O CISNE NEGRO VOLTOU! Por Marcelo Fraga Moreira*

O famoso “Cisne Negro” voltou deixando alguns participantes/especuladores ricos e outros no prejuízo.

14 de novembro de 2021 | Sem comentários Mercado
A semana foi emocionante! O Dez-21 fechou a sexta-feira @ 219,70 centavos de dólar por libra-peso rompendo as resistências e acionando “stops” (o Dez-21 chegou a oscilar +2.220 pontos entre a mínima e a máxima, respectivamente @ 199,30 e 221,50 centavos de dólar por libra-peso – a máxima do ano). Com o início das rolagens das posições do Dez-21 para o Março-22 e junto com o vencimento das opções do vencimento Dez-21, na sexta-feira, o volume dos contratos negociados na semana foram recordes nos últimos 12 meses! Nos 3 primeiros pregões o mercado negociou entre +80.000/+83.500 lotes/dia, e na quinta e sexta-feira acima dos +100.000 lotes/dia (Apenas em contratos futuros o mercado negociou +447 mil lotes. Considerando “futuros+opções” foram negociados próximos dos 500.000 lotes!).
O famoso “Cisne Negro” voltou deixando alguns participantes/especuladores ricos e outros no prejuízo. E que prejuízo! Ganhos/prejuízos milionários! As famosas “opções que iriam virar pó”, com pouca “probabilidade de serem exercidas”, com o “delta praticamente zero” explodiram! Por exemplo, a opção com strike 210,00 em 2 dias saiu de 50 pontos para valer 1.000 pontos! A opção com strike 212,50 (que amanheceu na quinta-feira praticamente valendo “zero”) chegou a valer 900 pontos! E a de 215,00 / 220,00 então?
Felizmente nossos leitores que nos acompanham há meses já estavam atentos e conseguiram se proteger / tirar proveito dessa movimentação do mercado!
Como ilustração, um investidor que vendeu uma opção de compra “call” strike 210,00 centavos de dólar por libra-peso por 50 pontos, esperando receber 0,6614 US$/saca, se não “estopou/zerou”, chegou a perder 1.150 pontos ou incríveis 15,21 US$/saca! Considerando que 1 contrato em NY = 288 sacas de café, e que esse investidor vendeu apenas 10 lotes apostando que a opção iria virar pó, e que iria “colocar bolso” +1.904,83 US$ pode ter saído do mercado perdendo até 43.811 US$!  Isso mesmo! 43.811 dólares em apenas 10 lotes! Sem falar nos famosos “acumuladores” que “apareceram e dobraram” nos últimos 2-3 dias da semana e também devem ter machucado muita gente!
Novamente, cuidado e muita atenção quando essas estruturas forem oferecidas para vocês! Não coloquem riscos desnecessários nos seus livros! Quando o problema “aparecer”, quando os “acumuladores” derem o famoso “knock-in” os  “lobos” irão se preocupar apenas em receber os valores devidos!
As opções com exercício 210,00 / 215,00 e 220,00 centavos de dólar por libra-peso amanheceram na sexta-feira com +2.294 / +1.608 / +4.027 lotes em aberto! A opção de 210,00 c/lb fechou a sexta-feira @ 970 pontos, a opção de 215 c/lb fechou @ 470 pontos, e a opção de 220, após chegar a valer mais de 150 pontos virou pó! Como ilustrações, a opção de 210,00 c/lb saindo de 50 pontos para 970 pontos x +2,294 lotes representou uma transferência de valor na ordem dos 8.477.188,14 US$!
A opção de 215,00 c/lb saindo de 30 pontos para 470 pontos x +1,068 lotes representou uma transferência de valor na ordem dos 1.912.298,94 US$! E a opção de 220,00 saindo de 2 pontos para 150 pontos x +4.027 lotes representou uma transferência de valor na ordem dos 2.301.227 US$!  
Apenas nesses 3 exemplos o mercado assistiu a uma transferência de riquezas entre os que estavam posicionados e apostando contra a alta X os que estavam apostando na baixa do mercado em aproximadamente 12.690.714 dólares!
Como o mercado futuro é um mercado de “Soma Zero”, então se “alguém comprou alguém vendeu”, e se “alguém ganhou alguém perdeu”!!
Fica aqui mais uma lição para nossos leitores (eu me incluo nesse aprendizado): próximo ao dia do vencimento das opções, em qualquer mercado, se você estiver vendido e/ou a opção estiver valendo o famoso “pozinho”, liquide sua posição, caia fora, e deixe o jogo ser jogado pelos “tubarões”! Nesse mar agitado os “lambaris” sempre serão devorados! Primeiro irão sangrar… até morrer!
Voltando aos nossos fundamentos, na semana tivemos novos números publicados pelo Rabobank e Hedgepoint referente estimativas para a safra 22/23. O IBGE finalmente publicou o estoque de passagem de café estimada em 16,667 milhões de sacas com base no dia 30 de junho de 2021!
Claro, até o momento a Conab não se pronunciou e seguimos cobrando nossos líderes do setor para tomarem as providências para podermos ter transparência e credibilidade nas nossas instituições.
Tomando por base a média aritmética simples entre os números já apresentados para a próxima safra 22/23 pelo Itaú-BBA, Rabobank, Hedgpoint, Ecom, e Monte Santo Tavares, o “mercado” estima uma safra 22/23 em 64,3 milhões de sacas. Entre os produtores a estimativa está entre 45-55 milhões de sacas. Minha estimativa segue, por enquanto nos 54,5 milhões de sacas. Apenas o tempo dirá quem está certo.
A safra 21/22 já acabou e os números seguem sendo uma incógnita, oscilando entre 40-56 milhões de sacas!
No nosso mercado de café ser “analista” não é fácil. Nossas estatísticas são falhas, temos que assumir premissas, números de terceiros, trabalhar com o que temos nas “mãos”. Dependemos dos números da Conab, do IGBE, do USDA*, da IOC*, do Cecafé, dos dados apresentados pelos bancos/corretoras e analistas independentes, e muitas conversas e visitas entre os produtores. Depois, “colocar tudo no liquidificador” e com base na nossa experiência, criar cenários, premissas e “dar a cara para bater”!
Analisando apenas os números do Rabobank referentes a safra 21/22 e 22/23 em 72,00 milhões de sacas e 63,50 milhões de sacas respectivamente, e mantendo todos os outros números referentes ao estoque de passagem mundial com base no USDA* e o consumo com base na IOC*, então o mercado terá café suficiente para seguir abastecendo a demanda mundial pelos próximos 2-3 anos. E o famoso índice “Estoque x Consumo” continuará “tranquilo”. Já com base na produção para a safra 21/22 estimada pela Conab em 46,90 milhões de sacas e com a previsão da Archer para a safra 22/23 em 54,70 milhões de sacas o índice “Estoque x Consumo” será explosivo… Só o tempo dirá quem estava certo…
Se existe café disponível no Brasil e no mundo então por que o mercado segue subindo?  E por que as notícias/informações/projeções colhidas junto aos produtores e analistas estão tão discrepantes?
Vejam como essas analises/estimativas geram números/projeções tão discrepantes. E como esses números podem influenciar as tomadas de decisões entre os participantes do mercado:
Conforme a planilha acima eu acredito que o índice “Estoque x Consumo” deverá ficar abaixo dos 14% na safra 21/22, abaixo dos 10% na safra 22/23. Para esse índice voltar a ficar acima dos 15% e dar tranquilidade ao mercado temos 2 opções: a demanda irá diminuir (em função aumento dos preços para o consumidor) ou a produção mundial vai ter que aumentar e/ou estoques terão que aparecer em algum lugar.
Próximos dias poderemos ver o mercado caindo -1.500/-2.000 pontos. Essa correção será saudável e abrirá espaço para novas altas. Próximos suportes no Set-22 agora @ 220,00 e 202,00 centavos de dólar por libra-peso. Resistências @ 224,45 / 227,00 e 230,00 centavos de dólar por libra-peso.
 
Seguimos altistas para o mercado com 280,00 centavos de dólar por libra-peso sendo o objetivo para o médio prazo. O mercado poderá buscar os 300/350/400/500 c/lb? Sim! Possível? Sim! Provável? Por enquanto acreditamos que não. Mas, onde “tiver cheiro de  sangue” os “tubarões” poderão fazer novas vítimas”. Cuidado!
 
Com os custos de produção estimados ao redor dos 800/900 R$/saca o produtor brasileiro precisa ficar atento. Como já vimos, o mercado “sobe de escadas e desce de elevador”. Apesar dos nossos números/projeções, do nosso “S&D” estar muito justo para os próximos 2-3 anos, assim que o mercado acreditar numa recuperação da safra brasileira e no aumento no índice “Estoque x Consumo” os preços poderão “derreter” e voltar a trabalhar dentro da normalidade.
 
Desta forma, apertem os cintos, façam suas apostas/análises, e protejam-se!
Para a safra 22/23, na sexta-feira, já era possível realizar proteção comprando a estrutura “Put-Spread” contra a tela do Set-22 garantindo um piso mínimo ao redor dos 1.500 R$/saca.
Procurem comprar “proteção” para as safras 23/24 e 24/25 através das operações possíveis contra as telas do Set-22 ou Dez-22 (em função da liquidez), e posteriormente “rolar” essas estruturas para as telas do Set-23/Dez-23 e depois para as telas do Set-24/Dez-24.

“Sugestões para próxima semana”:
Mercado Spot: Seguir vendendo apenas o necessário para pagar as contas do dia/semana, com preço mínimo @ 1.500 R$/saca para o café tipo arábica e 1.700/1750 R$/saca para “cereja descascado” e @ 850/900 R$/saca para o café tipo robusta.
Para a safra 22/23:
No Set-22:
Para quem tiver vendido opções de compra “Call”, ou vendido via “travas”: agora aguardar o mercado corrigir e em seguida considerar comprar uma nova opção de compra “Call” (acima do strike da opção de compra “Call” vendida) para montar uma estrutura “Call-Spread” ou apenas comprar a proteção e se proteger contra uma eventual explosão nos preços! Imaginem se o mercado ultrapassar os 300 centavos de dólar por libra-peso!
– Continuem analisando a compra de opções de venda “Put” strike +210/+200 centavos de dólar por libra-peso ou comprando estruturas “Put-Spread” strike +215/-180 centavos de dólar por libra-peso vendendo a opção de compra “Call” strike -260
– Seguimos sugerimos realizar as operações para a safra 22/23 e 23/24 em diante em dólares por saca! O R$ deverá permanecer volátil!
– Para aqueles que estão realizando “travas” para a safra 22/23 e 23/24 em diante não se esqueçam em fazer o seguro contra eventual quebra na safra e seguros contra novas altas no mercado (comprando opções de compra “Call” ou “Call-Spreads” fora do dinheiro.
– Muito cuidado com as operações dos famosos “acumuladores”, com as estruturas que “aparecem/desaparecem/dobram”, tanto para produto quanto para câmbio! Não coloquem riscos desnecessários nos seus livros!
Ótima semana a todos!
Marcelo Fraga Moreira*
*Marcelo Fraga Moreira é um profissional há mais de 30 anos atuando no mercado de commodities agrícolas, escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.

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