Prazos maiores para o ‘barter’ na área de café

Previsibilidade das operações de barter é um importante fator de atração dos cafeicultores em tempos de baixos preços

Por: Anna Carolina Negri/Valor

25/04/2019 Diante dos persistentes baixos preços do café, empresas e cooperativas do segmento estão ampliando prazos para a quitação de pagamentos para atrair os produtores às operações de barter, onde a moeda de troca é a colheita futura.

O sistema tradicional prevê o pagamento dos insumos com a produção um ano após negócio. Nos últimos tempos, esse prazo cresceu para dois ou três anos, mas em 2019 a Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), maior cooperativa de cafeicultores do país, ampliou o limite para até cinco anos.

“Quando o preço está ruim, o produtor faz menos barter do que faria se o preço estivesse bom. Não é que ele deixe de fazer, mas faria mais se o preço estivesse melhor. Daí a ampliação do prazo”, afirma Carlos Alberto Paulino da Costa, ex-presidente cooperativa.

No ano passado, o barter representou 20% do volume de café entregue para a cooperativa, o equivalente a 1 milhão de sacas.

Além de atrair produtores com maior prazo, a cooperativa quer estimular a venda de máquinas para a movimentação de fertilizantes em embalagens para grandes quantidades – os chamados “big bags”. “A partir de 2021, as empresas não vão mais entregar fertilizantes em sacaria, somente em bag. Então o produtor precisa se adequar para estimular a demanda”, diz Costa.

Na avaliação do gerente de marketing, cultivos e portfólio de milho e café da Basf, Stael Prata, o uso dessa ferramenta, com prazos maiores, será importante neste ano de preços baixos.

A multinacional de insumos também optou por ampliar prazos para pagamento na tentativa de atrair os produtores. A partir desta safra, a empresa trabalhará com a possibilidade de travar os valores por até três anos. Até então, o prazo era de um ano. “Dessa forma o produtor tem maior praticidade, pois poderá programar o custo no longo prazo”, diz.

Outro formato novo na Basf é a troca financeira. Nesse modelo, há opção de liquidação em dinheiro em vez de produto no prazo estabelecido, em um sistema semelhante ao contrato de opção. O barter representa 50% dos negócios de café da múlti no Brasil.

A também alemã Bayer é outra que espera negócios firmes por contratos via barter neste ano. “Em fevereiro a demanda cresceu quatro vezes ante ao mesmo mês do ano passado”, afirmou Marcos Dallagnese, gerente regional de café da companhia. “Esperamos que metade das nossas vendas de insumos para o café seja feita com barter”, projetou.

Para ele, é a previsibilidade que atrai o produtor. “Essa troca traz segurança ao produtor. Com os custos travados, ele consegue trabalhar melhor a comercialização do grão”.

Se para insumos a perspectiva é positiva, para máquinas nem tanto. “A demanda por barter veio aquecida até dezembro, mas a partir do momento que os preços romperam a barreira dos R$ 400, o interesse diminuiu não apenas pelo barter, mas pelo investimento em si”, disse Reymar Andrade, presidente da Pinhalense, fabricante de maquinário com sede em Espirito Santo do Pinhal (SP).

Na avaliação dele, ainda que as empresas estejam ampliando prazos para fechar negócios, a estratégia pode não ser suficiente e os produtores devem adiar investimentos ou recorrer ao Finame. “Percebemos que o valor da saca está sendo pesando mais que o prazo”.

No ano passado, 15% dos negócios da empresa foram firmados via barter. “Foi o nosso maior ano de barter”, disse. “Neste ano, porém, os resultados de fevereiro já estão inferiores aos de 2018”.

Para o presidente da Coopercitrus, Fernando Degobbi, o barter – principal modalidade na cooperativa no café – é uma ótima oportunidade para que os produtores superem as dificuldades geradas pelos preços baixos. “Quem está quitando contratos agora consegue em torno de R$ 580 a saca”, afirma. “Mesmo quem faz barter agora consegue um valor mais atrativo por saca”.

De acordo com ele, a cooperativa espera que o barter represente 70% do total de 1,5 milhão de sacas que a Coopercitrus espera receber neste ano. De 2018 até o momento, a cooperativa negociou o equivalente a 1 milhão de sacas – das quais 680 mil devem ser entregues até 2022. “Esperamos negociar o equivalente a outras 700 mil sacas neste ano nesta modalidade”, afirmou Degobbi.

Fonte: Valor | Por Marcela Caetano | De São Paulo

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