CAFÉ:
Porto Alegre, 03 de fevereiro de 2017 – Nos últimos meses, entidades
capixabas tem se movimentado para barrar a possível importação de café
robusta no Brasil. A demanda foi levantada pelas indústrias brasileiras de
café torrado e moído e também de solúvel, grande compradora da variedade
conilon, produzido principalmente pelo estado do Espírito Santo.
O principal argumento é de que, em decorrência da seca que assolou as
regiões produtoras do estado capixaba e sul da Bahia, os grãos estariam
minguando no mercado interno. Ao que o setor respondeu com um levantamento
independente, que reuniu entidades como a Federação da Agricultura do
Espírito Santo, a OCB/ES e Centro de Comércio do Café de Vitória (CCCV) e
parlamentares como o deputado federal Evair de Melo (PV/ES). O levantamento do
setor aponta que entre os estados produtores de Espírito Santo, Rondônia e Sul
da Bahia, ainda há pelo menos 4 milhões de sacas de conilon. Os dados, no
entanto, ficaram acima do que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
entregou ao Ministério da Agricultura pouco depois.
Outra face do pedido aponta para a escalada dos preços da variedade no
mercado interno, que atingiu a patamares históricos chegando a ficar acima de
R$500 no mês de outubro do ano passado. Contudo, a Organização das
Cooperativas Brasileira do Estado, a OCB/ES, resolveu contrapor a ideia de que a
importação do café de outras origens poderia resolver o problema de altos
gastos para a indústria nacional.
Segundo o levantamento de técnicos de mercado da entidade, o preço que a
indústria de torrado e moído deverá pagar por saca deverá aos produtores de
fora do país, pode variar entre R$525,00 com ICMS de 9%, e chegar a até
R$725,00 com ICMS de 35%. Sendo que o valor da saca no Brasil é em média
R$470,00. As avaliações simulam como se daria a importação de café robusta
do Vietnã, avaliado pelas próprias indústrias nacionais como a melhor opção
para se importar.
“Acreditamos que o alto valor da saca seja apenas um mecanismo inicial
para abrir as portas para a importação e que no futuro a oferta aos nossos
produtores será bem inferior à que é paga hoje, o que inviabiliza totalmente
a atividade e fará com que muitos deixem o campo com destino às cidades
grandes, que já estão com o mercado de trabalho esgotado”, disse o
presidente do Sistema OCB/ES, Sr. Esthério Sebastião Colnago.
Os valores foram calculados tomando por base as cotações para a variedade
na última quinta-feira, dia 26 de janeiro, com o custo do café FOB em
R$387,85. Confira, abaixo, a tabela que apresenta os custos caso o ICMS seja de
17%:
Em uma conta rápida, Esthério Colnago aponta que mais de R$ 2 bilhões
deixaram de circular somente com as perdas do café no último ano e se a
exportação for liberada, as perdas serão irreparáveis. “É preciso que o
Governo pense não só nas perdas econômicas, mas também nas perdas sociais
que essa decisão poderá trazer. Elas serão maiores que o prejuízo do Fundap,
não dá para pagar para ver, é preciso agir e barrar essa decisão”,
concluiu.
O mercado
A equipe do Sistema OCB/ES explica que pesquisou junto a empresas de
importação o custo da saca com ICMS variando entre 9%, 17% e 35%. Já que não
há uma porcentagem real até o momento, os técnicos trabalharam entre a menor
(9%) e a maior (35%), havendo ainda uma intermediária (17%). “Reparem que em
todas as simulações, o valor está bem acima do pago aos produtores
brasileiros”, pontua a equipe.
Esthério ainda lembrou da situação do leite e do cacau, exemplos
didáticos do prejuízo que a importação pode causar. De acordo com o
presidente, mais de 60 municípios capixabas são dependentes da produção de
café e se o recurso deixar de circular nessas cidades, a economia não
desenvolve. “Isso causará desemprego não só na área rural, mas nos
comércios, indústrias e serviços desses municípios”, afirmou.
Já para a indústria de café solúvel, o pedido de abertura de mercado é
em regime drawback – quando a importação é isenta de impostos, mas que
exige que o processo seja unicamente para fabricação e posterior exportação
do produto. “Para a indústria de café solúvel brasileira, importar é a
última e trabalhosa solução, no entanto inevitável diante do inusitado
quadro de desabastecimento”, pontuou a Associação Brasileira da Indústria
de Café Solúvel (Abics) em relatório emitido em agosto último.
“A gente pode pagar até R$1mil reais na saca de conilon, desde que lá
fora esteja nesse preço também”, relativizou o diretor do SINCS (Sindicato
Nacional das Indústrias de café Solúvel) e da Abics (Associação Brasileira
da Indústria de Café Solúvel), Aguinaldo Lima, em entrevista exclusiva ao
CaféPoint, em dezembro passado.
As informações partem do CaféPoint.
Revisão: Fábio Rübenich (fabio@safras.com.br) / Agência SAFRAS