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Acervo do Foto Estrela registra três décadas de história em mil negativos |
Mais de meio século à frente do Foto Estrela, tempo suficiente para testemunhar os principais acontecimentos que transformaram Londrina no decorrer dos anos e perpetuar as imagens que revelam a história do Município. Foi esse o trabalho que Yutaka Yasunaka desenvolveu ao longo de sua vida, parte dela ao lado do pai, o imigrante Suejiro Yasunaka, que era fotógrafo no Japão e decidiu fazer a vida no Brasil. Parte desse trabalho foi realizada ao lado da esposa, Junko Yasunaka, companheira de trabalho e de concursos de karaokê, que faleceu no ano passado.
Yasunaka produziu milhares de fotos – de casamentos, cerimônias públicas, monumentos – e guardou, entre tantas, cerca de mil negativos, todos devidamente separados conforme o assunto. Foi esse o material que encontrou o fotógrafo Edson Luiz da Silva Vieira quando foi trabalhar no Foto Estrela, na Rua Maranhão, um dos mais antigos da cidade, e se atentou pela riqueza do acervo.
“Trabalhei três anos como laboratorista no foto”, conta Edson Luiz, “e percebi que seu Yasunaka queria preservar esse material, mas não sabia como”, destaca. Por isso, o fotógrafo apresentou um projeto de restauração das imagens à Secretaria Municipal de Cultura e conseguiu o patrocínio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic), para restaurar o acervo de mais de 50 anos, com cerca de mil negativos de acetato, no formato 6×6 e 6x9cm, produzidos durante as quase sete décadas de atividade do Foto. “Foi realizado um grande trabalho de limpeza, restauração, catalogação e arquivamento”, informou.
Em contrapartida ao investimento público, Edson Luiz reuniu 70 fotos em livro e CD Rom, “numa forma de democratizar a imagem”, diz. O livro tem 96 páginas com imagens da cidade e a história do Foto Estrela; já o CD Rom é interativo e conta com 200 fotografias divididas em 16 seções, que podem ser vistas em qualquer computador.
Serviço: Instituições culturais e de ensino podem solicitar, gratuitamente, exemplares do livro e do CD Rom pelo telefone 9102-6099. Os interessados em adquirir o livro com as fotos devem procurar Yutaka Yasunaka no Foto Estrela, na Rua Maranhão, 331.
São mais de 50 anos à frente do Foto Estrela
O Foto Estrela foi fundado em 1938 pelo alemão Carlos Stenders e adquirido pela família Yasunaka pouco depois de chegarem a Londrina, em 1952. Naquela época, o estúdio funcionava na Rua Mato Grosso, ao lado do restaurante Kiberama, e foi transferido para a Rua Maranhão no ano de 1963, quando o imigrante Suejiro Yasunaka comprou o imóvel. Era a segunda vez que ele, a esposa e os filhos buscavam fazer a vida no Brasil.
Em 1926, a família saiu do Japão atraída pelo apogeu do café no Estado de São Paulo. “Meu pai já tinha foto no Japão, mas veio trabalhar na lavoura”, conta Yutaka, o filho mais velho que tinha na época apenas um ano de idade. Os Yasunaka ficaram sete anos na região de Registro, interior paulista, até se mudarem para Bastos e retornar ao Japão algum tempo depois. “O governo brasileiro proibiu o funcionamento de escola estrangeira. Por isso meu pai decidiu ir embora para que nós aprendêssemos japonês. Ele era um homem muito preocupado com a educação”, conta Yutaka, que ainda se lembra da viagem de navio que durou 60 dias.
De 1938 até 1951, a família permaneceu no Japão, enfrentando as dificuldades do período após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945). “Não tinha nem comida. A gente comia abóbora, batatinha, mas faltava arroz e japonês gosta muito de arroz”, recorda Yutaka, que chegou a servir o Exército japonês e foi prisioneiro de guerra na Sibéria. “Não é bom lembrar dessas coisas.”
No início da década de 50, um tio que morava em Marialva mandou carta à família Yasunaka contando sobre a boa safra de café no Norte do Paraná e convidando-a a retornar ao Brasil. O pai não teve dúvida. Voltou ao Brasil, ficou seis meses com os parentes e, em 1952, comprou o Foto Estrela em Londrina.
“Naquele tempo tinha movimento. Serviço de foto era especializado. Não é como hoje que tem bastante”, compara Yutaka, que fazia muitas fotos de casamentos, batizados e de cenas de Londrina para ilustrar cartões postais. Ainda hoje ele guarda as máquinas antigas e tem o estúdio com cenário (o mesmo de 50 anos atrás), que remonta à infância de muita gente.