Mariane Thamsten – O Globo Online
RIO – Aquele zumbido no ouvido, muitas vezes ignorado e considerado “passageiro”, pode sinalizar um problema sério de saúde. Uma pesquisa realizada pela Public Health Agency of América apontou que cerca de 17% da população mundial sofre de zumbido. O estudo revelou ainda que a forma mais severa de zumbido, que corresponde a 20% dos casos, é o terceiro pior problema que acomete o ser humano, só perdendo para a dor e a tontura intensas e intratáveis.
– No Brasil, 25 milhões de pessoas têm zumbido. Destas, 20% procuram o médico otorrinolaringologista para fazer um tratamento. Ou seja, cerca de 5 milhões de brasileiros sofrem com o ruído interno – conta o radiologista e diretor da 3D Diagnose, Heraldo Belmont.
Entre as principais causas do agravamento do zumbido estão o excesso de cafeína no organismo e o consumo exagerado do álcool. Além do café, a cafeína também pode ser encontrada no chocolate, nos chás mate e preto, no chimarrão e nas bebidas dos refirigerantes que têm cola.
– O ideal é que a pessoa não toma mais do que três xícaras de café por dia. Para quem já possui o zumbido, o quadro pode piorar bastante se a pessoa ingerir mais do que essas medidas. Em certos casos, o simples fato de parar de tomar café já resolve. Caso contrário, é imprescindível que se procure o otorrinolaringologista para investigar a causa do zumbido – explica o médico especialista em exames de imagem de cabeça e pescoço.
A otorrinolaringologista Mônica Barros diz que o zumbido é um distúrbio que acomete o indivíduo em qualquer idade. Ele também pode estar associado a um tumor chamado neuroma do acústico, que afeta o nervo auditivo e provoca a perda progressiva da audição. Neste caso, a sensação é a de que existe um grilo falante dentro da orelha.
– Nas crianças, o zumbido é muito comum e está associado a infecções, assim como nos jovens, que também podem sofrer com traumas no aparelho auditivo. Já a partir da idade média (50 anos) as causas podem estar relacionadas à mudança do metabolismo, a alterações na coluna cervial, e o próprio desgaste da audição, principalmente nos idosos – aponta a especialista do Barra DOr.
Segundo ela, o zumbido surge sem que se possa determinar o motivo. Para a médica, a causa única para o aparecimento do ruído interno seria apenas um trauma ou a perda auditiva.
– É muito difícil encontrar a causa do zumbido. Algumas substâncias estimulantes, como a cafeína e o guaraná natural, e medicamentos diuréticos e AAS agravam o problema. E por isso devem ser evitados, principalmente para quem já possui algum distúrbio no ouvido – acrescenta Dra. Mônica.
O acúmulo de cera no ouvido também pode fazer com que o paciente com zumbido tenha maior dificuldade de ouvir os sons externos e fique mais sensível aos ruídos internos.
– A cera atrapalha a passagem dos estímulos sonoros externos. Com isso, percebemos mais o barulho interno – sons que se formam dentro da nossa orelha interna ou em nosso cérebro do que os ruídos externos – explica o médico.
Ele menciona ainda que nos ambientes silenciosos, como a noite, no quarto de dormir, os pacientes com zumbido percebem o ruído com maior intensidade.
Uma outra doença, chamada otosclerose, que leva à surdez e compromete a transmissão dos estímulos sonoros, também pode gerar o problema. Som alto, (discmam, MP3 ou iPod) e doenças como hipertensão do labirinto, diabetes, otite (inflamação orelha média) e viroses com comprometimento do nervo auditivo podem provocar o zumbido.
Zumbido x labirintite
O zumbido auditivo não deve ser confundido com labirintite. São problemas diferentes, mas o zumbido pode estar presente em uma labirintite, que acomete a orelha interna, responsável pelo nosso equilíbrio, postura e orientação no tempo e espaço. Segundo os especialistas, os tratamentos para o problema vão desde o uso de medicamentos e aparelhos auditivos, até a estimulação por meio de sons. Porém, o mais importante é buscar um diagnóstico preciso e rápido.
– É necessário analisar todas as hipóteses, porque a causa do problema pode ser algo bem simples, como a ingestão excessiva de café, ou mesmo uma complicação mais grave, como um tumor – alerta o Dr. Belmont.
Já a labirintite é um termo popular usado para se referir aos distúrbios do labirinto, órgão responsável pelo equilíbrio e audição. Em certos casos, tonturas e vertigens podem significar o primeiro sinal de alguma doença grave.
Fonte: http://oglobo.globo.com/saude/vivermelhor/mat/2007/01/31/287630790.asp