O método que propõe utilizar a cafeína como indicador da qualidade da água foi testado com sucesso em amostras da baía da Guanabara (RJ), retratada acima. A necessidade de novas técnicas para controle da qualidade da água foi a motivação para o desenvolvimento da pesquisa. “O esgoto das cidades grandes, nos últimos tempos, está cada vez mais complexo”, afirma o pesquisador Aldo Pacheco Ferreira, coordenador do projeto. “Os microrganismos usados como indicadores têm uma organização tal que sofrem interferências em contato com os demais poluentes. Essas alterações dificultam sua detecção e tornam as análises imprecisas.”
Novos poluentes podem ser identificados por método para avaliar qualidade da água
Muitos freqüentadores de praias checam diariamente nos jornais se a água do mar está própria ou imprópria para banho. Essa análise da qualidade, feita pela medição da presença de microrganismos na água, como os coliformes fecais, foi o alvo de um estudo realizado na Fundação Oswaldo Cruz que sugere um novo e inusitado indicador ambiental: a cafeína.
Entre os novos agentes poluidores estão, por exemplo, agrotóxicos usados em lavouras, que são lançados nos rios com a lavagem dos solos pelas chuvas e, conseqüentemente, chegam ao mar. Há ainda a excreção de animais de corte, como o frango, que possuem em sua dieta hormônios e antibióticos que também acabam chegando aos oceanos. Isso sem falar da própria excreção humana, que joga nos esgotos resíduos de centenas de tipos fármacos que não existiam há alguns anos.
“Os pesquisadores da saúde pública começaram a observar que, mesmo em águas consideradas próprias para banho, doenças apareciam entre os usuários”, continua Aldo Ferreira. “Passamos então a buscar alternativas de indicadores químicos de poluentes antrópicos – e é onde entra a cafeína”.
Cafeína inalterada
A cafeína é uma substância muito presente na dieta humana, encontrada não só no café, mas também em refrigerantes, massas, chocolates, chás e até em medicamentos como a Aspirina. Entre 0,5 e 3% da cafeína ingerida é excretada pelo organismo humano sem sofrer alterações metabólicas – ou seja, a molécula é excretada inalterada pelo corpo – e jogada na rede de esgotos urbanos. “Além de insolúvel em água, a molécula da cafeína é estável e não sofre alterações em sua forma provocadas pelo meio poluente”, justifica o pesquisador. “Tais características fazem dela um indicador seguro e de fácil determinação.”
O pesquisador coletou amostras de água em 500 pontos da bacia hidrográfica da Leopoldina, responsável por despejar esgoto doméstico e industrial na baía de Guanabara. Após avaliar a presença em cada amostra de microrganismos e de cafeína, ele concluiu que a presença de 200 microgramas de cafeína por mililitro de água indicava a presença de uma quantidade expressiva de patógenos.
O estudo pretende aplicar a técnica da cafeína como indicador de poluentes antrópicos dentro de dois anos. Antes disso, os pesquisadores esperam testá-la em domicílios, estações de tratamento de água e esgotos, além de ampliar a pesquisa a outros rios. O objetivo é obter uma faixa segura para classificação da água como mais ou menos impura.
Rosa Maria Mattos
Ciência Hoje On-line
22/05/2006
O método que propõe utilizar a cafeína como indicador da qualidade da água foi testado com sucesso em amostras da baía da Guanabara (RJ), retratada acima. A necessidade de novas técnicas para controle da qualidade da água foi a motivação para o desenvolvimento da pesquisa. “O esgoto das cidades grandes, nos últimos tempos, está cada vez mais complexo”, afirma o pesquisador Aldo Pacheco Ferreira, coordenador do projeto. “Os microrganismos usados como indicadores têm uma organização tal que sofrem interferências em contato com os demais poluentes. Essas alterações dificultam sua detecção e tornam as análises imprecisas.”
Novos poluentes podem ser identificados por método para avaliar qualidade da água
Muitos freqüentadores de praias checam diariamente nos jornais se a água do mar está própria ou imprópria para banho. Essa análise da qualidade, feita pela medição da presença de microrganismos na água, como os coliformes fecais, foi o alvo de um estudo realizado na Fundação Oswaldo Cruz que sugere um novo e inusitado indicador ambiental: a cafeína.
Entre os novos agentes poluidores estão, por exemplo, agrotóxicos usados em lavouras, que são lançados nos rios com a lavagem dos solos pelas chuvas e, conseqüentemente, chegam ao mar. Há ainda a excreção de animais de corte, como o frango, que possuem em sua dieta hormônios e antibióticos que também acabam chegando aos oceanos. Isso sem falar da própria excreção humana, que joga nos esgotos resíduos de centenas de tipos fármacos que não existiam há alguns anos.
“Os pesquisadores da saúde pública começaram a observar que, mesmo em águas consideradas próprias para banho, doenças apareciam entre os usuários”, continua Aldo Ferreira. “Passamos então a buscar alternativas de indicadores químicos de poluentes antrópicos – e é onde entra a cafeína”.
Cafeína inalterada
A cafeína é uma substância muito presente na dieta humana, encontrada não só no café, mas também em refrigerantes, massas, chocolates, chás e até em medicamentos como a Aspirina. Entre 0,5 e 3% da cafeína ingerida é excretada pelo organismo humano sem sofrer alterações metabólicas – ou seja, a molécula é excretada inalterada pelo corpo – e jogada na rede de esgotos urbanos. “Além de insolúvel em água, a molécula da cafeína é estável e não sofre alterações em sua forma provocadas pelo meio poluente”, justifica o pesquisador. “Tais características fazem dela um indicador seguro e de fácil determinação.”
O pesquisador coletou amostras de água em 500 pontos da bacia hidrográfica da Leopoldina, responsável por despejar esgoto doméstico e industrial na baía de Guanabara. Após avaliar a presença em cada amostra de microrganismos e de cafeína, ele concluiu que a presença de 200 microgramas de cafeína por mililitro de água indicava a presença de uma quantidade expressiva de patógenos.
O estudo pretende aplicar a técnica da cafeína como indicador de poluentes antrópicos dentro de dois anos. Antes disso, os pesquisadores esperam testá-la em domicílios, estações de tratamento de água e esgotos, além de ampliar a pesquisa a outros rios. O objetivo é obter uma faixa segura para classificação da água como mais ou menos impura.
Rosa Maria Mattos
Ciência Hoje On-line
22/05/2006