O investimento estrangeiro no agronegócio ganhou contornos mais profissionais. Se, antes, era o produtor estrangeiro que comprava terras aqui e apanhava para descobrir a lógica local dos negócios e aprender a língua, como ocorreu no oeste da Bahia, hoje são os fundos de investimento que começam a dominar a cena.
Com a abundância de capital financeiro em busca de bons negócios, o Brasil começa a atrair esses investidores.
“Estamos vivendo uma segunda etapa do investimento estrangeiro no agronegócio, em que os fundos de investimento compram participações em empresas estabelecidas ou fazem joint ventures”, diz o secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, João de Almeida Sampaio Filho. O investidor estrangeiro não vem para ser o produtor, observa.
Essa também é a constatação de Valentino Rizzioli, presidente para a América Latina da CNH, fabricante de máquinas agrícolas. “O produtor brasileiro tem tecnologia apurada”, diz ele. Sabendo disso, o investidor estrangeiro procura fazer associações. Segundo Rizzioli, a etapa do campo fica com o produtor local e a comercialização, com o investidor estrangeiro.
O exemplo mais notório nesse sentido, lembra o diretor da Agroconsult, André Pessoa, foi a parceria firmada este mês entre o fundo de investimentos imobiliários BrasilAgro, de capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), e o Grupo Maeda, de Ituverava (SP), o mais tradicional produtor de algodão do País.
Eles fizeram uma parceria na qual o Grupo Maeda ficará responsável pela produção agrícola nas fazendas que a BrasilAgro e o grupo adquirirem em sociedade. “Com isso, a BrasilAgro deverá expandir seu negócio principal, que é o imobiliário rural”, diz o presidente da BrasilAgro, Ivo Cunha.
Longo prazo Sampaio Filho destaca que os fundos estão fazendo investimentos de longo prazo. Quando olham para a bovinocultura, por exemplo, sabem da eficiência da pecuária brasileira, de olho no boi verde produzido aqui. É que, depois dos problemas da doença da Vaca Louca na Europa, o boi criado no pasto voltou a ser valorizado.
A internacionalização do agronegócio é positiva para ambos os lados, observa o secretário. Segundo ele, o efeito imediato é a profissionalização maior do setor. Além disso, como o investidor estrangeiro fica, em geral, com a parte da comercialização dos produtos no mercado internacional, esse é um fator que certamente vai contribuir para a abertura de mercados externos para os produtos brasileiros e para quebrar as barreiras internacionais.
O secretário diz que vários grupos estão prospectando novos negócios para investir em cafés especiais e na produção de laticínios no Estado de São Paulo. Sem revelar nomes, ele conta que um grupo europeu pretende investir na bovinocultura paulista. Isso mostra que a febre aftosa que atingiu o rebanho em algumas áreas do País já não significa um risco aos olhos do estrangeiro.
“Até o setor da borracha está atraindo os estrangeiros”, diz Sampaio Filho. No segundo semestre de 2006, um grupo de investidores do Sudeste Asiático veio olhar os seringais brasileiros, atraído pela produtividade elevada das grandes propriedades. “Mas eles acharam o preço da terra elevado e ficaram de estudar o negócio.” Não é à toa que o agronegócio brasileiro desperta tanto o interesse do capital estrangeiro. Sampaio Filho lembra que o País é o maior produtor mundial de bovinos em escala comercial, de café e fumo; é vice-líder na produção de soja; é o maior exportador de açúcar e tem grande potencial na fruticultura e no segmento de flores.
Pessoa alerta para alguns obstáculos, como a infra-estrutura. Ele cita o caso do grupo americano Smith Fields, que montou uma abatedouro em Diamantino (MT) com a intenção de processar 51 mil matrizes diariamente, mas não passou de 5 mil por causa da infra-estrutura. As informações são de O Estado de S.Paulo. *Colaborou Agnaldo Brito –>