Prejuizos na Colheita de Frutos Verdes Por Aldir Alves Teixeira*

Dependendo do ano, das condições climáticas e do número de floradas poderemos ter ou não uma maturação homogênea, ideal para produzir um café de qualidade.

Todos nós sabemos que, para a produção de cafés descascados, o momento ideal para iniciar a colheita seria aquele em que o cafezal apresente porcentagem elevada de frutos maduros, mínima de frutos verdes e antes que haja uma queda acentuada de frutos passas e secos no chão.

Na prática, porém, a maioria dos cafeicultores não inicia a colheita nesse momento ideal. Isso ocorre por uma série de motivos, sendo que os principais estão relacionados com a mão-de-obra disponível, a maturação heterogênea dos frutos e a infraestrutura existente na propriedade para o preparo e a secagem do café.

Porém, o que pouca gente sabe é avaliar e exprimir em números os prejuízos sofridos pelo cafeicultor em função da maior ou menor porcentagem de frutos verdes colhidos.
Para quantificar esses valores e os prejuízos causados aos produtores, coletamos amostras das principais regiões cafeeiras. Os cafés depois de secos foram beneficiados, separados por peneiras em grãos normais, verdes (imaturos), ardidos, pretos e seus pesos foram calculados, como pode ser visto na tabela abaixo:

Peso médio do grão do café (g)

Peneiras Normal Verde Ardido Preto

18

0,158

0,143

0,127

0,120

17

0,143

0,121

0,112

0,099

16

0,126

0,112

0,109

0,083

15

0,107

0,099

0,088

0,088

14

0,091

0,082

0,081

0,067

13

0,074

0,067

0,063

0,055

médias

0,1225

0,9874

0,0778

0,0642

Esse quadro mostra que grãos de uma mesma peneira, com formas e tamanhos iguais, têm pesos diferentes. A diferença de pesos entre os grãos normais, verdes, ardidos e pretos é altamente significativa quando se considera o prejuízo que ocasiona ao cafeicultor em uma safra.

Para quantificar esse prejuízo, tomou-se como base o peso médio dos grãos normais, verdes, ardidos e pretos e a porcentagem média de ocorrência desses defeitos nas amostras analisadas. A porcentagem média dos defeitos encontrados foi a seguinte: verdes = 8,52%, ardidos = 2,86% e pretos = 0,46%, num total de 11,84%.

Tomando por base esse exemplo de média dos defeitos encontrados e a diferença de peso entre os grãos normais e grãos verdes, ardidos e pretos, verificou-se que tal fato ocasionou um prejuízo por diferença de peso, por saca beneficiada, na ordem de 2,524kg.
Essa perda total de 2,524kg é dada pela somatória representada por 1,312kg (grãos verdes), 0,984kg (grãos ardidos) e 0,228kg (grãos pretos).

Considerando-se somente o defeito verde e a sua diferença de peso em relação aos grãos normais, verificou-se que os prejuízos aumentaram consideravelmente à medida que cresce a porcentagem de frutos verdes colhidos.

Tal fato pode ser facilmente comprovado na tabela abaixo, com as perdas resultantes do menor peso dos grãos imaturos, em diferentes porcentagens, em 1.000, 5.000 e 20.000 sacas.

Porcentagem de verdes Perdas em 1.000 sacas beneficiadas Perdas em 5.000 sacas beneficiadas Perdas em 20.000 sacas beneficiadas

05%

13 sacas

65 sacas

260 sacas

15%

39 sacas

195 sacas

780 sacas

25%

64 sacas

320 sacas

1.280 sacas

50%

129 sacas

645 sacas

2.580 sacas

Esses prejuízos são ocasionados apenas pela diferença de peso, que o cafeicultor não vê, mas aumentam significativamente se considerarmos também o custo do rebenefício necessário para que um determinado lote de café seja enquadrado no padrão illy (tipo 3).
Se tomarmos como exemplo um café colhido com 25% de defeitos verdes (considerando-se só esse defeito), ele seria classificado como tipo 6-45, o que corresponde a 153 defeitos em 300 gramas.

Para enquadrarmos esse café no tipo 3, com 12 defeitos, precisaríamos eliminar 141 defeitos em 300 gramas, o que corresponde a 108,5 sacas em 1.000 sacas.
O cafeicultor precisa saber o prejuízo causado pela colheita de frutos verdes. O exemplo apresentado deve servir de alerta e de exemplo para que os prejuízos sejam os menores possíveis.

Diante dos resultados e dos prejuízos que poderão ser causados ao produtor, sugerimos algumas recomendações importantes para a próxima safra:

1

Conduzir tecnicamente as lavouras cafeeiras, com especial atenção na adubação, evitando assim menor desenvolvimento dos frutos e consequente diminuição do seu peso e tamanho;

2

Iniciar a colheita quando houver uma menor porcentagem de frutos verdes, desde que não haja queda acentuada de frutos secos;

3

Utilizar lavadores e separadores de verdes na seleção dos frutos em vários estágios de maturação, possibilitando uma secagem mais rápida e homogênea;

4

Controlar para que a temperatura de secagem dos frutos colhidos verdes não seja superior a 30ºC na massa do café, evitando o aparecimento de defeitos preto verdes;

5

Lembrar que o defeito verde pesa menos que um grão normal e prejudica o seu bolso e a qualidade final do seu café.

*Doutor em Engenharia Agronômica, é Consultor Científico da illycaffè no Brasil e Diretor Geral da Experimental Agrícola do Brasil

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.