Do plantio à xícara, o café brasileiro persegue cada vez mais a identidade dos cafés especiais. A variedade de origens e especificidades de grãos e cafés embalados aumenta cada vez mais, na busca pela diferenciação para todos os mercados e expectativas d
A Semana Internacional do Café, que acaba de se encerrar, ocorrida em Belo Horizonte, reuniu produtores, torrefadores e diversos outros atores da cadeia produtiva do café e da sua indústria. Durante três dias, o encontro recebeu um grande e diversificado público que teve acesso a uma intensa e ampla programação, da qual eu gostaria de realçar quatro temas.
Inicialmente, como de costume, a qualidade do café e sua bebida mantiveram-se com grande importância na programação e na exposição. Do plantio à xícara, o café brasileiro persegue cada vez mais a identidade dos cafés especiais. A variedade de origens e especificidades de grãos e cafés embalados aumenta cada vez mais, na busca pela diferenciação para todos os mercados e expectativas de consumidores.
Em segundo lugar, a sustentabilidade foi um tema central, posicionando-se como um complemento à qualidade e também, intencionalmente, um diferencial no mercado internacional. As experiências e casos de sucesso aumentam, enquanto as diversas certificações seguem como uma das principais referências e instrumentos para a inovação, implementação e garantia da tal sustentabilidade social e ambiental; incluindo sistemas públicos, como o Certifica Minas, com mais de 1500 propriedades certificadas, sendo a maioria de pequenos produtores.
O aumento das experiências vem acompanhado de uma maior maturidade de produtores e de toda a cadeia sobre as oportunidades e os benefícios da sustentabilidade e certificação, sem expectativas ilusórias de grandes prêmios de mercado, como ocorreu na fase pioneira e de nicho dos certificados. As outras vantagens econômicas, tangíveis e intangíveis, são cada vez mais reconhecidas por produtores. Estudos têm mostrado que o aumento de produtividade, a diminuição de custos e uma maior eficiência têm sido resultados da certificação e da adoção de uma gestão profissional e integrada e que isto tem implicado em vantagens econômicas maiores que os prêmios de mercado.
Outro destaque foi a presença e visibilidade cada vez maior de pequenos produtores e agricultores familiares, tanto nos espaços de café de qualidade, quanto de sustentáveis. Afinal, produtores com plantios de até café 20 há de café são responsáveis por 50% da safra brasileira e este grupo começa a participar da espiral de inovação e diferenciação. Projetos coletivos de associações de produtores ou cooperativas de diversas regiões do país estiveram presentes no evento, variando de geografias muito distintas, como do Sul de Minas Gerais, Rondônia e Espírito Santo.
Por trás destes casos de sucesso estão eficientes programas de assistência técnica e extensão rural desenvolvidos e oferecidos em diferentes arranjos por organizações como as EMATERs de Minas Gerais, Paraná e Rondônia, INCAPER, Educampo-SEBRAE e SENAR. Estes programas estão diariamente no campo, com técnicos e outros recursos que têm sido o motor da inovação e fortalecimento de pequenos produtores de café e a sua sobrevivência com dignidade e protagonismo em um período que a agricultura brasileira segue se concentrando. Estes casos devem ser multiplicados e inspirar uma nova era para a assistência técnica pública e público-privada no Brasil.
Finalmente, o papel das mulheres do café esteve presente em importantes atividades da programação, com casos concretos de liderança na organização no setor. Está em construção a Aliança Internacional das Mulheres do Café que deve, cada vez mais, evidenciar para a sociedade o protagonismo feminino para a inovação do setor.
Luís Fernando Guedes Pinto é Engenheiro Agrônomo e gerente de certificação agrícola do Imaflora.