A entrada do café no Brasil pode ser considerada o primeiro caso de biopirataria de que se tem conhecimento. Em 1727, a pretexto de resolver questões de fronteira com a Guiana Francesa, o governador do Pará, João da Maia da Gama, mandou para o local o oficial Francisco de Mello Palheta. Ali, os franceses já plantavam o café, mas, tanto quanto os árabes, eram ciosos da preciosidade e não permitiam a saída de mudas ou sementes. Porém, na carta que escreveu a Palheta, o governador não deixou de anotar: “Acauzo entrar em quintal, ou jardim ou rossa ahonde houver Caffee, com pretexto de provar alguma fruta, verá se pode esconder algum par de graons com todo o disfarce e toda a cautella”. Conhecido como sedutor e galanteador incorrigível, Palheta resolveu rapidamente o problema dos limites de fronteira e caiu nas graças – e, aparentemente, também nos braços – da esposa do governador da Guiana. Dela ganhou cerca de mil sementes e cinco mudas de café, que iriam mudar o destino econômico do Brasil. Plantado no Pará, o café desceu para o Rio de Janeiro, se espalhou pelo Vale do Paraíba em São Paulo, chegou a Minas Gerais, Paraná, e Espírito Santo. Considerado apenas um produto para o consumo interno até o final do século XVIII, o café se expandiu a partir de meados do século XIX, tornando-se o principal produto do Brasil. Em 1840, o País já era o maior produtor mundial e, em 1870, o café já respondia por 56% das nossas exportações. São Paulo se transformou na capital oficial do produto, tendo como pólos principais as cidades de Campinas e Ribeirão Preto. Com a proibição do tráfico de escravos, as lavouras passaram a exigir a mão-de-obra dos imigrantes. Foi o que abriu a porta para a chegada de camponeses italianos, portugueses, espanhóis e até alemães. Além disso, a proibição do tráfico de escravos liberou um volume de capital até então envolvido apenas com o comércio negreiro. Parte desse dinheiro foi para o investimento na expansão do café, outra parte se destinou aos empreendimentos comerciais e industriais. Na esteira dessa onda, vieram as ferrovias, as companhias exportadoras, os bancos e as melhorias urbanas, como iluminação, telégrafo e telefone. Na virada do século XX, uma elite formada pelos barões do café dominava o cenário político. Mas, por essa época, já havia sinais de crise: para uma produção de 20 milhões de sacas, havia um consumo mundial que não passava de 16 milhões. No Brasil, a crise estourou em 1929, com o colapso da Bolsa, o que levou o governo brasileiro a queimar seus estoques para tentar manter os preços internacionais. Ruíram as fortunas acumuladas pelos barões do café. Com os preços em queda, o produto foi perdendo importância nas exportações brasileiras: depois de representar 70% na década de 1920, caiu para 10% nos anos 1980 – índice que se mantém até hoje, ainda que o País continue o maior produtor e exportador mundial. ( TT ) |