Expectativa é de crescimento de 20% ao ano no país asiático
Potencial de expansão. Barista prepara café em Hong Kong: chineses bebem, em média, três cafés por ano. País busca não só consumir como produzir bebida – Daniel J. Groshong / /Bloomberg/ARQUIVO
28/02/2017 4:30 PEQUIM – A China tornou-se uma mina de ouro para os produtores de café. O potencial de negócios na nação mais populosa do planeta — que tomou gosto por esta bebida tão pouco chinesa — é tal, que grandes grupos apressaram-se em fincar pé no país. A expectativa é que o consumo, que triplicou nos últimos quatro anos, cresça a acelerados 20% ao ano daqui em diante. Ou seja, o boom (do segmento) ignora a redução do ritmo da economia chinesa.
A americana Starbucks planeja criar dez mil empregos no país por ano nos próximos cinco anos. E pretende abrir 500 lojas em cada um deles. A meta é expandir a rede para cinco mil lojas até 2021, dobrando o número atual e triplicando as suas receitas no país, hoje o segundo maior mercado da companhia, depois dos Estados Unidos.
— Servimos cinco milhões de clientes por semana. Quando entramos neste mercado, há 17 anos, investimos mais do que a taxa de crescimento. Foi um longo caminho até aprendermos como abrir uma loja bonita e lucrativa a cada 15 horas no país — disse a gerente executiva da Starbucks na China, Belinda Wong, destacando que o design é feito na China e para a China, num escritório em Xangai.
A empresa acaba de abrir a possibilidade inédita de consumidores oferecem a amigos e conhecidos cafés da rede pelo WeChat (a versão chinesa do que seria um cruzamento do WhatsApp e Facebook, com mais de 700 milhões de usuários).
Como a americana, outras estrangeiras vêm tentando garantir o seu quinhão neste novo eldorado do café. A britânica Costa Coffee quer ter 700 lojas na China até 2020. A Nespresso abriu sua primeira loja chinesa em 2007. Há três anos, a brasileira Unique Cafés vendia cem quilos de cafés especiais por mês no mercado chinês, em parceira com a Cape Coffee, baseada em Xangai. Hoje, são mais de 300 quilos. O país ainda é um mercado pequeno para as vendas da empresa, que exporta 90% das 15 mil sacas de cafés especiais que produz por ano.
— Não vai a 3% das nossas exportações. Mas a China é um mercado em que acreditamos muito. Queremos estar com o pé no mercado. Esse é um movimento natural: começa com o consumo do café convencional e depois, o especial — disse ao GLOBO o diretor da empresa, Élcio Júnior.
PRODUTO CONSIDERADO SÍMBOLO DE STATUS
O café está na moda. É hábito que surgiu com o exército de centenas de milhões de pessoas que compõem a nova classe média chinesa, sobretudo entre jovens e mulheres, segundo pesquisas recentes. Aliás, este foi um dos principais fatores apontados por Wong para o sucesso da Starbucks em solo chinês. De 2005 a 2015, este contingente passou de 60 milhões a 300 milhões, segundo dados da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Mas a expectativa é que bata os 600 milhões de pessoas até 2022.
Individualmente, os chineses tomam pouco café. São três xícaras por ano, em média. Nada que se compare aos 363 dos americanos, ou as 482 dos brasileiros. Mas que pode se tornar uma cifra enorme se multiplicada pelo tamanho da população. Hoje, a China consome apenas 2% do café produzido no mundo. É um produto considerado de luxo, que virou símbolo de status. Há quem o traga na mala quando viaja ao exterior. Mas isso não impede que os jovens chineses se produzam para frequentar os cafés da moda, que viraram ponto de encontro de pessoas de negócios e escritórios improvisados de profissionais liberais na China.
Todo mundo na China carrega a tiracolo sua garrafinha de chá. O país é o maior produtor e consumidor de chá do mundo. São 400 xícaras por pessoa, por ano, na média. A depender do ritmo de crescimento do segmento de café na China, o país pode se tornar um dos principais mercados.
Dados da Organização Internacional do Café (OIC) mostram que a China se prepara não só para consumir, mas para produzir. Já ultrapassou produtores como Quênia e Tanzânia juntos. Hoje, o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. Quem não se colocar agora, pode ficar para trás.
Pode ser que o Brasil tenha dificuldades para aproveitar a janela de oportunidade chinesa. A exportação de café do Brasil em 2017 deverá recuar pelo segundo ano consecutivo. Os embarques foram prejudicados pela escassez do grão do tipo robusta, segundo representantes do Conselho dos Exportadores de Café do país (Cecafé) e da Cooxupé, líder no ranking das vendas externas. O Cecafé estima os embarques neste ano em 32 milhões de sacas de 60 kg, volume que considera o produto verde e industrializado, queda de 2 milhões ante 2016.
Leia a íntegra no O Globo