Reaprendendo a cuidar da colônia Cearense que ajudou a queimar milhares de hectares de floresta aprende a fazer lavouras sem o uso do fogo |
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Cearense de Itapipoca, Francisco Barroso Braga, 56 anos, pai de oito filhos veio para o Acre no início dos anos 70 para trabalhar nas derrubadas para os fazendeiros e hoje vive num dos lotes de 15 hectares do Projeto de Colonização da Alcoobras, mas os altos e baixos de sua vida tem tudo para conhecer um final feliz. Ali mantêm seu cafezal, um sistema agroflorestal com plantio de teça, mogno, pau d’arco e jatobá, pomar com cupuaçu, açaí e 240 de laranja, limão e ponkan em produção. Além disso, tem açude com criação de tambaquis e está produzindo 12 mil mudas de laranja, faz recuperação do solo e o plantio direto de suas lavouras sem usar arado ou fogo graças ao plantio do feijão mucuna e hoje se arrepende de ter destruído tanta floresta. “Trabalhei 30 anos como gerente de grandes fazendas aqui no Acre. Não sei exatamente quanto, mas estimo assim por alto que comandei a derrubada de pelo menos 100 mil hectares de mata para transformar tudo em pasto. Teve ano que a gente chegou a derrubar até dez mil hectares de uma vez só. Para mim eu estava fazendo tudo certo, agora entendo que faltou orientação pra gente entender que as coisas poderiam ter sido feitas de outro jeito”, explicou Barroso. Embora tenha dominado e derrubado áreas tão extensas, Barroso nunca juntou dinheiro suficiente para comprar sua própria terra. “Eu ganhava bem, mas enviava todo o meu dinheiro para pagar os estudos das minhas filhas no Ceará, agora elas estão formadas e me ajudam. As fazendas ficavam na minha mão, poderia ter roubado os donos como muita gente faz, mas prefiro ser pobre e dormir tranqüilo. Mas se tivesse roubado também não teria acontecido nada porque no Brasil não tem cadeia para ladrão!” Tradição e tecnologia Desde pequeno, barroso aprendeu que terra para plantio se prepara com broca, derrubada, queima e coivara para deixar o terreno limpo. E foi assim que fez quando ganhou seu lote no Projeto Alcoobrás. “No primeiro ano mandei a motosserra pra cima da mata, derrubei sete hectares, queimei e deixei o chão limpo. Plantei dez mil pés de café. Quando começou a produção o preço da saca de 40 quilos caiu para R$ 7, fiquei doido, mandei passar o trator e sete mil pés, no meio do que tinha sobrado plantei um SAF que tem 500 pés de téca mais velha e 500 mais novas, 700 mogno, além de pau d’arco roxo e amarelo, jatobá e samaúma”. Barroso ainda hoje se arrepende de ter destruído o cafezal, já que sombreado pelas outras árvores, o dinheiro apurado com a produção colhida no ano passado nos três mil pés restantes, ele conseguiu pagar o empréstimo que tirou do banco para construir um açude, bancou a formação das 12 mil mudas de laranja que estará vendendo a partir de setembro. “Paguei as contas, fiz algumas melhorias na colônia e ainda me sobrou R$ 600, vendi a saca do café a R$ 50, é muito dinheiro”. Garante. Reaprendendo Há cinco anos, Barroso participou de uma reunião do Projeto Fogo que é realizado pela ong Patcha Mama, a qual orienta os produtores a fazer o cultivo do feijão mucuna para recuperar o solo e realizar seus plantios de arroz, feijão, milho e maxacaxeira sem precisar usar o fogo nem arar a terra. Para gerar renda eles ainda aprendem a produzir mudas de plantas frutíferas e madeireiras. “Achei aquilo um absurdo, disse que não aceitava e não aceitei mesmo. Quem quisesse que entrasse naquela conversa fiada. Algumas pessoas resolveram experimentar, o negócio começou a dar certo e fazem três anos que também entrei para o projeto. Se tivesse entrado antes, minha vida hoje estaria muito melhor”. Barroso já não tem dúvidas de que vale a pena transformar sua colônia numa propriedade poliprodutiva com pomar, saf, horta, viveiro de mudas, criação de peixes, galinhas, lavouras brancas e com tudo isso ainda sobrou espaço para colocar as sete vaquinhas pertencentes a seu filho. “Eu agia do jeito que tinha aprendido e ouvido dizer desde que era criança, mas quando o Clóvis do Projeto Fogo insistiu em orientar a gente mostrando resultados eu entendi que aquele jeito era melhor. O que falta pra nós produtores é orientação para mostrar como melhorar a produção com que nós temos aqui dentro da roça e é isso que nós estamos aprendendo agora”. Semeando feijão mucuna nas áreas degradadas, recolhendo esterco de gado e deixando as três mil galinhas caipiras melhoradas da Hortfrango, da qual é sócio, pastarem em seu saf, ele está animado com os resultados. “Agora já não tenho mais plano de derrubar o que ainda tenho de mata porque além de aprender a recuperar minha terra com a mucuna, também aprendi a enxertar mudas de laranja, ponkan e limão. Em setembro vou começar a vender mais de 12 mil mudas e só com isso deve faturar uns R$ 30 mil. Tá bom”. |