Made in Brazil: O café com selo de qualidade que conquista o mundo

Investimento em tecnologia, conhecimento e muita água no momento certo da produção. Os segredos do grão brasileiro que conquistou fama internacional

23 de janeiro de 2017 | Sem comentários Cafés Especiais Produção

O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café. Só no ano passado, a safra brasileira alcançou 43,24 milhões de sacas, sendo 37,1 milhões delas enviadas para o mercado externo, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). E um dos segredos da maioria desse grão que conquista os exigentes paladares, principalmente, dos Estados Unidos, Alemanha, Itália, Japão e Bélgica, está no investimento em tecnologia irrigante pelos agricultores.


É o caso do senhor Fernando Martins de Barros, um dos mais conhecidos produtores na região da Alta Mogiana, no interior de São Paulo. Todo café da fazenda é produzido embaixo do pivô. Atualmente, são 420 hectares irrigados com seis equipamentos, garantindo uma produção de 56 sacas/ha na área colhida. “Na época do meu avô, ele colhia na fazenda inteira entre 8 e 10 mil sacas, o que hoje eu produzo embaixo de um só pivô”, comemora o agricultor.


Fernando Martins trabalha há cerca de 20 anos ao lado dos filhos, Gustavo e Felipe, formados, respectivamente, em engenharia agronômica e administração de empresa. Já é quarta geração criada sob os pés de café. Hoje 100% da produção vai para o exterior, principalmente, para a Alemanha e Itália. O certificado UTZ Certified Good Inside para exportação veio em 2007, com mais de 40 itens avaliados. E a irrigação é um dos fatores importantes para garantia da qualidade para o mercado externo. “O grão irrigado, via pivô, fica mais graúdo e com mais qualidade. É, sem dúvida, uma das culturas que mais responde a irrigação”, ressalta o produtor.


Na fazenda são produzidas variedades de café como Mundo Novo, Tupi, Catuaí, Catucaí e Ubatã, sendo que esse último só pode, realmente, ser produzido embaixo do pivô.


Já nas Fazendas Santa Lúcia e Santa Rosalia, na região de Araxá (MG), geridas pelo grupo AC Café, entre dezenas de variedades o carro-chefe é a qualidade Bourbon, que chega a ser vendida, em média, por R$800,00 a saca de 60kg. Os grãos produzidos pela companhia vão para países como Estados Unidos, Inglaterra, Japão, França, Coréia do Sul e Alemanha. “A gente manda amostra, o cliente prova, vê o aspecto e confere a qualidade. A partir do ok começa a negociação e a exportação”, explica Willian Lucas Ribeiro, gerente de Operações do Grupo AC Café, contando que, além disso, a empresa também é responsável por todo café comercializado por grandes redes no Brasil, como McDonald, Grupo Graal, Rei do Mate, entre outras.


A história do grupo AC Café começou om o senhor Arlindo Conde há 55 anos, com apenas 160 hectares. Atualmente, o negócio é presidido pelo neto Daniel Conde e conta com investimentos do grupo Pátria. A plantação de café já atinge mais de 3.800 hectares, que garantem uma produção total média de 100 mil sacas/ano. Ao todo, são mais de 400 pessoas empregadas diretamente pela companhia, incluindo a equipe de campo e a envolvida na torrefação em quatro cidades diferentes.


20 anos com café irrigado na região da Alta Mogiana


O sistema que aumentou em 50% a produtividade da Fazenda São José, além de facilitar o manejo e garantir mais produtividade


A Fazenda São José, em Nuporanga (SP), possui plantação de café desde 1830. Durante esses quase 200 anos de história a lavoura passou por várias transformações. A mais importante delas, sem dúvida, foi o início da implantação de pivôs centrais há cerca de 20 anos.


O proprietário Fernando Martins de Barros conta que, na época, começava um movimento por todo o país de tecnificação agrícola, com implantação de sistemas irrigantes por grandes produtores. “E eu fui aconselhado a procurar a então Asbrasil, hoje Valley, para instalar meu primeiro pivô”, recorda, ressaltando que a boa assistência técnica e a qualidade de reposição de peças foram fundamentais para a fidelização.


Com a irrigação a produtividade já cresceu 50%. E, com o passar do tempo, os produtores se profissionalizaram ainda mais no sistema, adotando uma consultoria técnica específica que ajudou na economia da água e energia, além de um incremento de 10% na produção. “O segredo de um bom café está na irrigação e num bom ‘pós-colheita’. Hoje, a uma altitude de 810m, conseguimos produzir um grão com a mesma qualidade que fazendas situadas em regiões com mais de 1100m”, afirma o agricultor, destacando que também investiu em outras ferramentas como o terreiro suspenso, que é uma tela, sem contato com o chão, para a secagem do grão.


“Com a irrigação conseguimos planejar a poda e manter uma produção anual certa, sem variação, driblando a bianualidade do cafeeiro”, comenta Felipe Lima de Barros, engenheiro agrônomo, acrescentando que outra vantagem foi em relação à adubação do solo. “O processo ficou mais rápido e eficiente. Conseguimos parcelar melhorar essa adubação, diminuir a acidez do solo e ter a garantia de resultado, já que a terra recebe água ao mesmo tempo”, comemora.


R$ 6 mil a mais por hectare


Produtividade de fazendas do grupo AC Café comprova a vantagem econômica do investimento em irrigação


 A plantação da AC Café conta com mais de 3.800 hectares divididos entre as Fazendas Santa Lúcia e Santa Rosalia, na região de Araxá (MG). Destes, 1100 hectares são irrigados com 17 pivôs Valley, o que garante mais produção e lucratividade para o negócio.


Atualmente, a produtividade do café irrigado é de 10 sacas a mais por hectare/ano, em comparação com o sequeiro. Com isso, conforme explica Willian Lucas Ribeiro, gerente de Operações do grupo AC Café, o payback, ou seja, o pagamento do investimento é feito em apenas duas safras.


Depois desse período, o custo do sistema (incluindo manutenção do pivô e energia elétrica) representa apenas uma saca/hectare/ano. Nesta matemática, o produtor garante nove sacas a mais, o que representa cerca de R$6 mil de lucro extra por hectare/ano.


A matemática é tão atrativa que o Grupo AC Café está envolvido em um planejamento, juntamente com a equipe Valley, para um salto da extensão da área irrigada. “A intenção é chegar a, no mínimo, 80% da produção irrigada, colocando pivôs em toda área possível”, comenta o gerente, lembrando que a meta ousada deve ser atingida nos próximos 10 anos.


O sistema de irrigação começou a ser implantado nas fazendas do grupo em 2001. E, atualmente, 30% do café é produzido embaixo de pivôs.


A irrigação como garantia da qualidade


Durante três etapas da produção, a água no momento e na quantidade corretos garantem um grão superior


O grão do café possui três estágios determinados: verde, cereja e seco, sendo a segunda etapa a mais idealizada por todo produtor e por todo consumidor. O grão cereja representa a maturação ideal de café, concentra maior quantidade de açúcar e melhor sabor, e, por isso, é o mais valorizado do mercado.


Conseguir uma maior quantidade desse tipo de grão é a grande meta nas fazendas, e um dos segredos para atingi-la se resume em água na quantidade correta e no momento certo. Na verdade, em três momentos certos: na floração, pós-florada e na granação.


Willian Lucas Ribeiro, gerente de Operações do Grupo AC, explica que a primeira etapa, entre agosto e setembro, após um período seco, as plantas recebem um “estresse hídrico” para formação das gemas uniformes. “No café sequeiro, temos entre duas e três floradas desuniformes. Já na área irrigada temos uma só florada, maior e uniforme, o que possibilita a colheita futura de mais grãos cerejas”, explica.


Depois da florada também não pode faltar água. Os quinze primeiros dias após o aparecimentos das flores são decisivos para a garantia de produção. A terceira fase, em que a água é fundamental, é a granação entre janeiro e fevereiro. “Neste período, muitas vezes temos veranico e, se não tivermos irrigação, o grão não se forma completamente, fica deficiente, o que influi basta na qualidade”, conta Ribeiro.


Vale destacar que as fazendas contam com assessoria técnica da Irriger para definição do volume de água a ser utilizado em todas essas etapas de produção. A necessidade é analisada diariamente, com base em mais de 50 variáveis como umidade do ar. “A irrigação é uma carta na manga para garantir qualidade e produtividade. Mesmo que chova, às vezes, a água não aparece na quantidade necessária para a lavoura”, conclui.

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