Geada nos cafezais: Como evitar prejuízos na propriedade

A geada nas lavouras de café no sul de Minas Gerais é uma realidade que causa medo nos produtores rurais.

Por: Autor: Ivens Henrique Carvalho da CrOKuz - BLOG REHAGRO

Isso porque é o fenômeno natural que pode levar as plantas de café a morte e perder toda a produção do próximo ano. Um exemplo clássico é o estado do Paraná que teve a cultura dizimada na década de 70 devido aos danos ocasionados pelo fenômeno.

A planta de café está entre as culturas mais sensíveis à geada. A sensibilidade está ligada a estrutura da parede celular, que no exemplo do café é sensível ao congelamento por se romper facilmente. O frio por si só, causa um retardamento no crescimento da planta e as bordas das folhas novas amarelecem e podem ate a escurecer. Quando a geada atinge a planta, as partes atingidas atingem coloração escura, com aspecto de queima.

A geada pode atingir apenas as partes externas da planta (geada de capote), atingir o tronco em lavouras de até 1,5 anos (canela de geada) ou ainda queimar a planta como um todo. Os pontos da planta atingidos são caracterizados por grande formação de brotações (palmeamento) (MATIOELLO, et al, 2016).

Fonte: Luiz Paulo Vilela

Considerando o ponto de vista agronômico, geada é um fenômeno que causa morte das plantas ou de algumas de suas partes em função da redução da temperatura ambiente. A morte da planta se dá devido a formação de gelo nos espaços intercelulares das plantas, que podem danificar o tecido de duas formas:

formação de cristais de gelo que rompe o tecido celular

desidratação da célula, visto que o gelo é formado apenas por água pura e que consequentemente aumenta a concentração no meio intercelular e assim forma um potencial osmótico entre o meio inter e o intracelular.

Ao contrário do que muitos pensam, o sol que atinge o gelo formado superficialmente no tecido vegetal não é a causa da queima das plantas. As geadas agronômicas são divididas em geada branca ou geada negra. A geada branca é quando há congelamento do orvalho e deposição na superfície do material vegetal, devido a condensação do vapor de água atmosférico.

Ocorre quando a temperatura de congelamento do ar é menor do que a temperatura de congelamento da planta, ou seja a umidade do ar está alta. Em condições em que a umidade do ar está baixa (o ar do ambiente está seco), o frio é capaz de congelar a seiva da planta antes mesmo de formar cristais de gelo na superfície vegetal. Portanto, não é visível como a geada branca e é denominada de geada negra. Diferente da geada negra, a geada branca em alguns casos pode ser reversível.

Como já citado, a geada ocorre nas noites que a temperatura ambiente esta baixa, ou seja, noites frias. Os meses de inverno (junho, julho e agosto) são os mais propensos a ocorrência do fenômeno, por serem secos e com as noites longas. Dias com o céu limpo (sem nuvens) e noites sem vento, também favorecem a redução da temperatura noturna.

Como evitar prejuízos com geadas?

Dentre os manejos existentes para reduzir o prejuízo com geadas, a escolha  da área é a melhor prevenção. Realizar plantios acima da “linha de geada” (mínimo de 4 anos sem ocorrência de geada) para evitar locais de risco. Para saber onde é formada a linha de geada é interessante buscar o histórico da área e realizar bate papos com os vizinhos e pessoas mais velhas. Os locais abaixo da lavoura devem promover a drenagem do ar frio (evitar vegetação densa) e manter vegetação de porte alto acima da lavoura para evitar a entrada de ar frio na lavoura.

Em alguns casos, a arborização no meio da lavoura tem auxiliado no controle. Os terrenos com faces expostas no sentido noroeste são menos propensos a ocorrência do fenômeno. As mantença da sanidade e da boa nutrição da lavoura é um ponto primordial e que muitos produtores esquecem, pois uma lavoura bem nutrida e sadia terá mais condições de tolerância à geada.

Nos casos em que o controle deve ser imediatista algumas alternativas de manejo podem ajudar. O processo de chegada de terra evita a geada de canela. A literatura recomenda o enterro de mudas de até 6 meses de idade, contudo é uma operação de risco e com custo elevado, muitas vezes inviável.

A vegetação na entrelinha deve ser mantida controlada para expor o solo ao sol e reter mais calor durante o dia. Contudo, o controle do mato deve ser preferencialmente mecânico para não desencadear outros problemas. O processo de arruação é uma operação que favorece este aquecimento do solo. As áreas abaixo da lavoura devem ser mantidas com o dossel vegetal baixo para favorecer o fluxo de ar frio vindo da lavoura.

As propriedades que dispõe de irrigação devem fazer uso da mesma, pois o processo umidifica o ar e eleva o ponto de congelamento. Quando observado o risco de geada, realizar uma adubação foliar com sulfato de potássio tem mostrado bons resultados por dois motivos: o nutriente potássio na planta aumenta o ponto de congelamento da seiva e; o processo de pulverização, além de aplicar água, também causa uma turbulência no ar frio, dispersando-o no ambiente.

Por isso, estar atento ao local de plantio e as condições do ambiente e da lavoura são pontos que devem ser acompanhados minuciosamente pelos produtores e técnicos de campo. Para evitar ou reduzir o risco de geada, porque uma vez que a geada atingiu a lavoura, a reversão é pouco eficiente e nem sempre é possível de ser realizada.

Referências Bibliográficas

CAMARGO, A.P. Instruções para o combate à geada em cafezais. Campinas, IAC, 1963. 18p. (Boletim Técnico 130).

CARVALHO, L. G.; DANTAS, A. A. A.; CASTRO NETO, P.. Agrometeorologia: Geada e plantas cultivadas. Lavras, UFLA, 2014.

MATIELLO, J. B.; ALMEIDA, S.R. Deu geada no cafezal, não façam podas já. Engs Agrs Mapa-Procafé, REVISTA DO CAFÉ, 2016. 24p. Disponível em: http://www.cccrj.com.br/revista/839/24.pdf. Acessado em: junho 2017.

PEREIRA, A.R.; ANGELOCCI, L.R.; SENTELHAS, P.C. Agrometeorologia: fundamentos e aplicações práticas. Guaíba: Livraria e Editora Agropecuária Ltda., 2002. 478p.

 

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