Ele morou 25 anos numa casa nos fundos do Museu Histórico “Plínio Travassos dos Santos”, viu nascer o Museu do Café, conhece como poucos a história da Fazenda Monte Alegre, onde cresceu, casou e, já como funcionário municipal, aposentou-se. Waldemar de Oliveira, 82 anos, é filho de Manoel de Oliveira e Jovina Caneges Medeiros de Oliveira, casal de colonos da Fazenda Monte Alegre, nos tempos áureos do coronel Francisco Schmidt, o “rei do Café”. Desde criança, ganhou o apelido de Berlim. Pegou, mas o motivo nem ele sabe. Waldemar de Oliveira nasceu em 1923, numa colônia que ficava onde hoje está o conjunto Adão do Carmo Leonel, na época parte da Fazenda Monte Alegre. Em 1935, com doze anos, passou a morar numa casa para colonos perto de uma das casas-grandes da fazenda, aquela que é hoje o Prédio Central da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Na década de 30, após a morte do coronel Schmidt (1924), a fazenda já pertencia a Jacob Schmidt, um dos herdeiros do “rei do Café”. Acompanhou o declínio da lavoura cafeeira, após a crise de 1929, sua substituição fracassada pelo algodão, a venda da fazenda para João Marchesi e, em seguida, a desapropriação, pelo Estado, que lá montou uma Escola Prática de Agricultura. -Até os dezesseis anos trabalhei na lavoura do café, depois fui carroceiro e com a chegada dos agrônomos, em 1942, passei a dar aulas práticas para os alunos, recorda. Casou-se com Dorvalina Gregis de Oliveira, também colona da fazenda, em 1947, e, pela primeira vez na vida, deixou de morar lá. -Trabalhei por cinco anos num armazém na avenida Bandeirantes, depois na transportadora do Orlando Vitaliano e no sítio do professor Zeferino Vaz (fundador da FMRP-USP). Em 1957 entrou para a Prefeitura, como servente, e logo depois estava morando numa casa de uma das antigas colônias da fazenda Monte Alegre, localizada nos fundos do Museu Histórico. -Vi o Museu do Café nascer, lembro bem do esforço do Dr. Plínio Travassos dos Santos, seu primeiro diretor, conta. Apesar da função de servente, na prática Berlim era o que se costuma chamar de “faz-tudo”. Um zelador perfeito e dedicado. -Eu lavava os corredores, aparava a grama, limpava tudo e de noite ainda vigiava, acompanhado de um Dobermann. Depois de 35 anos de serviços, aposentou-se em 1992. – Foi só eu sair de lá que em seguida roubaram as quatro rodas da carruagem que era utilizada pelo prefeito Fábio Barreto na década de 40, lamenta. Recentemente, Berlim esteve no Museu Histórico e assustou-se com o que viu. -Quando sai de lá era um cartão de visitas. Deu dó do que vi, não imaginava que um patrimônio daqueles seria tratado de forma tão desleixada, reclama, sobre as condições de conservação do Complexo de Museus Municipais, que já há algum tempo passa por reformas.
CONEXÕES Ainda no Monte Alegre
Berlim não só viveu a maior parte de seus 82 anos dentro dos limites da Fazenda Monte Alegre, como criou lá a sua família. Ele e dona Dorvalina tiveram cinco filhos – quatro mulheres e um homem. José Carlos de Oliveira, chefe da Divisão de Engenharia da Prefeitura, faleceu em 1987, aos 27 anos, vítima de meningite. Dele e da nora Miriam o casal ganhou dois netos. As quatro filhas são casadas – Neusa é funcionária pública estadual; Nilce trabalha no campus da USP; Marli é promotora de vendas e Heleni é casada com um químico da USP. São no total oito netos. Aos 82 anos, seu Oswaldo ainda fala com orgulho da Fazenda Monte Alegre (leia box).Aposentado, cercado pelo carinho da família, ele mora com a mulher Dorvalina numa travessa da rua Guia Lopes, também no bairro Monte Alegre. -Sou um privilegiado, simplesmente continuo morando onde nasci, cresci, conheci minha esposa e onde trabalhei por 35 anos até me aposentar.
ANOS DOURADOS Fazenda teve até moeda própria
Desmembrada da grande Fazenda Rio Pardo, nos primórdios da ocupação das terras onde está a cidade de Ribeirão Preto, a Fazenda Laureano pertenceu até 1845 a Matheus dos Reis Araújo, da pioneira família Reis Araújo. Nas três décadas seguintes a Fazenda Laureano passou por diversos donos, sempre mantendo suas divisas, até ser dividida, em 1874. A gleba correspondente à Fazenda Monte Alegre (398 alqueires) foi comprada por João Franco de Morais Otávio, o primeiro grande cafeicultor da história de Ribeirão Preto. Em 1890 ele vendeu a Monte Alegre para o alemão Francisco Schmidt, que anos depois seria conhecido como o “rei do C0afé”. Schmidt mantinha apenas em Ribeirão doze fazendas, totalizando 2.935 alqueires, onde cultivava 3,4 milhões de cafeeiros. O centro administrativo da Companhia Agrícola Francisco Schmidt era a Fazenda Monte Alegre. Schmidt chegou a ter 62 fazendas, com 16 milhões de pés de café. Em 1912, com 7,8 milhões de cafeeiros, produziu 10.500 toneladas de café, fazendo jus ao título de “rei do Café” – era provavelmente o maior produtor mundial. O poder da Companhia Agrícola Francisco Schmidt era tal que chegou ser cunhado um vale-moeda, inicialmente para ser utilizado nos armazéns existentes nas fazendas, mas que acabaria aceito até nas casas comerciais de Ribeirão Preto. Francisco Schmidt morreu em 1924 e a Monte Alegre foi herdada por um de seus filhos, Jacob Schmidt, que a vendeu a João Marchesi um pouco antes de ser desapropriada pelo governo estadual para a instalação da Escola Prática de Agricultura. Hoje boa parte da mítica Fazenda Monte Alegre abriga o Campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Fonte: http://www.jornalacidade.com.br/geral/ver_news.php?pid=33&nid=38515 |
Meu avô e outros imigrantes vieram de Portugal em 1910 para trabalhar no Fazenda Monte Alegre do Cel. Francisco Schimdt. Alguém teria informações sobre documentos pessoais desse povo e quais foram seus destinos após a morte do Coronel?