membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM.
Máquinas inteligentes, capazes de simular o pensamento humano, tomar decisões e substituir o homem nas tarefas. Nova realidade no agro, na qual robôs ou sistemas integrados analisam os objetivos de uma tarefa, conferem sua execução e identificam riscos e falhas, intervindo na ação ou informando a gestores essas ocorrências. É o chamado “agro de quarta geração”, que adiciona inteligência a máquinas e processos, tornando as operações mais eficazes.
Esse mundo novo traz um desafio essencial: a adaptação rápida dos profissionais a um ambiente de mudança extremamente veloz. Hoje, já temos robôs cuidando do manejo em granjas suinícolas (EUA), tratores autônomos ou com sensores que enviam dados para um “servidor na nuvem”, automação da alimentação animal, App para gestão de fertilidade nas lavouras e centros de genética líquida suína automatizados da coleta ao envase do sêmen.
Mais ainda: operações agrícolas com milhares de hectares podem ser automatizadas de ponta a ponta, como se fossem uma operação industrial de grande escala. Outro exemplo: está em adaptação e desenvolvimento de campo, no Brasil Central, uma plataforma digital de gerenciamento da produção (“FieldView”) que vem deixando impactos positivos e já é utilizada por mais de 100 mil agricultores nos Estados Unidos, em cerca de 38 milhões de hectares.
Nisso tudo, há uma pedra angular: educação. Pessoas certas e capacitadas para fazer tudo isso andar e se espalhar, tanto na geração das soluções tecnológicas como no desafio de implantar, usar e gerenciar, no dia a dia. Pessoas instruídas e treinadas, para fazer a revolução acontecer no campo e nas cadeias produtivas. A tecnologia está aí, nas universidades, empresas ou startups. Os próximos passos têm a ver com recursos, aprendizado, estrutura e atitude.
Desafios que começam por entender o papel dessa revolução tecnológica e compreender o seu potencial melhorador de competitividade, no agro. Depois, definir os passos para construir a nova realidade no próprio negócio (produtor ou cooperativa), organizar prioridades e começar a fazer as coisas. De preferência sem se perder em retóricas sobre sistemas 4.0, internet das coisas, big data e coisas assim, para não confundir as pessoas e tirar o foco.
Estudo apoiado pela Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), com dados de mais de 200 organizações candidatas ao ranking anual das “mais inovadoras”, selecionado pela entidade, mostra que 63% usam sistemas ligados a inteligência artificial e 35% planejam adotar. Lembrando que são empresas de destaque em seus setores, que fazem tendências de competitividade, entre elas várias do agronegócio.
As novas tecnologias digitais podem trazer grandes transformações nos sistemas de produção do agro, pois conectam o mundo físico ao mundo virtual. E isto em geral quer dizer que será preciso olhar os métodos físicos de produzir e de conduzir as operações, analisar dados de todos os processos, refletir sobre formas de tornar os procedimentos mais eficazes e, por fim, reempacotar tudo nos termos da inteligência artificial e da automação.
Não é tarefa para se desenvolver sozinho, pois nesse terreno a força das conexões é um valioso acelerador de soluções. Fundamental saber, também, que conhecimento e ousadia são vitais no processo. O talento já existe no ambiente do agro, como mostram startups brasileiras AgTech e produtores que ingressaram com sucesso nessa nova fronteira de gestão. Como diz a sabedoria mineira: é um trem “bão”, mas não espera ninguém e vai ser difícil alcançar depois.