O café constitui uma das formas de uso da terra mais importante em Rondônia, devido ao impacto na economia e aos efeitos, tanto positivos como negativos, na região.
28/04/06
Embrapa Rondônia.
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O declínio da produtividade e a erradicação de cafezais antigos e decadentes no Estado proporcionam perspectivas para a recuperação da cultura através do estabelecimento de consócios agroflorestais.
Apesar de serem obtidas produções superiores em monocultivo e com manejo intensivo nos cafezais, um contingente considerável de agricultores no Estado, vem tomando a iniciativa de plantar árvores em suas lavouras. A decisão deste grupo de cafeicultores está orientada para a demanda do mercado por madeira nobre e, por exigir poucos insumos na implantação e manutenção, garantindo retorno econômico.
Os sistemas são utilizados não apenas para o enriquecimento de cafezais decatendes, como também para minimizar custos de produção. Em virtude da dificuldade de aquisição de insumos, corretivos e de mão-de-obra necessários ao desenvolvimento das lavouras e, aliados à baixa produção por área que a cultura oferece, os agricultores têm adotado estratégias que reduzam custos.
Pesquisas realizadas no Oeste do Estado, pela Embrapa e a ONG Ecoforça confirmam esta tendência, que pode ser extrapolada para outras regiões de Rondônia. Durante 10 anos de pesquisa de caracterização e acompanhamento de propriedades rurais, foi possível detectar estratégias produtivas diferenciadas que convergem cada vez mais para sistemas e estruturas de produção bem característica: uns de cunho nitidamente de produção de monocultivo, outros marcados pela produção animal e outros ainda, de caráter mais agroflorestal.
Para os autores dessa pesquisa, a diferenciação e adequação progressiva dos sistemas e estruturas de produção às condições ambientais têm acontecido, particularmente, sem a incorporação de tecnologias agrícolas ditas modernas.
As tecnologias atualmente recomendadas para a cafeicultura nos países tropicais, tem sido o manejo intensivo de monocultivo auto-sombreado, através do aumento da população de plantas por unidade de área, ou seja, o uso de plantios adensados, onde se pode incrementar a produção duas ou três vezes, quando comparada com os sistemas mistos tradicionais e, ou convencionais.
Para os pequenos produtores de Rondônia a inclusão de árvores nas lavouras cafeeiras, é uma tentativa de sustentabilidade, com interações ecológicas e econômicas entre os componentes.
Eles geralmente têm seus cultivos em áreas de terra de baixa fertilidade. Para as condições ótimas da cafeicultura umas das mais importantes considerações é que a sombra reduz a fotossíntese, a transpiração, o metabolismo, o crescimento e, por conseguintes, reduz também a demanda de nutrientes do solo, capacitando o cultivo a manter-se em solos de baixa fertilidade.
Além desses aspectos, a utilização da arborização pode ser um componente importante no equilíbrio ecológico da lavoura, numa perspectiva de produção sustentada e preservação ambiental. Essa importância se verifica sob vários aspectos entre as quais ressalta-se a ciclagem de nutrientes, a diminuição da taxa de decomposição da matéria orgânica do solo, resultado da redução da temperatura do solo, a presença de controladores naturais de pragas e doenças e, a possibilidade de aumentar a renda ou melhorar a utilização da mão-de-obra na entressafra.
Na Amazônia as alternativas de uso sustentável da terra, sofrem limitações pelo pouco conhecimento sobre quais seriam os impactos sócio-econômicos e ambientais desta aplicação. Apesar de ainda se ter muitas lacunas a serem preenchidas, quanto aos efeitos da arborização sobre o cafeeiro, a opção de se arborizar ou não (Alvarenga & Guimarães, 1998), dependem de seu rendimento financeiro como associação em longo prazo, comparado com o monocultivo da cultura perene.
As arvores de sombra podem caracterizar-se como: a) uma ferramenta no manejo das condições ambientais de cultivos em associação; b) um meio na diversificação da produção (incluindo madeira); c) e em alguns casos, a sombra atinge os objetivos de manejo e produção.
Em Rondônia os cafezais implantados em sistemas de produção tradicional, com espaçamento de 4,0 m x 2 m, nesta última década, introduziram essências florestais, com freijó louro, bandarra, seringueira, castanha-do-brasil, pupunha e outras com espaçamentos variados (8m x 8 m, 10 m x 10 m, 12 m x 10 m). As espécies florestais associadas com café em Rondônia se apresentam geralmente como árvores dispersas, com localização aleatória, idade variada, já que são muitas vezes produto de regeneração natural.
Apesar das constatações do potencial dos sistemas agroflorestais para a região Amazônica, as experiências sobre as espécies mais adequadas para a arborização, principalmente café, necessitam de avaliações, que contribuam para uma agricultura eficiente do ponto de vista ecológico e econômico, fortalecendo a cafeicultura, criando condições para os agricultores possam produzir de forma diversificas e sustentável.
Muitas questões práticas sobre as interações entre árvores e cafeeiro ainda requerem de experimentação específicas, para que se possa encontrar respostas e dar recomendações corretas aos produtores.
Vanda Gorete Souza Rodrigues, Rogério S. Corrêa da Costa e Francisco das Chagas Leônidas Pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) – Rondônia.