ES investe em educação para crescer com qualidade

Por: 09/01/2007 12:01:58 - Clipping Ministério do Planejamento

Diante de um quadro crônico de carência de trabalhadores treinados, a Petrobras e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) estão correndo juntas contra o tempo para criar no Estado uma base de mão-de-obra especializada que permita aos capixabas ocupar a maior parte dos postos de trabalho a serem criados por meio dos US$ 9 bilhões (cerca de R$ 20 bilhões) que a estatal deverá investir ali de 2007 a 2011.


A preocupação não é só da empresa e da instituição federal. O governo do Estado está deslanchando um programa de compra de vagas em escolas particulares, diante das limitações da rede pública, com o mesmo objetivo. Segundo a secretária de Educação do Estado, Anna Maria Marreco Machado, serão oferecidas por este sistema 800 vagas em cursos profissionalizantes que se somarão a 700 bolsas já concedidas.


Ela disse também que foram abertas desde 2005 três novos Centros Estaduais de Ensino Técnico (CEETs), com 1.968 vagas e foram criados 96 cursos profissionais, com 8.052 vagas, em 49 municípios, com meta de abranger os 78 municípios ao longo do atual mandato. O orçamento estadual para o ensino profissional passou de R$ 20 milhões em 2006 para R$ 58,6 milhões em 2007.


Com previsão de receber em cinco anos investimentos privados de pelo menos R$ 43 bilhões, superiores ao seu Produto Interno Bruto (PIB) atual, estimado em R$ 40 bilhões, o Espírito Santo corre para ficar com o bônus da renda de todo esse trabalho e, ao mesmo tempo, evitar um indesejável fluxo migratório que acelere as já fortes demandas por serviços básicos.


No começo do segundo semestre deste ano a Ufes inaugurou seu primeiro curso de engenharia do petróleo no campus do município de São Mateus (norte do Estado), capital estadual da produção de petróleo em terra. Também foram criados três cursos específicos, cada um com 30 alunos e cerca de 400 horas/aula para formar pessoal nas áreas de engenharia de planejamento, duas especialidades de engenharia de campo, construção e montagem.


Além disso, segundo o pró-reitor em Pesquisa e Pós-Graduação da Ufes, Francisco Emerich, estão sendo oferecidas vagas de graduação e pós-graduação em mecânica, oceanografia e meio ambiente, em parceria com o Programa de Recursos Humanos da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A Ufes está hospedando também, desde 2005, em parceria com a Petrobras, o Centro de Competência em Óleos Pesados e Extrapesados, destinado a liderar os estudos sobre o tema em todo o país.


De acordo com Nery Milani de Rossi, gerente de Suporte Técnico da Unidade de Negócios da Petrobras no Espírito Santo, a empresa vai elevar a produção no Estado de atuais 78 mil barris por dia (média de outubro) para cerca de 350 mil barris por dia em 2010. Já em 2007 a média de produção deve crescer para 150 mil barris por dia, com pico de 190 mil em dezembro. Além disso, a oferta de gás no Estado deverá passar de 1,3 milhão de metros cúbicos/dia para 20 milhões de metros cúbicos com o desenvolvimento de campos como o de Golfinho.


Parte dos investimentos previstos (cerca de R$ 480 milhões) será destinada à construção de uma nova sede para a estatal em Vitória, destinada a abrigar 1.500 empregados. A empresa também tem planos, ainda não sacramentados oficialmente, de construir uma base operacional no município de Anchieta, no sul do Estado.


Desde 2005 foram abertos três centros estaduais de ensino técnico e foram criados 96 cursos profissionais


A Petrobras será, sem dúvida, o motor dos investimentos no Espírito Santo nos próximos anos, mas há uma enorme quantidade de projetos engatilhados no Estado a demandar mão-de-obra especializada. A expansão da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) a ser inaugurada no começo do próximo ano, prevê a ampliação da capacidade de produção de aço de 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas/ano. A mineradora Samarco (Vale/BHP Billiton) está construindo uma nova unidade de pelotização, a terceira. A própria Vale prepara-se para fazer sua sétima pelotizadora.


Além dos grandes empreendimentos, o Estado desenvolveu projetos para atrair fornecedores para as indústrias do petróleo, de mineração e metalurgia, de papel e celulose, e está estimulando, no interior, a expansão de pólos produtores de rochas, móveis, confecções e frutas, sem abrir mão do seu produto mais tradicional, o café, do qual é o segundo maior produtor do país.


Todas essas possibilidades fazem a elite capixaba sonhar. A introdução do plano estratégico “Espírito Santo 2025”, feito em parceria pelo governo do Estado e a ONG empresarial Espírito Santo em Ação, começa assim: “Estamos em 2025. O Espírito Santo acaba de se tornar um dos primeiros Estados do Brasil a conquistar um padrão de vida semelhante àquele experimentado pelas nações mais desenvolvidas.”


O governo do Estado está convencido de que é possível levar a cabo os ambiciosos objetivos do plano. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Dias (foi ministro do Planejamento no segundo governo Fernando Henrique Cardoso), avalia que para os próximos cinco a seis anos a agenda do crescimento capixaba já está dada, uma vez que os projetos que irão viabilizar essa agenda estão em andamento e são irreversíveis.


“A nossa agenda é ligeiramente diferente da do país. A do Brasil é acelerar o crescimento. O nosso já está contratado para os próximos anos, mesmo com baixo crescimento da economia brasileira. O nosso problema é a qualidade do crescimento”, teoriza Dias.


Na verdade, embora o último número oficial do PIB dos Estados seja o de 2004, ano no qual o Espírito Santo cresceu exatamente a média nacional (4,9%), alcançando um valor de R$ 34,5 bilhões, as autoridades estaduais estão certas de que em 2005 e em 2006 o PIB estadual cresceu acima da média brasileira. De janeiro a outubro de 2006, a produção industrial capixaba cresceu 7%, mais do que o dobro da média nacional (2,9%) e menor apenas do que o Pará (14,6%) e o Ceará (8,8%).


Apesar do quadro favorável ao crescimento, há no governo estadual a convicção de que sem que os capixabas aproveitem as oportunidades para ter mais empregos e ganharem mais, não vai valer a pena. Na semana passada, recém-chegado de Dubai (capital dos Emirados Árabes) onde foi ver a obra de uma plataforma da Petrobras em construção naquele país, o governador Paulo Hartung lamentou: “Tinham mil homens trabalhando (na obra). Aqueles empregos eram nossos.” Na construção da plataforma P-34, da Petrobras, o acerto inicial era de que fosse contratada mão-de-obra local. Não havia. Segundo o governador, estão faltando até operadores de equipamentos em obras públicas.


A carência de pessoal treinado pode desencadear outro fenômeno problemático: a migração descontrolada que agravaria os já enormes problemas de infra-estrutura urbana do Estado. Por enquanto, os dados disponíveis não chegam a preocupar. Segundo as projeções do IBGE, de 2001 a 2005 a população capixaba cresceu 6,73%, menos do que os 8,87% da média brasileira. Segundo a economista especializada em demografia Aline d”Avila, as maiores migrações para o Espírito Santo aconteceram nas décadas de 1970 e 1980, quando os grandes projetos industriais foram implantados.


Mas ela detectou uma tendência preocupante para os próximos anos: a do inchaço da região metropolitana de Vitória, que em 2005 contava com 1,68 milhão de habitantes, pouco menos da metade da população do Estado (3,4 milhões). Com base em números reais de 1996 e 2000 extrapolados para até 2020, ela conclui que em 2010 a região metropolitana já terá 52,7% da população total e em 2020 chegará a 58,8%

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