Café volta a superar US$ 1,90 em NY avaliando floradas e financeiro

O mercado internacional de café voltou a mostrar a costumeira volatilidade nesta semana.

26 de setembro de 2021 | Sem comentários Comércio
Por: By Fabio Rubenich -24 de setembro de 2021
 Porto Alegre, 24 de setembro de 2021 –  O cenário externo financeiro contaminou as commodities e o café foi junto, em meio à turbulência com o caso da “ameaça” de calote da incorporadora gigante chinesa Evergrande. Primeiro houve quedas na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) para o arábica, que é referência para os preços globais, e depois recuperação com as notícias mais otimistas de que a incorporadora vai honrar compromissos e pode ter a ajuda do governo chinês.
     Nesta montanha-russa, o café desceu e subiu acompanhando bolsas de valores, o petróleo e outras commodities, diante da apreensão que se repetisse a crise de 2008 no mercado imobiliário americano, que atingiu o mundo de modo geral com “quebradeira” de bancos. E ainda em tempos de covid e novas variantes, o café segue atrelado às variáveis globais financeiras, com destaque também para os altos e baixos do dólar contra outras moedas. Dólar em baixa sustenta as commodities, e em alta pressiona para baixo.
     Com esse empurrão do cenário externo financeiro, o café subiu em NY e superou no fechamento desta quinta-feira, 23, a importante linha técnica e gráfica de US$ 1,90 a libra-peso. Há muita preocupação com a oferta na próxima temporada diante dos problemas climáticos no Brasil. A safra de 2022 está duramente comprometida em seu potencial pela longa estiagem e pelas geadas de julho. Agora, o foco é no retorno das chuvas ao final de setembro, o que gera muitas dúvidas, para a abertura e pegamento das floradas que vão resultar na safra do próximo ano.
     “O momento é muito mais de dúvidas que certezas no mercado de café”, ressalta o consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach. Ele ressalta que as dúvidas produtivas começam a ser respondidas a partir das floradas, mas antes é preciso chuva. Por isso, o olhar atento aos boletins climáticos. “Há uma expectativa, na verdade uma necessidade, de quebra do padrão climático atual, com o retorno regular das chuvas em áreas de café do Brasil”, destaca. Choveu nos últimas dias, mas as precipitações foram mal distribuídas e insuficientes, não resolvendo o problema. “A esperança se volta para o final de setembro e início de outubro, onde modelos climáticos indicam chuvas mais volumosos e amplas”, salienta o consultor.
     “É verdade que o radar do mercado já está na safra 2022, mas uma revisão para baixo na produção atual, leva a um maior aperto no estoque de passagem, o que exigiria um esforço de recuperação ainda maior no próximo ano”, adverte o consultor. Só que a produção futura já está com potencial produtivo comprometido, pondera. “Todas essas dúvidas explicam o comportamento do preço do café no mercado externo e, principalmente, justificam a postura mais cautelosa do vendedor aqui no Brasil, mesmo com o preço extremamente alto”, diz.
     No balanço da semana, entre a quinta-feira 16 de setembro e esta última quinta-feira 23, o contrato dezembro do café arábica em NY subiu de 188,15 para 190,60 centavos de dólar por libra-peso, alta de 1,3%. Em Londres, o robusta na bolsa na mesma comparação subiu 1,85%. O robusta tem estado mais firme e sustentado que o arábica. São grandes os problemas logísticos no Sudeste da Ásia, afetando especialmente as exportações do robusta vietnamita com a escassez de contêineres, e também com restrições devido à nova variante do coronavírus. E os estoques estão caindo deste café, inclusive na bolsa, com torrefadores utilizando mais o robusta em seus blends diante do alto custo do arábica. Por isso as recentes altas do robusta em Londres serem mais sólidas que as do arábica em NY.
     O mercado físico disponível de café está muito firme e estratificado, descreve o consultor de SAFRAS. “O arábica de bebida melhor deve seguir atrelado às oscilações de ICE e dólar. Já os arábicas de bebida mais fraca e o café conilon tendem a manter uma dinâmica voltada ao mercado interno. As descrições devem seguir muito firmes e, por vezes, descoladas da realidade externa”, comenta. Ele diz que a pouca disponibilidade, devido ao clima mais seco na colheita, explica a valorização dos arábicas de bebidas mais fracas. Já a agressividade da demanda doméstica e os bloqueios e gargalos logísticos na Ásia balizam os ganhos no conilon, observa.
     Para Barabach, o produtor deve manter a retranca, na expectativa com as floradas no Brasil. “Cresce a ideia de perdas acima do esperado, por conta de lavouras bastante castigadas por falta de chuva. Assim, o vendedor deve continuar na defensiva, dosando as vendas e administrando a curva ascendente de preços”, diz. Nas posições futuras percebe-se um maior interesse com a safra brasileira 2023, mas não traduzido em um fluxo mais acelerados de negócios, por enquanto. “As dúvidas produtivas tiram vendedor das posições com safra brasileira 2022”, aponta.
     No balanço da semana, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais subiu de R$ 1.080,00 para R$ 1.095,00 a saca, alta de 1,4%. O conilon tipo 7, em Vitória, Espírito Santo, avançou de R$ 755,00 para R$ 790,00 a saca.
     Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS

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