Neste capítulo
iremos analisar a crise final da República Oligárquica que culminou com a
Revolução de 1930. l Para isso, é importante que você perceba que esta crise faz
parte de um processo que vinha se estendendo desde a Primeira Guerra Mundial. O
capítulo anterior dedicado à análise desta crise estrutural nos mostrou que em
diversos setores da sociedade brasileira havia um repúdio a ordem
instituída.Todas estas oposições, contudo, não foram suficientes para romper o
elo da República café-com-leite. A ruptura do poder dos cafeicultores acabou se
sucedendo somente quando as oligarquias brasileiras perderam a capacidade de
continuar se rearticulando.As dissidências oligárquicas já vinham se
demonstrando ao longo dos anos vinte, mas foi somente nos anos de 1929 e 1930,
com a crise econômica internacional e com a acirrada campanha eleitoral para
presidente, que elas se tornaram golpistas.
Neste capítulo cabe-nos
analisar a quebra da Bolsa de Valores de 1929 e a Revolução de
1930. Antes de começarmos precisamos ter claro
que apesar do termo Revolução, a ruptura político-intitucional de 1930 que tirou
o presidente cafeicultor Washington Luís do poder, não passou de um golpe de
Estado.Lembramos aqui que o termo Revolução é encarado pela historiografia como
algo que vai muito além da mera ruptura constitucional e passa necessariamente
por profundas alterações nas estruturas sociais, econômicas e políticas de uma
região. Não foi o que aconteceu com nosso país com a “Revolução” de 1930.
A Crise de 1929 e a quebra de bolsa de Nova
Iorque
Em 1928 o governo
norte-americano, buscando proteger a produção frente aos produtos europeus que
voltavam a circular em grande quantidade com a reconstrução do pós-guerra,
elevou as taxas de importação.A resposta das economias européias foi a elevação
de suas taxas alfandegárias na mesma medida. O resultado foi uma crise no
comércio mundial e a recessão. A crise que
abalou a indústria mundial afetou também a economia agrária norte-americana. O
armazenamento de produtos agrícolas, procurando forçar os preços para cima,
repercutiu no aumento considerável do custo de vida. O quadro de crise provocou
quedas significativas nos preços das ações negociadas na Bolsa de Valores de
Nova Iorque. A venda de ações no mercado aumentou desproporcionalmente. Empresas
buscavam se capitalizar jogando suas ações no mercado. Os lotes de ações
especulativas eram muito superiores do que se imaginava e, no momento que muitas
empresas buscavam a capitalização para superar a crise, as ações na Bolsa
estavam em queda livre. O mercado não mais confiava nas ações e elas
simplesmente deixaram de ser negociadas. Era a queda da Bolsa de Nova
Iorque. O “crack” da Bolsa provocou a falência
de milhares de empresas norte-americanas, arruinou a produção agrícola e
provocou um brutal desemprego. A depressão econômica nos Estados Unidos
repercutiu imediatamente no mercado mundial, levando o capitalismo internacional
à maior crise de sua história. A economia
brasileira na época era predominantemente agrário-exportadora. A retração do
mercado internacional provocou uma violenta queda nas exportações e a crise
econômica se alastrou por todo o país. A parcial falência da cafeicultura levou,
entre outras coisas, ao aumento das tensões políticas internas, devendo ser
vista como uma das causas imediatas da Revolução de 1930.
Pés de café em
diversos estados
1 9 2 1
1 9 3 0
São Paulo
843.592.000
1.188.058.000
Minas Gerais
511.252.100
650.691.700
Espírito Santo
122.500.000
271.400.000
Rio de Janeiro
160.239.000
213.818.000
Bahia
49.799.000
94.440.200
Pernambuco
27.886.000
82.073.000
Paraná
15.138.000
30.229.000
(Fonte: Castro. Citado por Boris Fausto. História Geral
da civilização brasileira. V. 8,
p.242)
Brasil:
Principais produtos de exportação (1891 – 1929)
Datas
Participação (em %) na receita das
exportações
Café
Açúcar
Algodão
Borracha
Couros e peles
Outros
Total
1891 – 1900
65,5
6,0
2,7
15,0
2,4
9,4
100,0
1901 – 1910
52,7
1,9
2,1
25,7
4,2
13,4
100,0
1911 – 1913
61,7
0,3
2,1
20,0
4,2
11,7
100,0
1914 – 1918
47,4
3,9
1,4
12,0
7,5
27,8
100,0
1919 – 1923
58,8
4,7
3,4
3,0
5,3
24,8
100,0
1924 – 1928
72,5
0,4
1,9
2,8
4,5
17,9
100,0
Fontes: H. Schlittler Silva; AVillanova Vilela A e W.
Suzigan. Citados por Paul Singer. “O Brasil no contexto do capitalismo
internacional”. Em Boris Fausto. (História Geral da civilização brasileira.
2a. ed., São Paulo, Difel, 1977. v. 8,
p.355)
A Crise Final da República
Oligárquica
Os últimos anos do governo de
Washington Luís, paulista e cafeicultor, foram marcados por uma acirrada disputa
eleitoral. Depois de muitos anos as eleições ganharam um contorno de verdadeira
disputa. A violenta crise econômica levou
Washington Luís a apoiar a candidatura do também paulista e cafeicultor, então
governador de São Paulo, Júlio Prestes. Estava rompido o acordo do
café-com-leite. O governador de Minas Gerais Antônio Carlos de Andrada, que já
tinha como certa sua indicação e falava como futuro presidente, ficou a ver
navios. O rompimento do acordo do
café-com-leite levou a oligarquia mineira a apoiar uma candidatura de oposição.
Formou-se a Aliança Liberal : as elites mineiras, gaúchas e paraibanas se uniram
em torno da chapa encabeçada por Getúlio Dorneles Vargas, tendo como vice João
Pessoa. Esta coligação política apesar de oligárquica, passou a simbolizar toda
uma vontade nacional de romper com o monopólio político do café, obtendo apoio
de amplos e variados setores políticos. As oligarquias dissidentes e as Forças
Armadas identificadas com o Tenentismo, foram os maiores aliados. Na campanha
pré-eleitoral, Getúlio Vargas demonstrou também um sólido apoio popular.
Comícios gigantescos tomaram as principais cidades do
país. Apesar das pesquisas demonstrarem a
virtual vitória de Getúlio, as eleições, violentamente fraudadas, deram o
resultado do pleito favorável a Júlio Prestes. A vitória de Júlio Prestes causou
um profundo descontentamento político no país e as tensões se avolumaram. As
forças populares começaram a dar demonstrações de que não mais aceitariam em
silêncio as falcatruas governamentais. As
forças oligárquicas e burguesas inquietavam-se com as agitações populares e
buscavam controlar o processo político para que não caminhasse para uma
radicalização em que as elites perdessem o controle do
poder. O assassinato de João Pessoa, candidato
a vice pela Aliança Liberal, precipitou o confronto. Apesar de ter sido
assassinado por questões políticas epecíficas de seu estado natal, a Paraíba, em
âmbito nacional tal acontecimento foi usado como pretexto para o movimento de
derrubada de Washington Luís e impedimento da posse de Júlio Prestes. Eclodia a
“Revolução” de 1930.
O Movimento
Militar
No dia 3 de abril de 1930 o
então tenente-coronel Góis Monteiro liderava tropas gaúchas rebeladas em direção
à capital federal. O apoio de outros setores militares não tardou a chegar. No
nordeste o apoio foi quase unânime. De Minas Gerais partiram tropas em direção à
São Paulo, reduto cafeicultor. No Rio de Janeiro, capital federal, uma junta
militar formada por alguns dos mais importantes generais e almirantes
brasileiros, depunham o presidente Washington Luís. Alguns dias depois, Getúlio
Vargas assumia como presidente provisório. Era o fim da República
Oligárquica.
TEXTO
COMPLEMENTAR : A GRANDE DEPRESSÃO DE 1930 (JOHN KEYNES) – EM ANEXO
Você Aprendeu:
Neste breve capítulo procuramos encerrar mais uma fase da história de
nosso país, na qual o governo era monopolizado pelos cafeicultores. Com o
término desta fase, assistimos ao fim da República Velha.
A
ruptura política ocorrida em 1930, acabou com a República Oligárquica. Sua queda
derivou de causas estruturais decorrentes de uma longa crise cuja gênese deve
ser procurada nos tempos da Primeira Guerra Mundial.A derrubada do governo foi
,então, precipitada por esta crise econômica e também por motivos internos que
acabamos de analisar neste capítulo.
C
a d e r n o d o p r o f e s s o r
Neste
capítulo acreditamos ser o debate sobre o conceito de Revolução um dos pontos
centrais. É importante elucidarmos o golpismo em 1930 como uma rearticulação das
elites brasileiras no poder do Estado. O fim da hegemonia cafeicultora não deve
ser encarado como um processo de democratização, mas como uma divisão mais
proporcional da ordem instituída entre os diversos setores das elites nacionais.
é Julgamos importante ainda a elucidação para o aluno das relações entre a
Revolução de 30 com a conjuntura internacional, mostrando como um país muito
dependente do mercado externo está constantemente sujeito às oscilações do
mesmo.