O sobe e desce no preço das commodities são mais um indicador que pode afetar a decisão do Federal Reserve na elevação das taxas de juros norte-americanas? Ou o aumento da taxa básica, atualmente em 5%, é a responsável pela queda nos preços das matérias-primas? Para o FED, em ata divulgada em 31 de maio, energia e commodities com preços altos são fatores que contribuem para aumentar o temor de mais riscos inflacionários, justificativa para uma possível continuidade na trajetória de elevação dos juros.
Há duas formas de enxergar a situação. A primeira é mais genérica e atribui o preço de todas as matérias-primas aos juros. Nessa forma de análise, a queda não só nos preços das commodities nas últimas semanas, mas como nos principais mercados de ações, especialmente nos países emergentes, é explicada pela migração dos investidores para os treasuries (títulos do Tesouro norte-americano). Houve um longo período de forte valorização nas ações e matérias-primas, atrelado a um cenário de crescimento global com inflação sob controle. O que estaria ocorrendo agora é a chamada realização de lucros, com os investidores se dando conta de que os ativos ficaram caros. Há meses, eles têm abandonado posições de risco e aplicado em fundos norte-americanos.
Já a segunda avalia cada commodity individualmente. No caso do café, por exemplo, o vai e vem de investidores não muda os fundamentos de oferta e demanda pelo produto. O que tem pressionado os preços para baixo é a expectativa de produção excedente que, no Brasil, será 2,3 milhões de sacas maior que o consumo na nova safra que tem início em julho. Diante dessa conjuntura, é natural que o investidor volte sua atenção para fundos mais rentáveis, o que não significa que haverá uma fuga generalizada das commodities.
Na Bolsa de Mercadorias e Futuros, a participação de compradores estrangeiros no café em 30 de maio era de 51,79% dos contratos em aberto. Dos 28.134 compradores, 14.570 eram de não residentes no país. Já os vendedores representam 24,97%. Na soja, 21,51% dos contratos de compra estão nas mãos de estrangeiros. O dado, embora pareça pequeno, é expressivo: não há investidores externos entre os vendedores e o interesse em aplicar no produto é recente – começou há um mês – o que leva os analistas a visualizarem um indício de negócio atraente. O movimento que se observa é de compras no Brasil e vendas em Nova Iorque, aproveitando o risco de base – diferencial de preço entre Brasil e Estados Unidos. Na maioria das vezes, o primeiro é menor que o segundo.
Além das commodities, os juros norte-americanos também contribuíram para a alta do dólar, condição que preocupa alguns setores e agrada a outros. Os produtores de matérias-primas encaixam-se no segundo perfil. Por serem setores exportadores, quanto maior a valorização do real, melhor os resultados da balança comercial.