tomou, no sábado, a iniciativa de desistir do ministério.
No mesmo dia, Temer comunicou a Moka que ele é o preferido entre os colegas de partido. Integrante da bancada ruralista, teria ainda o apoio de entidades do setor, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Por ironia, são justamente essas características que podem inviabilizar a escolha de Moka por Lula.
Segundo um ministro que acompanha as negociações, o presidente teme nomear para a Agricultura um deputado excessivamente próximo da bancada ruralista, o que poderia tirar dele a autonomia de suas ações na pasta – embora o perfil de Balbinotti tenha pontos semelhantes. De acordo com o mesmo ministro, diante desse cenário a balança pende para Stephanes: ele tem experiência administrativa (foi ministro da Previdência nos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso), conhece bem o setor (foi secretário de Agricultura do Paraná) e vem – como Moka, mas ao contrário dos demais nomes da lista do PMDB – de um Estado essencialmente agrícola.
A resistência de Lula a Moka pode estar associada ao apoio do deputado à candidatura de Geraldo Alckmin nas eleições presidenciais do ano passado. O tucano teve Moka como um dos principais articuladores da aliança que fechou com o PMDB de Mato Grosso do Sul. Ele pediu votos a Alckmin na televisão, tanto no primeiro quanto no segundo turno, e barrou todas as tentativas da campanha de Lula para obter o apoio do partido no Estado. Mesmo sendo primo do ex-governador Zeca do PT, Moka também é visto como ameaça pelos petistas sul-mato-grossenses, que não têm qualquer cargo de primeiro escalão no governo federal.
Se virar ministro da Agricultura, o deputado reforça seu cacife para candidatar-se ao Senado por um Estado de economia fortemente baseada na agropecuária em 2010, quando poderá enfrentar a concorrência do próprio Zeca e de Delcídio Amaral, que finalmente se reaproximou do presidente e Lula e cujo mandato se encerrará naquele ano.
Moka reconhece ter feito oposição ao governo federal e, especialmente, à gestão de Zeca do PT (1999-2006) em Mato Grosso do Sul. Ele afirma que não ficará ” chateado ” se Lula vir um impedimento à sua indicação por esse motivo e se diz bastante disposto a colaborar agora com o presidente, seguindo a decisão da bancada do partido na Câmara de apoiar o governo. ” Não vou renegar as minhas posições passadas ” , avisou. ” Mas se o presidente Lula quiser alguém que representa um sentimento, é uma oportunidade de trazer um segmento ao seu governo, ou pelo menos se aproximar desse segmento ” , acrescentou Moka, em referência à bancada ruralista.
A situação de Balbinotti ficou insustentável menos de uma semana após sua indicação e antes da posse após a divulgação de documentos mostrando que funcionários seus foram usados como ” laranjas ” para obter crédito junto ao Banco do Brasil. Os documentos foram encaminhados pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal (STF), no processo em que Balbinotti é acusado de falsidade ideológica e falsificação de documentos. Funcionários que ganhavam menos de R$ 1 mil tinham dívidas de até R$ 2 milhões com o banco. Pressionado, o deputado, grande produtor de sementes de soja, desistiu do ministério. Mas o PMDB não abre mão do cargo.