09/03/2018
Silvia Costanti/Valor
Existe um risco considerável de que o abastecimento do rio Paraíba pelas águas do São Francisco seja interrompido. Isso pode ocorrer se as chuvas deste ano nos açudes próximos a Campina Grande (PB) não forem suficientes para eliminar a ameaça de colapso hídrico na cidade, a segunda mais populosa do Estado.
“O custo de bombear água da transposição é muito elevado e deveria, originalmente, estar sendo pago pelos Estados. Mas isso não está acontecendo, ainda precisa ser equacionado”, explica Alan Vaz Lopes, superintendente- adjunto de fiscalização da Agência Nacional de Águas (ANA).
O custo atual do bombeamento das águas da transposição fica entre R$ 450 milhões e R$ 500 milhões por ano e está sendo 100% arcado pelo governo federal até o momento, segundo Lopes.
Dentro do projeto da transposição, a irrigação rivaliza com o suprimento humano de água nas áreas urbanas, que é a prioridade maior da obra. Em Monteiro, o rodízio de abastecimento que tornava os moradores dependentes de carros-pipa na maior parte do mês, praticamente acabou. Para preservar essa situação, o controle da irrigação está rígido e deve permanecer assim no médio prazo.
Na área que margeia o rio Paraíba, visitada pelo Valor, já estão sendo irrigados 155 hectares, e o limite estabelecido para a região é de 250 hectares. Nas proximidades do açude do Boqueirão, que abastece Campina Grande, poderão ser irrigados mais 250 hectares, e está autorizado o plantio em 230 hectares. “Quando chegar nos limites estabelecidos, vamos suspender a concessão de novas autorizações.”
Lopes acredita que a demanda para novas áreas irrigadas no rio Paraíba vai ser superior ao que poderá ser liberado. “Pessoas estão indo para a região porque o rio só enchia com chuva e, no momento, está perene”, diz.
Para quem infringir as regras, a punição inicial é de advertência. Se a infração for cometida novamente, está prevista multa de R$ 3 mil a R$ 10 mil. No longo prazo, Lopes acredita que o limite de área para irrigação possa ficar mais flexível, mas ainda é preciso “ter mais segurança no projeto”.
O rio São Francisco vive a pior seca da história, com a vazão na usina de Xingó na mínima de 550 metros cúbicos por segundo. Segundo determinação da ANA, a transposição pode exigir, no máximo, 26,4 metros cúbicos por segundo do rio.
Fonte : Valor