Um amplo estudo realizado pelo Ministério da Agricultura sobre o cenário agropecuário internacional nos próximos dez anos indica que o Brasil deve ampliar de 38% para 51% sua fatia na exportação mundial de soja até o ano-safra 2015/16. A participação do atual líder nesse ranking, os Estados Unidos, deverá cair de 48% para 27% no período, segundo estimativas da Assessoria de Gestão Estratégica do ministério. A Argentina continuaria no terceiro posto.
As projeções obtidas pelo Valor também apontam para mudanças no ranking mundial da produção do grão. Em dez anos, o Brasil deve elevar sua participação global de 27% para 34%. Os produtores dos EUA devem responder por 30% do total – hoje, detêm 36%. E a Argentina seguirá na faixa de 20% da produção mundial. Somada, a produção dos três países corresponderá a 84% do total. Em 2016, a produção mundial de soja deve chegar a 277 milhões de toneladas, o que significa uma elevação de 23,8% na comparação com a safra 2005/06. O Brasil produzirá 93 milhões de toneladas do grão e os EUA, 82,5 milhões. Maior país importador, a China responderá por 52% das compras totais de soja no exterior e por 24% do consumo mundial.
O cenário desenhado pela equipe do pesquisador-chefe Elísio Contini mostra que o agronegócio brasileiro tem forte potencial de crescimento em razão do aumento da demanda mundial por alimentos suscitada pela elevação da população e da renda mundial. A produção nacional de grãos, por exemplo, pode chegar a 148 milhões de toneladas em 2016/17. A projeção é 27% superior aos 116 milhões de toneladas da temporada 2005/06. A área plantada, segundo o estudo, pode crescer até 16% no período, de 44,4 milhões para 51,4 milhões de hectares.
Já a produção brasileira de carnes deve crescer até 10 milhões de toneladas, somando 31,4 milhões, com amplo destaque para frangos e bovinos. A performance seria 45% superior à produção brasileira de 21,7 milhões estimada para 2006. A produção carne bovina deve crescer a taxas anuais de 2,5%. No frango, a expansão deve chegar a 4,1%. A carne suína deve crescer 2,1%. Até 2017, o país deve exportar 3,45 milhões de toneladas de carne de frango; 2,8 milhões de bovina e 800 mil toneladas de suína.
Mas, apesar do otimismo, existem fatores de muita incerteza a dificultar a expansão do agronegócio nacional nos próximos dez anos. Entre os principais, estão o crescimento econômico mundial abaixo do previsto, o crescente protecionismo dos países desenvolvidos, a falta de investimento em infra-estrutura no país, além de atrasos tecnológicos e problemas na defesa agropecuária.
“A dinâmica do agronegócio brasileiro está vinculada à exportação, embora seja amplo o mercado interno”, diz o coordenador de Planejamento Estratégico do ministério, José Garcia Gasques. “Para os próximos anos, o fator dinâmico do crescimento será a produtividade”. O estudo indica a tendência para a exportação de produtos de médio e alto valor agregado por causa do custo de transporte.
O estudo mostra que o Brasil será um “país-chave” na formação dos preços mundiais do açúcar. Os produtores nacionais continuarão a liderar em produtividade e a exportação da commodity. A produção deve crescer a uma taxa média anual de 4,2% e somar 43,2 milhões de toneladas em 2017 – um acréscimo de 16,5 milhões de toneladas no período. As exportações devem crescer 3,7% ao ano, para 25,3 milhões de toneladas.
Atual vedete do agronegócio, a produção brasileira de etanol deverá dobrar até 2017, chegando a exportações totais de 10,3 bilhões de litros. “Isso sem contar eventuais aberturas de mercados externos importantes ao nosso álcool”, afirma Gasques.
Base para a alimentação animal e para o etanol americano -, o milho corre riscos. Projetada para chegar a 61 milhões de toneladas na safra 2014/15, a produção brasileira será apertada para atender ao consumo interno e gerar excedente exportável. A folga deve ser de apenas 2,8 milhões de toneladas. Além disso, o consumo de trigo continuará a aumentar e o país precisará importar até 8 milhões de toneladas em 2017. Hoje, são 5,5 milhões. A produção e consumo de arroz crescerá pouco e país seguirá como importador líquido de arroz. Em café verde, a exportação pode chegar a 28,9 milhões de toneladas, segundo o estudo.