Aquecimento Global no Brasil, um cenário aterrador

Por: 03/02/2007 05:02:35 - Jornal da Tarde - SP

O aumento da temperatura provocará grandes estragos no Brasil, segundo os especialistas. Uma apreensão que se justifica: o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) José Antonio Marengo, um dos cientistas que participaram do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), estima que até o fim do século a temperatura na Amazônia aumente 8 °C, numa visão pessimista – 3°C a mais que a média mundial. E a região Sudeste registrará aumento de temperatura de 5°C.


A Amazônia virará cerrado. Entre 10% e 30% da floresta serão dizimados pelo calor, mesmo que o desmatamento seja interrompido. Com isso, espécies serão extintas. O semi-árido do Nordeste se transformará em clima árido. No Sudeste, haverá aumento de chuvas, grande circulação de ventos, veranicos e maior propensão a desastres naturais.


Na opinião da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o Brasil não está preparado para enfrentar os efeitos do aquecimento global previsto para os próximos anos: Nenhum país está. O que é dramático é justamente isso.


Regiões costeiras estarão vulneráveis ao aumento do nível do mar, sobretudo Recife, Fortaleza, a Foz do Amazonas e a Ilha de Marajó. Com aquecimento global, não haverá refúgios climáticos. Todos vão sentir.


Cientistas brasileiros que há anos se debruçam sobre o tema preocupam-se com a rapidez com que o processo vem se instalando. Cenários que prevíamos para os próximos 15 anos podem se concretizar em 2, 3, afirma o pesquisador da Embrapa Eduardo Assad, co-autor de um estudo sobre os efeitos do aquecimento na agricultura brasileira. Anteontem, um dia antes da divulgação do relatório, ele e integrantes de uma rede de 30 laboratórios de pesquisa fizeram uma reunião para tornar mais ágeis os estudos e propostas de solução. As providências na agricultura são urgentes. O que pretendíamos fazer com calma agora terá de ser a toque de caixa.


Pelas projeções iniciais do estudo, desenvolvido numa parceria com Universidade Estadual de Campinas e Inpe e com base nos dados de 2001, o aumento da temperatura global atingirá a produção das principais commodities brasileiras: soja e café. Num cenário mais pessimista, o aumento da temperatura levará à redução de 70% da produtividade de soja. O café ficaria restrito a áreas menos quentes.


O arroz, sofrerá queda de produtividade de 30% e o milho, 30%. Em suma: o resultado será prejuízo econômico e fome.


Algumas pistas para enfrentar o aumento do calor já foram dadas. Entre elas, o desenvolvimento de uma segunda geração de sementes transgênicas, mais resistentes ao stress do clima. Grupos já começam a fazer análises de espécies do cerrado, para identificar os genes responsáveis pela maior resistência ao clima.


Outras medidas indispensáveis seriam a adoção de práticas para reduzir a erosão e a inclusão de culturas que auxiliassem o seqüestro do carbono. O plantio, por exemplo, de eucalipto ou milho em áreas contíguas a pastos, dendê com cultura de feijão. Com isso, faríamos a associação de culturas economicamente importantes com outras para evitar o aquecimento.


Todos são unânimes em afirmar também que o combate ao desmatamento é tarefa número um a ser perseguida no País. Conseguimos reduzir em 52% o desmatamento e, com isso, evitamos nos últimos dois anos a emissão de 430 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, afirmou a ministra Marina, que encomendou sete estudos sobre o problema.


Amazônia na pauta


O lobby dos delegados do governo brasileiro funcionou no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). O País conseguiu diminuir os parâmetros que determinam a influência do desmatamento e das queimadas no total de dióxido de carbono emitido por ação humana. Esta é a principal contribuição do Brasil ao efeito estufa, que o coloca entre os principais emissores do mundo.


A posição do Brasil era: é preciso reduzir os 10% a 20% a importância das queimadas e do desmatamento no aquecimento global. Mas ainda mais prioritário é reduzir a queima de combustíveis, que representa de 80% a 90% do problema. Foi uma posição vista como bastante razoável, disse Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo e integrante do IPCC.


A região amazônica foi o principal tema relativo ao Brasil no painel de Paris. O quadro não é estimulante: a temperatura média no Norte, entre 2090 e 2100 será até 5°C superior ao índice médio histórico. Se concretizada a alteração climática, a Amazônia tal como é conhecida hoje tenderá à extinção, cedendo lugar a uma savana semelhante ao cerrado do Centro-Oeste.


O aumento da temperatura na floresta será de até dois graus superior ao crescimento global médio, de 3°C. A variação não será provocada apenas por desmatamento ou as queimadas, mas pelo consumo de combustíveis fósseis, principal agente da concentração de dióxido de carbono na atmosfera.

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.