Os municípios que têm no café a sua principal economia são os que possuem a melhor distribuição de renda em Minas Gerais. Dados da consultoria Phorum mostram que as cidades cafeeiras registram as menores desigualdades sociais.
Isso porque o cultivo do grão no Estado acontece em pequenas propriedades e demanda muita mão-de-obra.
“Nas pequenas propriedades, existem muitos produtores, que, por sua vez, empregam muita gente. O café requer muita mão-de-obra pelo fato de ser uma economia pouco mecanizada”, explica o consultor e ex-ministro da Fazenda e Planejamento, Paulo Haddad.
Dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) revelam que cerca de 600 dos 853 municípios mineiros cultivam o café. Cerca de 90% da área plantada no Estado está nas mãos de pequenos produtores – ao todo são 150 mil –, com a média de 20 ha de terra por agricultor.
A Zona da Mata e o Sul de Minas são as maiores regiões produtoras de café. Renda O café rendeu aos cofres públicos e privados R$ 5,6 bilhões em 2006, o que representou 26,6% de toda a renda agropecuária de Minas. Quatro milhões de pessoas trabalham direta e indiretamente no setor no Estado.
O cultivo do grão emprega 12 mil pessoas no município de Três Pontas, no Sul de Minas. A mãode- obra empregada diretamente no café representa 22,2% da população total do município.
“Na época da colheita, são criados outros 10 mil empregos temporários”, afirma o prefeito da cidade, Paulo Luiz Rabêllo. Cada trabalhador recebe, em média, três salários mínimos, o que significa uma injeção extra de R$ 3,5 milhões na economia local.
ICMS O café responde por 50% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) de Três Pontas, 20 pontos percentuais à frente do segmento industrial, a segunda principal fonte de renda do município. Mas não são todas as cidades cafeeiras que possuem boa distribuição de renda.
Em Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, por exemplo, o café é a principal fonte da economia, mas o PIB per capita local é de R$ 2.771 por ano, 28,5% da média nacional ou R$ 231 por mês para cada um dos seus 34,8 mil habitantes.
“Nosso problema é não agregar valor ao café. Tentamos atrair indústrias de torrefação, mas é muito complicado, pois esbarramos na falta de oferta de energia elétrica e nas estradas esburacadas. Também não podemos mecanizar a produção para não aumentar o nível de desemprego”, explica o prefeito Ivan Gilson Pimenta de Figueiredo.
Ajudam no sustento da economia de Capelinha as transferências governamentais. Enquanto o café gera R$ 150 mil de ICMS, o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) repassa a Capelinha R$ 600 mil mensais.
Contrastes marcam o Estado
Ao mesmo tempo em que abriga algumas das cidades mais pobres de Minas, a região Leste também tem algumas das cidades mais prósperas do Estado. Graças à presença de grandes empresas do ramo siderúrgico e de celulose e papel, Ipatinga, Belo Oriente e Timóteo ostentam números de fazer inveja aos moradores das grandes cidades, inclusive aos da capital.
Enquanto cada habitante de Belo Horizonte recebe, em média, R$ 10.429 por ano, ou R$ 869 mensais, a renda do ipatinguense é mais que o dobro, R$ 1.842,2 por mês. A cidade é sede da Usiminas, a maior fabricante nacional de aços planos. A empresa emprega cerca de 7.000 pessoas que vivem na cidade e nos municípios do entorno.
Em Belo Oriente, o PIB per capita é ainda maior, R$ 2.289 mensais por pessoa. A cidade abriga a Cenibra, uma das maiores empresas de celulose e papel do país.
Com produção anual de um milhão de toneladas, a Cenibra já tem planos para dobrar sua atividade, o que significará mais riquezas para o pequeno município, que tem pouco mais de 21 mil habitantes.
Além de empregar os moradores da cidade, a companhia garante lugar no mercado de trabalho também para moradores das cidades vizinhas, como Periquito, Cachoeira Escura, Coronel Fabriciano e outras.
Em Timóteo, a presença da Acesita, maior fabricante de aços especiais da América Latina, é suficiente para colocar o município entre os mais ricos do Estado. Na cidade, o PIB per capita é de R$ 26.469 por ano, ou R$ 2.205,75 mensais. O valor equivale a 2,8 vezes a média da renda nacional.
A Acesita emprega cerca de 3.000 pessoas e exporta aço inoxidável para 57 países. Além de gerar impostos para os municípios onde estão instaladas, essas empresas têm forte atuação junto à comunidade.
Enquanto em Naque, por exemplo, a urbanização é um problema difícil de resolver, em Ipatinga, a Usiminas foi a responsável por prover boa parte da infra-estrutura da cidade.
Em 44 anos de atuação no município, a empresa formulou o planejamento urbano e arcou com a construção de 10 mil casas populares, hospitais, estação de tratamento de água, entre outros benefícios. (Ana Paula Em Pedrosa e FD)
ENTREVISTA – Falta de investimento e política assistencialista geram atraso
Ex-ministro do Planejamento e da Fazenda durante o governo Itamar Franco, o consultor Paulo Haddad se debruçou sobre os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que analisaram o Produto Interno Bruto (PIB) per capita dos municípios brasileiros.
O especialista teme que o Leste de Minas Gerais se empobreça cada vez mais, pela falta de investimentos privados de grande porte e políticas sérias na região.
Ele diz que não vê um cenário positivo no médio prazo e culpa a passividade do governo federal, que se contenta em sustentar municípios com programas assistencialistas.
O TEMPO – Qual o cenário para o Leste mineiro? Paulo Haddad – Se nada for feito em caráter de urgência, aquela região terá as mesmas características do Norte de Minas, região marcada pelo excesso de pobreza e pela falta de investimentos.
No Leste, está diminuindo o número de cidades com elevado PIB per capita. Destacam- se, naquela região, Ipatinga, Timóteo e Belo Oriente, em função, respectivamente, das atividades da Usiminas, Acesita e Cenibra.
O senhor disse que as transferências governamentais evitam maior pobreza no Leste e Norte de Minas e no Nordeste do país. O governo federal está no rumo certo com essa política?Muito pelo contrário. A postura adotada pela União é totalmente passiva. O governo federal apenas tirou a população dessas regiões da miséria e as transferiu para a pobreza. Acreditam que o Bolsa-Família e o Bolsa-Escola vão zerar a fome e promover educação de qualidade a todos.
Falta uma política mais séria, que incentive a realização de investimentos, que faça o dinheiro entrar e circular na economia local, promovendo um circulo virtuoso.
Onde a situação é mais crítica? Certamente no Nordeste do país. Mais de 31% dos municípios brasileiros com PIB per capita abaixo de 30% da média nacional estão naquelas regiões. O Nordeste brasileiro é marcado pelo fracasso dos políticos.
Houve algumas medidas boas para a região, como a melhoria da infra- estrutura e incentivos fiscais. Contudo, isso trouxe a corrupção. Dificilmente o dinheiro que saía dos cofres da União era aplicado.
Então a corrupção é o principal fator da miséria nordestina? Talvez seja. Basta ver os fiascos que foram a Sudan e a Sudene. O dinheiro canalizado foi totalmente desviado.
Mais de 50 anos se passaram e o Nordeste do nosso país continua na mesma situação de penúria, e a única medida governamental que se ouve para aquela região é a transposição do rio São Francisco.
Municípios com PIB elevado são necessariamente ricos? R: Nem sempre. É importante diferenciar o que é o PIB de um município do que é a renda do município. Nem todo o PIB se transforma em renda para os habitantes do município onde ocorre a produção.
Por exemplo: os lucros e dividendos gerados pela produção local podem ir para a remuneração de residentes de outros municípios ou países.
Nem toda a renda das famílias do município onde se realiza a produção vem do seu PIB. Basta tomarmos como exemplo a renda das famílias que vem de aposentadorias e pensões ou de transferências governamentais.
Fonte: http://www.otempo.com.br/economia/lerMateria/?idMateria=79993