Liderado por produtores, projeto já recuperou mais de 166 hectares em bacias hidrográficas de Minas Gerais
São Paulo, abril de 2020 – Responsável por abrigar uma diversidade de espécies de flora e fauna, o solo é um dos principais elementos da natureza essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas da Terra. O recurso – também protagonista em atividades agrícolas, na reserva de água e de nutrientes fundamentais para o plantio – ganha destaque no dia 15 de abril, quando comemora-se o Dia Nacional da Conservação do Solo.
A data, instituída para reforçar a preservação deste recurso, também visa conscientizar a população sobre a importância do manejo sustentável e a utilização correta do solo: um alerta para os processos de degradação do solo, causados pela destruição da vegetação nativa, contaminação química, erosão, e outros fatores que afetam diretamente a produção e comprometem as paisagens dos diversos biomas brasileiros. Entre eles está o Cerrado, segundo maior bioma na América do Sul e um dos mais ameaçados no Brasil: de acordo com o IBGE, o Cerrado teve sua cobertura vegetal reduzida de 2.038.953 km² para 1.052.708 km², uma perda de quase 50% nos últimos anos.
Pensando em contribuir e reverter este cenário, o Consórcio Cerrado das Águas encontrou na região do Cerrado Mineiro uma maneira de agregar em ações conjuntas os esforços dos vários produtores e atores locais para gerar oportunidades que garantam a preservação e conservação dos serviços ecossistêmicos. O projeto, pioneiro no desenvolvimento de soluções customizadas para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas em bacias hidrográficas, elegeu a bacia do Córrego Feio em Patrocínio (MG), como sítio piloto para o seu Programa de Investimento no Produtor Consciente, em função de ser a única fonte de água dos 100 mil habitantes do município e dos mais de 4.600 hectares de lavoura de café.
De acordo com Fabiane Sebaio, secretária executiva do Consórcio Cerrado das Águas, entre os principais desafios apontados pelos produtores estão a diminuição dos recursos hídricos, a perda da vegetação e a erosão do solo, que ameaçam os serviços ecossistêmicos: “A produtividade no campo está diretamente ligada à qualidade da base, que são refletidas por meio de um manejo qualificado e sustentável. O Consórcio nasceu da percepção dos produtores sobre a necessidade de agir de maneira coletiva para estabelecer uma região segura em termos climáticos e ao nível de paisagem. O sucesso e engajamento dos produtores é comprovado: a contribuição do primeiro ciclo foi de 40% na frente de restauração de paisagem e 88% de manejo climático, reforçando o desejo dos mesmos por uma produção sustentável a longo prazo” explica.
Restauração de paisagem 100% orgânica e práticas de agricultura climaticamente inteligente
Promover a restauração de paisagens e práticas de agricultura climaticamente inteligentes é uma das frentes do Consórcio Cerrado das Águas. Segundo Fabiane, a plataforma colaborativa conta ainda com um time de especialistas que garantem a assistência na implantação de práticas que ajudam a agricultura a ser um provedor de serviços ecossistêmicos. O objetivo é entregar para os produtores detalhes da avaliação de campo, recomendações e os recursos necessários para implementar as intervenções de agricultura climaticamente inteligentes.
Nos primeiros seis meses de atuação na Bacia do Córrego Feio foram mais de 100 intervenções recomendadas em 36 propriedades, 43 Projetos Individuais de Propriedade, resultando em mais de 166 hectares restaurados e utilização de 70 espécies nativas. Além disso, 8 estratégias agrícolas e 336 hectares implantados na frente de manejo climático.
Atualmente, o projeto conta com membros como a CEPF, Nescafé, Lavazza, Nespresso, IUCN, Expocaccer, CerVivo e Conservação Internacional e ainda, com o apoio de parceiros como a Imaflora, Emater (manejo climático) e GH2O (manejo hídrico e monitoramento).
Sobre o Consórcio Cerrado das Águas
Criado em 2014, em Patrocínio – MG, o Consórcio Cerrado das Águas tem como objetivo conscientizar produtores da região sobre a importância de seus ativos ambientais por meio do diagnóstico e investimento nos mesmos, garantindo sua preservação a longo prazo.
Em 2019, o projeto piloto recebeu do Fundo de Parcerias para Ecossistemas Críticos (CEPF) o valor de US$400 mil para implementar o programa que irá promover, inicialmente, o investimento e a proteção dos ecossistemas naturais encontrados em mais de 100 propriedades ao longo da bacia do Córrego Feio. A quantia é o maior subsídio já concedido pelo CEPF, que conta com exigentes doadores como a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), União Europeia, Fundo Mundial para o Ambiente (GEF), Governo do Japão e Banco Mundial.