Publicação: 28/11/06
Empresa de marketing buscará aumentar o consumo em países produtores com baixo percentual de uso do próprio grão
Produtores brasileiros serão beneficiados pelo sucesso do programa, pois terão mais espaço para o café nacional nos mercados
MAURO ZAFALON ENVIADO ESPECIAL AO ESPÍRITO SANTO
O Brasil é um dos poucos países que, além de grande produtor, também é grande consumidor de café. Pelo menos 45% do que se produz por aqui é consumido pelos próprios brasileiros. No Vietnã, o segundo maior produtor mundial, o consumo interno é de apenas 6% do que se produz. A Organização Internacional do Café quer mudar essa tendência e incentivar o consumo de café nos países produtores. Uma empresa brasileira, a P&A Marketing Internacional, com 20 anos de experiência no setor, está encarregada de elevar o consumo nesses países produtores com baixo percentual de utilização do próprio café. Índia, México e Indonésia já iniciam programas em conjunto com a P&A, enquanto El Salvador manterá o primeiro contato com a empresa em janeiro. El Salvador é a base para o desenvolvimento de um programa em toda a América Central. O programa é ousado e espera dobrar o consumo de café em alguns desses países em apenas cinco anos. Carlos Henrique Jorge Brando, da P&A, diz que “Índia, México e Indonésia têm população de 1,5 bilhão de pessoas e consomem 5 milhões de sacas de café atualmente. A previsão é que esse volume suba para 7 milhões a 9 milhões de sacas em cinco anos”. Com o desenvolvimento desses programas, “o grande ganhador será o Brasil, que terá espaço maior para o produto nacional nesses mercados. Esses países não têm como elevar a produção e vão ter de importar café”, afirma Brando. Um dos pontos dessa busca pela elevação no consumo de café nos países produtores é o exemplo brasileiro, que saiu de 12 milhões de sacas para 16 milhões em poucos anos.
Peculiaridades Brando diz, no entanto, que “nem tudo que foi bom para o Brasil será para esses países, que têm consumo com características próprias”. Alguns deles já tentaram implantar um programa semelhante ao brasileiro e falharam. Brando diz que cada mercado tem peculiaridades que devem ser respeitadas. Na Índia, o café vem misturado com chicória (uma raiz que é torrada, moída e adicionada ao café). O programa pretende criar uma certificação sobre a quantidade de adição de chicória para o consumidor saber o que está comprando. Na Indonésia, o café é misturado ao milho. Essa mistura é legalizada, e o importante é o consumidor saber qual o teor de mistura. No México, o café não tem mistura, mas a gama de produtos colocada à venda é muito grande, e o consumidor não tem noção do que está comprando. Apesar de problemas específicos, esses países têm de dar algumas soluções comuns a seus mercados, como uma rotulagem especificando as características e a qualidade dos cafés. Uma espécie de selo de qualidade como o criado pela Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) no Brasil e que permitiu o aumento do consumo interno. Os caminhos para esses países atingirem o objetivo de aumento será descobrir, por meio de pesquisas, os problemas do mercado. O programa vai utilizar, ainda, ferramentas já adotadas no Brasil, como concursos de qualidade e leilões. Além disso, Brando diz que serão necessários acordos institucionais com parcerias entre governo e iniciativa privada.
Medidas A P&A está fazendo reuniões com toda a cadeia -produção, indústria e revendas- para adotar linhas estratégicas. O programa passa pela criação de transparência na apresentação do produto, certificações de qualidade e indicação do café como um produto saudável e benéfico à saúde. O avanço do consumo nesses países passa, ainda, pela resolução de problemas específicos de cada um deles. Na Índia, por exemplo, há uma discriminação fiscal contra a importação de equipamentos destinados a café, ao contrário dos destinados ao chá. No México, o consumo está concentrado apenas no café da manhã. Já na Indonésia, o tipo de preparação do café -o pó também vai à xícara- começa a desagradar aos jovens. O programa de apoio ao aumento de consumo de café deverá ter recursos não só das entidades locais mas também do Fundo Comum de Produtos Básicos, sediado na Holanda e com recursos dos países da União Européia.