“Meu Deus. Desse jeito nós tá é pagano pra trabaia!!!”, exclamou, em seu linguajar simplório, Adriana Francisca da Silva, agricultora e mãe de aluno da escola rural Pérola, localizada na Linha 98 Setor Riachuelo, ao término da primeira atividade da Oficin
O susto veio depois dos cálculos do grupo em que ela participava sobre quanto, aproximadamente, havia custado para ela e o esposo para produzir perto de 40 sacas de café em quase três hectares de terra. E o objetivo da oficina era esse mesmo, como explicou o engenheiro agrônomo Genaldo Martins de Almeida Junior, extensionista da Emater-RO, fazer com que os agricultores aprendam a ter pelo menos uma ideia dos custos de suas produções visando buscar soluções eficientes para obter lucros.
A parceria entre Secretaria Municipal de Educação – Semed, por meio do Projeto Educampo, A Emater/RO e o Sebrae/Ji-Paraná iniciou a série de oficinas que serão ministradas nas quatro escolas participantes do Educampo. A Oficina Custos para Produzir no Campo vem com material didático completo e de fácil entendimento. No Manual do Participante, por exemplo, o agricultor ou o aluno têm todo o roteiro da Oficina; no Caderno de Ferramentas eles encontram todas as planilhas de custos de insumo, de serviços e de produção bem como a planilha para cálculo da margem bruta. Tudo muito bem detalhado e pronto para apenas ser preenchido e calculado conforme as orientações de Genaldo. O material traz ainda uma cartilha com orientações ao crédito e investimento para micro e pequenas empresas produzida por instituições bancárias e cooperativas de crédito da Região.
Muita curiosidade
“A impressão que ficou desta primeira oficina é que o produtor rural tem muito a aprender no quesito de gestão de sua propriedade. Hoje, no mundo globalizado, o produtor precisa entender que suas terras, seu negócio precisa se engajar como uma pequena empresa rural. Ele não pode entregar um produto sem saber o custo daquele produto. Mas o que pude perceber é que ele quer ter esse conhecimento, ele fica curioso para lidar com os números”, explicou o engenheiro agrônomo.
E a fala do extensionista da Emater tem tudo a ver com as expectativas de uma produtora que participou da Oficina, a Cristielle Felix, moradora a Linha 40, Gleba 2.
“Na nossa propriedade a gente trabalha com gado de corte e com gado de leite, temos tanque resfriador e estamos prensando em comprar uma ordenha, mas temos muitos gastos com as criações. A gente nunca fez a planilha sobre os custos para poder ver…as vezes a gente pensa que nem tá compensando essa produção toda por conta dos gastos. Mas eu vim aqui para entender mesmo, aprofundar os conhecimentos sobre os custos. Está sendo muito bom porque pelos menos vamos poder ter uma ideia do quanto estou produzindo e os custos que estou tendo. O pouco que estou vendo estou gostando e com certeza vou levar para minha família, para minha propriedade e para a minha comunidade também porque eles precisam…vou tentar passar para eles, pois todos são produtores”, disse entusiasmada a produtora.
Saber quanto
A Oficina Custos para Produzir no Campo também será levada às escolas Bárbara Heliodora (4ª Linha, Gleba G), Nova Aliança (Linha 86, Lote 28 Setor Riachuelo) e à Escola Professor Edson Lopes (Linha 20, Setor Itapirema).
“Quando começa a conversa eu faço uma pergunta a todos: alguém tem noção de seus custos? Quanto tá custando para produzir um litro de leite? Uma saca de café? A princípio ninguém sabe. Fica aquela interrogação porque eles estão vendendo seus produtos sem saber o custo da produção. Mas no final da Oficina se chega a alguns custos e tem gente que os olhos brilham e como a Dona Francisca exclama: ‘Meu Deus agora, depois de 20, 30 anos, eu sei quanto tá custando o litro do meu leite, a saca do meu café…’ Se o produtor não sabe quanto custa o litro de leite, a saca de café…ele não pode fazer uma boa venda. Por mais que seja tomador de preço e não formador de preço, mas se ele não souber o custo daquela atividade ele não tem como saber se é rentável ou não, até onde ele pode investir ou não. E essa é uma enorme diferença para quem trabalha no campo”, finalizou Genaldo Martins.
Realidade pedagógica
Sobre a visão pedagógica da Oficina, o professor de matemática e ciências Nilmar Tavarez Pereira concluiu que “a oficina foi bem esclarecedora. Já era um tema esperado pela nossa comunidade e que temos abordado em nossos estudos no Educampo. Acredito que essas informações trazidas pelo extensionista vão dar uma ideia para os alunos que a permanência no campo é viável e rentável e que ele pode continuar produzindo e até melhorando sua qualidade de vida. O que ficou bem explicado pelo engenheiro Genaldo é que para que eu tenha realmente um ganho eu tenho que ter eficiência na produção e essa eficiência inicia-se com o controle dos gastos desta produção”.