Importação do Conilon também pode afetar mercado e produção do arábica em Minas, principal estado produtor e exportador de café do país
Recentemente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) cogitou a possibilidade de importação do café Conilon e encaminhou à Câmara de Comércio Exterior (Camex) o pedido de autorização para essa medida. Discute-se uma flexibilização para a importação do café Conilon, com redução tarifária de 10% para 2% para uma cota de 1 milhão de sacas.
As medidas vêm sendo propostas devido à redução da safra do café Conilon pelas estiagens no Espírito Santo, aliada à previsão de uma safra inferior em 2017 e volumes menores no mercado. Esta menor disponibilidade resultou no acréscimo dos preços do café Conilon e a indústria de café está lidando com preços recordes. A importação, segundo a indústria, poderá ampliar a oferta com a consequente redução dos preços pagos aos produtores.
A Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) é contrária à essa decisão. Segundo o Secretário Pedro Leitão, o momento é de preocupação e requer disposição de todos os interessados em discutir esta questão relevante, de forma que nenhum setor venha a ser preterido ou prejudicado. Caso o Brasil opte pela importação de café verde, há outras desvantagens como o risco de introdução de doenças e/ou pragas não existentes no país. Apesar de Minas Gerais ter 99% da variedade arábica, tal precedente causa uma enorme preocupação para os produtores mineiros, uma vez que, nos últimos dez anos, 83% da produção foi destinada ao mercado externo.
Impacto em Minas
Nos últimos anos, os cafés brasileiros tiveram uma drástica mudança nos percentuais dos seus blends, saindo de cerca de 10% para 60% de Conilon na composição da bebida. A importação desta variedade reduzirá o preço para os produtores do Espírito Santo e poderá afetar a participação do café Arábica produzido em Minas nos blends. Deve-se considerar também que, em três meses, iniciará a nova safra que aumentará a oferta de produto, tempo inferior ao da efetivação do processo importação (alfandegário e logística).
Na avaliação do secretário Pedro Leitão, é inoportuna a importação do café Conilon para atender um segmento do mercado, porque, além de impactar negativamente o mercado interno, isso abrirá caminho para que o Brasil, no futuro, comece a importar também café Arábica, o que pode desestruturar o agronegócio café. “A avaliação deve ser feita com visão presente e futura do agronegócio café para não caminharmos na contramão da história. Somos, tradicionalmente, grande produtor e exportador de café e se a flexibilização da importação se confirmar, essa será a primeira vez em muitos anos que o Brasil importará café verde”, afirma o Secretário.